John Wycliffe (1328-1384), nascido por volta de 1328 em Hipswell, Yorkshire, e falecido em 31 de dezembro de 1384 em Lutterworth, Leicestershire, foi um teólogo, filósofo escolástico, sacerdote católico e professor da Universidade de Oxford, cuja influência como reformador cristão marcou a história da Igreja. Considerado um precursor do protestantismo, Wycliffe desafiou a autoridade papal e os abusos eclesiásticos, defendendo a supremacia das Escrituras como guia da fé. Sua teoria do domínio divino, que negava a legitimidade de clérigos em pecado mortal para possuir autoridade ou propriedade, propunha a pobreza radical do clero e a secularização dos bens da Igreja. Embora a extensão de seu envolvimento na tradução da Bíblia Vulgata para o inglês médio seja debatida, sua ênfase na acessibilidade das Escrituras inspirou movimentos como o lolardismo e influenciou Jan Hus, consolidando seu legado como um dos primeiros reformadores. Sua produção teológica, incluindo obras como De Civili Dominio e De Veritate Sacrae Scripturae, reflete um rigor acadêmico aliado a uma visão cristã centrada na verdade divina.
Filho de uma família rural, Wycliffe recebeu sua educação inicial perto de casa, ingressando em Oxford por volta de 1345. A Peste Negra de 1348, que devastou a Inglaterra, moldou sua visão crítica do clero, cuja alta mortalidade revelou, para ele, a inadequação de muitos substitutos. Influenciado por Tomás Bradwardine e sua defesa da graça paulino-agostiniana, Wycliffe ordenou-se sacerdote em 1351. Em 1354, encontrou dois valdenses piemonteses, cuja ênfase na pobreza apostólica e na pregação direta do Evangelho ressoou em suas ideias. Em 1356, concluiu o bacharelado em artes no Merton College, publicando The Last Age of the Church, onde, sob o impacto da peste, previu o fim do mundo no século XIV, criticando a corrupção clerical. Tornou-se mestre do Balliol College em 1361, assumindo a paróquia de Fillingham, Lincolnshire, e, em 1362, obteve um prebendo em Aust, Westbury-on-Trym.
Em 1365, foi nomeado diretor do Canterbury Hall por Simon Islip, arcebispo de Canterbury, mas perdeu o cargo em 1366 para um monge, sob Simon Langham. Seu apelo a Roma em 1367 foi rejeitado, refletindo tensões entre clérigos seculares e monges em Oxford. Em 1368, assumiu a reitoria de Ludgershall, Buckinghamshire, mantendo laços com a universidade, onde obteve o bacharelado em teologia em 1369 e o doutorado em 1372. Em 1374, recebeu a paróquia de Lutterworth, que manteve até sua morte. Nesse ano, participou de uma comissão enviada a Bruges para negociar disputas entre o rei inglês e o papa Gregório XI, experiencia que intensificou sua crítica ao poder temporal do clero. Sua obra De Civili Dominio, publicada em 1377, argumentava que a Igreja, em pecado, deveria renunciar à propriedade, com o clero vivendo em pobreza, uma posição que atraiu apoio de nobres como João de Gaunt, mas antagonizou a hierarquia eclesiástica.
As ideias de Wycliffe levaram à sua primeira condenação em 1377, quando Gregório XI emitiu bulas contra 19 teses de De Civili Dominio, acusando-o de ameaçar Igreja e Estado. Convocado pelo bispo de Londres, William Courtenay, Wycliffe foi protegido por Gaunt e outros, evitando punição. Em 1378, defendeu a retenção de pagamentos a Roma perante o conselho real, enquanto em Lambeth, a intervenção da rainha-mãe Joana de Kent impediu uma sentença definitiva. Sua obra De Veritate Sacrae Scripturae reforçou a primazia das Escrituras, afirmando que toda verdade necessária à fé está nelas expressa. A partir de 1380, Wycliffe rejeitou a transubstanciação, defendendo a consubstanciação, onde o pão permanece pão, mas se torna sacramentalmente o corpo de Cristo. Essa posição, articulada em De Eucharistia, custou-lhe o apoio de aliados como Gaunt. No sínodo de 1382, presidido por Courtenay, agora arcebispo de Canterbury, 24 proposições suas foram condenadas, dez como heréticas, relacionadas à Eucaristia, e 14 como errôneas, sobre ordem eclesiástica. Apesar disso, Wycliffe evitou excomunhão, mantendo influência na corte e no Parlamento.
Wycliffe propôs substituir a hierarquia eclesiástica por “sacerdotes pobres”, pregadores itinerantes sem votos formais, que difundiram suas ideias, originando o lolardismo. Embora associado à Revolta dos Camponeses de 1381, ele a desaprovou, mas alguns discípulos justificaram atos radicais. Nos últimos anos, suas obras, como Trialogus e Opus Evangelicum, intensificaram ataques ao papado, equiparando-o ao Anticristo. Sofreu um derrame em 28 de dezembro de 1384, durante a missa, falecendo dias depois. Sua teologia, centrada na predestinação e na Igreja invisível dos eleitos, rejeitava a autoridade papal e monástica, defendendo a intervenção estatal na reforma eclesiástica. Como filósofo, sua lógica em De Logica e realismo em De Universalibus priorizavam a verdade divina sobre especulações escolásticas, influenciadas por Agostinho.
Postumamente, o Concílio de Constança, em 1415, declarou Wycliffe herege, ordenando a queima de seus escritos e a exumação de seus restos, cremados em 1428 e lançados no rio Swift. Sua suposta tradução da Bíblia, conhecida como Bíblia de Wycliffe, foi provavelmente obra de associados como Nicholas de Hereford e John Purvey, mas sua ênfase na autoridade escriturística inspirou o projeto. Como cristão, via a Bíblia como a única norma da fé, rejeitando práticas como indulgências e confissões obrigatórias. Sua administração acadêmica e política revelou habilidade estratégica, enquanto sua influência perdurou nos hussitas e na Reforma. Wycliffe permanece um símbolo de resistência à corrupção eclesiástica e de defesa da verdade evangélica.