A Epístola aos Gálatas, nono livro do Novo Testamento, é uma carta de Paulo de Tarso endereçada às comunidades cristãs primitivas da Galácia, provavelmente a província romana no sul da Anatólia ou a região habitada pelos gálatas, um grupo étnico celta no centro da Ásia Menor. Escrita em grego koiné entre o final dos anos 40 e início dos 50 d.C., possivelmente em 48 d.C., antes do Concílio de Jerusalém (Atos 15), a epístola é preservada em manuscritos como o Papiro 46 (c. 200 d.C.), Codex Vaticanus (325-350 d.C.), Codex Sinaiticus (330-360 d.C.), Codex Alexandrinus (400-440 d.C.) e Codex Ephraemi Rescriptus (c. 450 d.C.). Composta por seis capítulos e 149 versículos, a carta reflete a autenticidade paulina, com estilo e temas consistentes com o corpus central de suas epístolas, como 1 Tessalonicenses e 1 Coríntios. Paulo aborda a controvérsia sobre a relação dos gentios com a Lei mosaica, particularmente a circuncisão, defendendo a justificação pela fé em Cristo e rejeitando o legalismo. A ausência de uma estrutura eclesial desenvolvida sugere uma redação precoce, durante a vida de Paulo, influenciando profundamente a teologia cristã e os estudos paulinos. O texto exorta à liberdade em Cristo, à unidade espiritual e à vida guiada pelo Espírito, fundamentadas na graça divina.
Paulo escreveu às igrejas da Galácia, que visitou em suas viagens missionárias (Atos 13-14), formadas majoritariamente por gentios convertidos em cidades como Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe. Após sua partida, influências judaizantes, possivelmente cristãos judeus, defenderam a necessidade de práticas da Lei, como a circuncisão, questionando a autoridade apostólica de Paulo e apelando à liderança de Tiago em Jerusalém. A epístola responde a essa crise, enfatizando que a salvação vem pela fé em Cristo, não pela Lei, utilizando Abraão como exemplo de fé anterior à circuncisão (Gálatas 3:6-9). O capítulo 2 narra o confronto com Pedro em Antioquia, reforçando a igualdade entre judeus e gentios (2:11-14). Gálatas 3:28, com sua declaração de unidade em Cristo, elimina distinções étnicas, sociais e de gênero, sendo amplamente debatida. A alegoria de Hagar e Sara (4:21-31) contrasta escravidão e liberdade, enquanto os capítulos 5 e 6 exortam à vida no Espírito, listando os frutos do Espírito (5:22-23). Irineu de Lyon destaca que a liberdade em Cristo redefine a identidade dos crentes. A epístola, escrita possivelmente com a própria mão de Paulo no final (6:11), convoca à fidelidade ao Evangelho, rejeitando legalismos e promovendo a nova criação em Cristo.