Inácio de Loyola (1506-1552), nascido Íñigo López de Loyola em 1491, em Azpeitia, no País Basco, e falecido em 31 de julho de 1556, em Roma, aos 65 anos, foi um nobre, soldado, sacerdote e fundador da Companhia de Jesus, uma ordem religiosa que desempenhou papel central na Contrarreforma. Como primeiro superior geral dos jesuítas, Inácio estruturou uma organização marcada pelos votos de pobreza, castidade, obediência e um compromisso especial de fidelidade ao papa, direcionando seus membros para missões globais. Sua espiritualidade, expressa nos Exercícios Espirituais, publicados em 1548, enfatizava o discernimento e a busca pela vontade divina, influenciando profundamente a prática cristã. Canonizado em 1622 por Gregório XV, ao lado de figuras como Francisco Xavier, foi declarado patrono dos exercícios espirituais por Pio XI em 1922, deixando um legado que combina rigor técnico na administração religiosa com uma visão mística enraizada na fé.
Filho caçula de Beltrán de Oñaz e Marina Sánchez de Licona, Inácio cresceu em uma família nobre com oito irmãos e cinco irmãs, em Loyola. Sua juventude foi marcada pela ambição cavalheiresca: treinado como escriba em Arévalo, na casa do contador real Juan Velázquez de Cuéllar, entre 1504 e 1507, e depois como gentil-homem do duque de Nájera, vice-rei de Navarra, Inácio buscava glória nas armas. Em 1515, envolveu-se em um conflito violento contra clérigos em Azpeitia, mas escapou de punição. Sua vida mudou drasticamente em maio de 1521, durante a defesa de Pamplona contra forças franco-navarras. Ferido gravemente por uma bala de canhão que lhe quebrou uma perna, enfrentou cirurgias dolorosas em Loyola. Durante a convalescença, a leitura de Vita Christi, de Ludolfo de Saxônia, e Flos Sanctorum, de Santiago de la Vorágine, despertou sua conversão. Inspirado pelos santos, decidiu abandonar as vaidades mundanas e peregrinar a Jerusalém, comprometendo-se a uma vida de penitência.
Em 1522, Inácio iniciou sua transformação espiritual. No santuário de Aránzazu, fez um voto de castidade, e em Montserrat, confessou-se exaustivamente, trocando suas vestes nobres por trajes de peregrino. Em Manresa, durante onze meses, viveu no Hospital de Santa Lucía, rezando numa cueva junto ao rio Cardener. Ali, teve experiências místicas, como a Ilustração do Cardener, que o levou a escrever os Exercícios Espirituais, uma metodologia de oração e discernimento que se tornaria pedra angular da espiritualidade jesuíta. Em 1523, peregrinou a Jerusalém, visitando locais sagrados como o Santo Sepulcro e o Monte dos Olivos, mas foi impedido de permanecer pelos franciscanos. De volta à Espanha, decidiu estudar para melhor servir a Deus, iniciando estudos de latim em Barcelona, com apoio de benfeitores como Isabel Roser, e depois em Alcalá de Henares e Salamanca, onde enfrentou suspeitas da Inquisição por pregar sem formação teológica formal.
Em 1528, Inácio mudou-se para Paris, estudando humanidades no Collège de Montaigu e filosofia no Collège de Sainte-Barbe, onde conheceu Pedro Fabro e Francisco Xavier. Em 1534, com seis companheiros, fez votos de pobreza, castidade e missão em Montmartre, lançando as bases da Companhia de Jesus. Após obter o título de Mestre em Artes, estudou teologia por um ano e meio, mas não concluiu. Em 1537, ordenado sacerdote em Veneza, planejou nova peregrinação a Jerusalém, frustrada pela guerra contra os otomanos. Em Roma, enfrentou acusações de heresia, mas foi absolvido em 1538, ganhando a confiança do papa Paulo III. Em 1539, Inácio e seus companheiros deliberaram sobre a criação da Companhia de Jesus, aprovada em 1540 pela bula Regimini militantis Ecclesiae. Eleito superior geral em 1541, relutantemente aceitou o cargo após reflexão e confissão, liderando a ordem por quinze anos.
Sob sua liderança, a Companhia de Jesus expandiu-se rapidamente, com mais de mil membros, cem casas e doze províncias até sua morte. Inácio estruturou as Constituições da ordem, redigidas entre 1541 e 1556, definindo regras para formação, missão e administração. Em Roma, fundou instituições como a Casa de Santa Marta, para mulheres em vulnerabilidade, e o Colégio Romano, precursor da Universidade Gregoriana. Como cristão, Inácio via a obediência ao papa como um chamado divino, e seus Exercícios Espirituais, aprovados por Paulo III, ofereciam um caminho para alinhar a vontade humana à de Deus. Sua preocupação com os pobres, conversos judeus e órfãos reflete uma caridade prática, enquanto sua defesa da Inquisição em Roma, em 1542, mostrava seu compromisso com a ortodoxia católica. Faleceu em sua cela jesuíta, vítima de uma doença vesicular, e seus restos, trasladados para a Igreja do Gesù, são venerados até hoje. Inácio de Loyola permanece um ícone de disciplina espiritual e inovação religiosa, unindo técnica organizacional e devoção profunda.