Jan Huss (1372-1415), nascido por volta de 1372 em Husinec, no sul da Boêmia, e executado em 6 de julho de 1415 em Constança, foi um teólogo, filósofo e reformador eclesiástico tcheco cuja influência marcou o movimento hussita e antecipou a Reforma Protestante. Ordenado sacerdote católico, Hus destacou-se como pregador em Praga, criticando abusos da Igreja, como a simonia, a venda de indulgências e a supremacia papal, enquanto defendia uma ecclesia centrada em Cristo e na Escritura. Mestre, decano e reitor da Universidade Carlos de Praga entre 1409 e 1410, sua teologia, influenciada por John Wycliffe, desafiou a hierarquia eclesiástica, levando à sua excomunhão, prisão e morte na fogueira por heresia. Sua coragem cristã e rigor acadêmico inspiraram os hussitas, que resistiram a cinco cruzadas papais entre 1420 e 1431, mantendo a Boêmia majoritariamente hussita até o século XVII. A obra de Hus, incluindo tratados como De Ecclesia, reformulou a ortodoxia tcheca e consolidou sua posição como um dos primeiros reformadores da Igreja.
Filho de camponeses, Hus cresceu em um ambiente modesto, com poucos detalhes conhecidos sobre sua infância. Seu pai chamava-se Michael, mas o nome de sua mãe é desconhecido; sabe-se apenas que tinha um irmão, pois Hus mencionou preocupações com seu sobrinho antes de sua execução. Aos dez anos, foi enviado a um mosteiro, possivelmente por devoção ou após a morte de seu pai. Seu desempenho acadêmico levou-o a Praga, onde trabalhou para sustentar-se, aproveitando a Biblioteca de Praga. Em 1393, ingressou na Universidade de Praga, obtendo o bacharelado em artes e, em 1396, o mestrado. Influenciado pelo antipapalismo de seus professores, Hus começou a questionar a autoridade eclesiástica, moldando suas futuras posições reformistas. Durante os estudos, complementava sua renda como menino de coro, demonstrando dedicação tanto à fé quanto ao aprendizado.
Ordenado sacerdote em 1400, Hus começou a ensinar na Universidade de Praga em 1398, defendendo publicamente proposições de Wycliffe a partir de 1399. Nomeado decano em 1401 e reitor em 1402, tornou-se pregador na Capela de Belém, onde criticava a corrupção clerical e promovia a língua tcheca em seus sermões. Traduziu o Trialogus de Wycliffe, disseminando ideias reformistas apesar da proibição de 1403. O arcebispo Zbyněk Zajíc inicialmente tolerou Hus, mas, sob pressão papal, emitiu decretos contra Wycliffe em 1405. A divisão da universidade pelo Cisma Ocidental de 1408, com dois papas rivais, intensificou as tensões. Hus liderou a nação tcheca na universidade, apoiando a neutralidade exigida pelo rei Venceslau IV. O Decreto de Kutná Hora, em 1409, concedeu aos tchecos três votos contra um das nações alemãs, causando a saída de professores germânicos e acusações de heresia boêmia.
Em 1409, o antipapa Alexandre V, eleito no Concílio de Pisa, excomungou Hus por sua ligação com o wycliffismo, ordenando a queima de livros e a proibição de pregações livres. Hus apelou em vão ao papa, e a excomunhão foi reforçada em 1410. A proclamação de uma cruzada contra Nápoles pelo antipapa João XXIII, em 1411, financiada por indulgências, provocou a oposição de Hus, que condenou a prática como contrária à verdadeira penitência. Em 1412, sua Quaestio de indulgentiis, baseada em Wycliffe, gerou tumultos; três de seus seguidores foram decapitados por denunciar as indulgências, tornando-se os primeiros mártires hussitas. A universidade condenou 45 artigos de Wycliffe e teses de Hus, mas este exigiu provas bíblicas de sua heresia. Tentativas de reconciliação, como o sínodo de Český Brod em 1412, falharam, com Hus rejeitando a supremacia papal e apelando a Cristo como juiz supremo em 18 de outubro de 1412, um marco para a Reforma Boêmia.
Exilado em 1412 para proteger Praga de um interdito, Hus escreveu em tcheco para clérigos rurais, abordando fundamentos da fé cristã. Seu tratado De Ecclesia, de 1413, escrito no castelo de Kozí Hrádek, ecoava Wycliffe, definindo a Igreja como a comunidade dos predestinados, com Cristo, não o papa, como cabeça. Enviado a Praga, o texto foi lido na Capela de Belém, consolidando o wycliffismo boêmio. Convocado ao Concílio de Constança em 1414, sob promessa de salvo-conduto do rei Sigismundo, Hus chegou em 3 de novembro, mas foi preso em 28 de novembro, acusado de planejar fuga. Transferido entre prisões, enfrentou condições severas, acorrentado e mal alimentado. Julgado em junho de 1415, recusou-se a retratar-se, exigindo provas bíblicas de seus erros. Em 6 de julho, condenado por heresia, foi despojado de suas vestes sacerdotais e queimado vivo, orando por seus inimigos e afirmando sua fé no Evangelho.
A execução de Hus inflamou a Boêmia, com 100 notáveis assinando a Protestação Boêmia em 1415, denunciando sua morte. Os hussitas, liderados por figuras como Jan Žižka, derrotaram cinco cruzadas papais, mantendo a predominância hussita até a derrota na Batalha da Montanha Branca em 1620, que impôs a recatolização. A teologia de Hus, centrada na Escritura e na rejeição de abusos eclesiásticos, influenciou Lutero e a Reforma. Seus esforços na ortografia tcheca, introduzindo diacríticos como o háček, revolucionaram a língua escrita. Como cristão, via a Igreja como um corpo espiritual, guiado por Cristo, e sua administração acadêmica reflete precisão organizacional. Em 1999, João Paulo II expressou pesar por sua morte, reconhecendo sua coragem moral. Hus permanece um ícone da identidade tcheca, celebrado como mártir e herói nacional.