A Epístola de Judas, penúltimo livro do Novo Testamento, é uma obra breve, porém vigorosa, composta por 25 versículos que exortam os cristãos a defender a fé contra falsos mestres. Escrita em grego koiné, provavelmente no final do primeiro século (c. 90–110 d.C.), o texto é preservado em manuscritos como o Papiro 72 (século III/IV), Papiro 78 (século III/IV), Codex Vaticanus (325–350 d.C.), Codex Sinaiticus (330–360 d.C.) e Codex Alexandrinus (400–440 d.C.). Tradicionalmente atribuída a Judas, identificado como servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago (cf. Judas 1:1), a autoria é debatida, com estudiosos sugerindo pseudepigrafia devido ao estilo sofisticado e à familiaridade com textos apócrifos. A epístola, possivelmente uma carta circular destinada a cristãos judeus, reflete um autor versado em retórica helenística e nas Escrituras hebraicas, além de obras como o Livro de Enoque e a Assunção de Moisés. Seu tom combativo e apocalíptico, aliado a uma doxologia final de elevado valor teológico, reforça a mensagem cristã de perseverança e fidelidade diante de heresias, conectando a Igreja à esperança escatológica refletida na liturgia eucarística.
Judas adverte contra falsos mestres infiltrados na comunidade, que pervertem a graça de Cristo e rejeitam autoridade, possivelmente civil, eclesiástica ou divina (Judas 1:4, 8). A epístola emprega exemplos do Antigo Testamento, como a destruição dos incrédulos no deserto, os anjos caídos e Sodoma e Gomorra (Judas 1:5–7; cf. Números 14, Gênesis 19), para ilustrar o juízo divino. Referências ao conflito entre Miguel e o diabo sobre o corpo de Moisés (Judas 1:9; cf. Assunção de Moisés) e à profecia de Enoque (Judas 1:14–15; cf. 1 Enoque 1:9) destacam a influência de textos apócrifos, sugerindo um público familiar com a tradição judaica. A condenação de oponentes como “nuvens sem água” e “estrelas errantes” (Judas 1:12–13) evoca imagens vívidas, reforçando a urgência de resistir à apostasia. A epístola também apresenta paralelos com 2 Pedro 2, indicando que Judas provavelmente serviu como fonte, dado seu texto mais conciso e estilo direto. A menção de escarnecedores no “último tempo” (Judas 1:18; cf. 2 Pedro 3:3) sublinha a expectativa escatológica cristã.
A canonicidade da epístola foi debatida até o final do século IV, devido à citação de textos apócrifos e à raridade de sua menção em fontes antigas. Figuras como Clemente de Alexandria e Tertuliano a consideraram canônica, e o Concílio de Cartago (c. 397 d.C.) confirmou sua inclusão. A identidade dos oponentes permanece incerta, com hipóteses variando de líderes rebeldes a proto-gnósticos, embora a ausência de doutrinas gnósticas claras enfraqueça essa última teoria. A epístola reflete tensões entre o cristianismo judaico, associado a Tiago, e a tradição paulina, especialmente na crítica à desonra de seres celestiais (Judas 1:8; cf. Colossenses 2:18). Judas conclui com uma doxologia (Judas 1:24–25), celebrando a glória de Deus, que preserva os fiéis. A Igreja é chamada a contender pela fé, mantendo-se firme na esperança da salvação eterna prometida por Cristo.