A Epístola aos Efésios, décimo livro do Novo Testamento, escrita em grego koiné, é tradicionalmente atribuída a Paulo de Tarso, composta durante sua prisão em Roma por volta de 62 d.C. Contudo, estudiosos modernos, observando diferenças estilísticas, lexicais e escatológicas em relação às epístolas paulinas autênticas, sugerem autoria pseudepigráfica por um discípulo entre 70 e 100 d.C. Preservada em manuscritos como o Papiro 46 (c. 200 d.C.), Codex Sinaiticus (330-360 d.C.) e Codex Alexandrinus (400-440 d.C.), a epístola carece de referências internas a Éfeso em manuscritos mais antigos, como o Papiro 46, sugerindo que pode ter sido uma carta circular destinada a várias igrejas. A ausência de saudações pessoais, incomum para uma cidade onde Paulo esteve por três anos (Atos 19:10), reforça essa hipótese. O texto, com seis capítulos e 155 versículos, é estruturado em duas partes principais: uma seção doutrinária (capítulos 1–3) e uma exortativa (capítulos 4–6), centrando-se na graça divina, na unidade da Igreja e na vida cristã prática. A epístola reflete paralelos com o discurso de Paulo aos presbíteros de Éfeso em Mileto (Atos 20:17-38), como a humildade (Atos 20:19; Efésios 4:2) e o plano divino (Atos 20:27; Efésios 1:11). A Igreja é apresentada como corpo de Cristo, unindo judeus e gentios pela cruz, com vistas à glória eterna. A menção de Marcião, que possivelmente identificou a epístola como dirigida aos laodicenses, e a familiaridade de Inácio de Antioquia com o texto corroboram sua circulação precoce.
O contexto histórico da epístola está vinculado à fundação da igreja em Éfeso, descrita em Atos 18:19-21 e 19:1-10, onde Paulo, após uma breve visita, estabeleceu uma forte presença missionária por três anos, expandindo o Evangelho pela Ásia Menor. A epístola aborda a vocação cristã, enfatizando a salvação pela graça mediante a fé (Efésios 2:8) e a reconciliação universal em Cristo (Efésios 2:14-16). Os capítulos 1 a 3 exploram as bênçãos espirituais, o mistério da salvação estendido aos gentios e a oração pela fortaleza espiritual dos crentes. Os capítulos 4 a 6 exortam à unidade eclesial, à santidade prática e à resistência espiritual, culminando na metáfora da armadura de Deus (Efésios 6:10-20). O código doméstico (Efésios 5:22–6:9), que orienta relações entre esposos, pais, filhos, senhores e escravos, reflete a ética cristã adaptada ao contexto do século I, embora Efésios 6:5 tenha sido historicamente mal interpretado para justificar a escravidão no Sul dos Estados Unidos. Teólogos como Katharine Bushnell defendem a submissão mútua (Efésios 5:21) como chave interpretativa, enquanto outros, como Peter O’Brien, veem a submissão conjugal como unilateral. A epístola conclui com uma bênção de paz e amor (Efésios 6:23-24), enraizando a vida cristã na graça divina e na unidade com Cristo.