A Segunda Epístola de Pedro, composta em grego koiné, é o vigésimo-sexto livro do Novo Testamento, tradicionalmente atribuído a Simão Pedro, apóstolo de Jesus, embora a maioria dos estudiosos modernos a considere pseudepígrafa, escrita por um discípulo de Pedro entre 60 e 150 d.C. Preservada em manuscritos como o Papiro 72 (século III/IV), Codex Vaticanus (325-350 d.C.) e Codex Sinaiticus (330-360 d.C.), a epístola dirige-se a cristãos da Ásia Menor, possivelmente os mesmos de 1 Pedro (1 Pedro 1:1). Seu estilo elevado, com características da retórica asiática, contrasta com a simplicidade de 1 Pedro, levantando debates sobre sua autoria. A datação varia, com propostas entre 60 e 90 d.C. (Bigg, Green) e até 130-150 d.C. (Brown, Harris), baseadas em evidências internas como a referência às epístolas paulinas como “Escritura” (2 Pedro 3:16) e a menção à morte iminente de Pedro (2 Pedro 1:14). A relação com a Epístola de Judas é notável, compartilhando passagens (e.g., 2 Pedro 2:1-3:3 com Judas 4-18), sugerindo que 2 Pedro adapta Judas ou uma fonte comum. A epístola foca na exortação à santidade, na refutação de falsos mestres e na esperança escatológica, com onze alusões ao Antigo Testamento, como a citação de Provérbios 26:11 (2 Pedro 2:22) e Salmo 90:4 (2 Pedro 3:8).
O texto estrutura-se em três capítulos: o primeiro enfatiza a cristologia, com a vocação divina e a Transfiguração como garantia da Parusia (2 Pedro 1:16-18); o segundo denuncia falsos mestres, comparando-os a anjos caídos, Noé e Ló (2 Pedro 2:4-8), e condena sua apostasia (2 Pedro 2:20-22); o terceiro aborda a escatologia, refutando a negação da vinda de Cristo e incentivando a vigilância (2 Pedro 3:9-13). A menção às cartas de Paulo como Escritura (2 Pedro 3:15-16) indica sua circulação prévia, sugerindo uma data posterior a 60 d.C. A autenticidade é questionada devido a diferenças estilísticas com 1 Pedro (38,6% de vocabulário comum) e à sofisticação linguística, incomum para um pescador galileu (Atos 4:13). Defensores da autoria petrina, como Schreiner, apontam para o uso de amanuenses diferentes, enquanto críticos, como Ehrman, destacam a improbabilidade de Pedro dominar o grego asiático. A epístola foi aceita no cânon no século IV, apesar de dúvidas iniciais registradas por Orígenes e Eusébio, que a listaram como “disputada”. Sua mensagem central é a chamada à santidade, fundamentada na revelação apostólica, para preparar os cristãos para os “novos céus e nova terra” (2 Pedro 3:13), vivendo em retidão e esperança.