A Primeira Epístola a Timóteo, redigida em grego koiné, integra o conjunto das cartas pastorais do Novo Testamento, ao lado de 2 Timóteo e Tito. Tradicionalmente atribuída a Paulo de Tarso, é endereçada a Timóteo, seu colaborador em Éfeso, com orientações sobre a administração eclesiástica e a defesa da sã doutrina. Preservada em manuscritos como o Papiro de Oxirrinco 5259 (século IV), Codex Sinaiticus (330-360 d.C.) e Codex Alexandrinus (400-440 d.C.), a carta reflete um contexto de combate a ensinos heréticos. Embora a autoria paulina seja afirmada no texto (1 Timóteo 1:1), a maioria dos estudiosos modernos a considera pseudepigráfica, datando-a entre o final do século I e meados do século II, devido a diferenças lexicais (306 palavras ausentes nas epístolas paulinas autênticas), estilo literário distinto e uma estrutura eclesiástica mais desenvolvida. Defensores da autoria paulina, como Marshall e Towner, apontam citações em Policarpo (c. 130 d.C.) como evidência de circulação precoce. A epístola, com seis capítulos, foca na organização da Igreja, nos deveres de líderes e na fidelidade à verdade cristã, enraizada na esperança da salvação.
O texto estrutura-se em instruções práticas e doutrinárias. O capítulo inicial exorta Timóteo a combater falsos mestres em Éfeso, definindo o uso correto da lei contra pecadores (1 Timóteo 1:3-11), com menção ao termo grego ἀρσενοκοίτης, cuja tradução é debatida (1 Timóteo 1:10). Os capítulos 2 e 3 delineiam normas para o culto público, incluindo papéis de homens e mulheres (1 Timóteo 2:8-15), e qualificações para bispos e diáconos, enfatizando conduta respeitável (1 Timóteo 3:1-13). O capítulo 4 alerta contra a apostasia, promovendo exercícios espirituais (1 Timóteo 4:1-16), enquanto o capítulo 5 estabelece diretrizes para o cuidado de viúvas, limitando apoio a idosas que priorizam a família (1 Timóteo 5:3-16), e para a honra aos presbíteros (1 Timóteo 5:17-25). O capítulo 6 orienta escravos a respeitarem seus senhores (1 Timóteo 6:1-2), condena a avareza, afirmando que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1 Timóteo 6:10), e conclui exortando Timóteo a “combater o bom combate da fé” (1 Timóteo 6:12). A citação de um hino cristológico em 1 Timóteo 3:16 reforça a centralidade de Cristo. Apesar de dúvidas canônicas iniciais, com exclusão no cânon de Marcião (c. 140 d.C.), a carta foi aceita no século II, como atestam Irineu e o Cânon Muratoriano. Sua mensagem central convoca à ordem eclesiástica, à sã doutrina e à piedade, preparando a comunidade para a missão divina.