Isaac Barrow (1630-1677), nascido em outubro de 1630 em Londres e falecido em 4 de maio de 1677 na mesma cidade, foi um eminente teólogo cristão e matemático inglês, cuja obra lançou bases fundamentais para o cálculo infinitesimal e influenciou a ciência e a teologia de sua era. Reconhecido por sua demonstração do teorema fundamental do cálculo e por calcular as tangentes da curva kappa, ele foi o primeiro a ocupar a prestigiada Cátedra Lucasiana de Matemática em Cambridge, posição posteriormente assumida por seu aluno, Isaac Newton. Sua vida foi marcada por uma espiritualidade anglicana profunda, expressa em sermões eloquentes e tratados teológicos, e por contribuições matemáticas que aliaram rigor técnico a uma visão da ordem divina manifestada na natureza. Sua dedicação à verdade, tanto na fé quanto na ciência, fez dele uma figura exemplar do século XVII.
Filho único de Thomas Barrow, um comerciante de tecidos, e Ann Buggin, Isaac perdeu a mãe por volta de 1634 e foi enviado ao avô em Spinney Abbey, Cambridgeshire. Após o segundo casamento de seu pai com Katherine Oxinden, ele foi educado inicialmente na Charterhouse, onde seu temperamento combativo desafiava a disciplina, e depois na Felsted School, sob a orientação do puritano Martin Holbeach. Ali, dominou grego, hebraico, latim e lógica, preparando-se para a universidade. Em 1643, ingressou no Trinity College, Cambridge, beneficiado por um apoio da família Walpole, simpática à sua lealdade realista. Sob a tutela de James Duport, destacou-se em clássicos e matemática, obtendo o grau de bacharel em 1648 e sendo eleito fellow em 1649. Após receber o mestrado em 1652, candidatou-se à cátedra de grego, mas, por recusar assinar o juramento de apoio ao Commonwealth, partiu em 1655 para uma viagem de quatro anos pela França, Itália e Turquia, onde viveu em Izmir e Constantinopla e demonstrou coragem ao salvar um navio de piratas.
Com a Restauração de 1660, Barrow retornou à Inglaterra, foi ordenado sacerdote anglicano e nomeado Professor Regius de Grego em Cambridge. Em 1662, assumiu a cátedra de geometria no Gresham College e, em 1663, tornou-se o primeiro Professor Lucasiano de Matemática. Durante esse período, publicou obras de grande erudição, incluindo edições dos Elementos de Euclides em latim (1655) e inglês (1660), além de tratados sobre geometria e óptica. Em 1669, cedeu a Cátedra Lucasiana a Newton, dedicando-se intensamente à teologia. Nomeado Doutor em Divindade em 1670, tornou-se Mestre do Trinity College em 1672, onde fundou a biblioteca. Seus sermões, caracterizados por uma argumentação eloquente, e seu Tratado sobre a Supremacia do Papa, um marco na polêmica religiosa, refletiam sua fé anglicana e sua rejeição ao autoritarismo papal, enquanto sua vida pessoal era guiada por uma conduta irrepreensível, apesar de excentricidades como o uso constante de tabaco.
As contribuições matemáticas de Barrow foram pioneiras. Suas Lectiones Geometricae (1670) e Lectiones Opticae (1669), revisadas por Newton, abordaram problemas de reflexão e refração da luz, definindo o foco geométrico de pontos refletidos ou refratados. Ele foi o primeiro a calcular a integral da função secante em forma fechada, confirmando uma conjectura da época. Seu método para determinar tangentes, descrito nas Lectiones Geometricae, antecipou o cálculo diferencial, utilizando um triângulo diferencial para relacionar as coordenadas de pontos adjacentes em curvas como a parábola e a kappa. Esse método, semelhante ao de Fermat, envolveu a eliminação de termos infinitesimais de segunda ordem, aproximando-se da derivação moderna. Além disso, Barrow editou e comentou obras de Apolônio, Arquimedes e Teodósio, enriquecendo o estudo da geometria clássica. Sua abordagem metafísica, exposta nas Lectiones Mathematicae (1683), buscava fundamentar verdades matemáticas em princípios universais, refletindo sua crença na harmonia entre razão e criação divina.
Barrow faleceu solteiro aos 46 anos, vítima, segundo o biógrafo John Aubrey, de uma dependência de ópio adquirida na Turquia. Sepultado na Abadia de Westminster, ele deixou um legado duradouro na matemática e na teologia. Sua influência sobre Newton foi significativa, não apenas como mentor, mas também por fornecer ferramentas matemáticas que embasaram o cálculo e a mecânica newtoniana. Seus sermões e escritos teológicos, como as Exposições do Credo e o Tratado sobre a Supremacia do Papa, destacam-se pela clareza e profundidade, defendendo a simplicidade do Evangelho contra dogmas autoritários. Apesar de sua estatura modesta e aparência descuidada, Barrow conquistou respeito por sua inteligência e integridade, sendo lembrado como um scholar cuja obra uniu rigor científico e devoção cristã, contribuindo para a transição da ciência moderna e para a afirmação da fé anglicana em um período de intensas transformações.