Jesus Cristo, o Filho de Deus.
¹Deus, que em muitos momentos e de diversas maneiras falou no passado aos pais por meio dos profetas, ²nestes últimos dias falou a nós por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, por quem também fez os mundos. ³Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustenta todas as coisas pela palavra do Seu poder. Depois de ter purificado os nossos pecados, assentou-Se à direita da Majestade nas alturas, ⁴tendo-Se tornado tão superior aos anjos quanto herdou um nome mais excelente do que eles.
O Filho é maior que os anjos.
⁵Pois a qual dos anjos Deus disse alguma vez: "Você é meu Filho, hoje eu o gerei"? E outra vez: "Eu serei Pai para ele, e ele será Filho para mim"? ⁶E novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz: "Todos os anjos de Deus o adorem".
⁷Quanto aos anjos, ele diz: "Faz dos seus anjos ventos, e dos seus servos labaredas de fogo".
⁸Mas ao Filho, ele diz: "O Teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro do Teu Reino.
⁹Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso Deus, o Teu Deus, Te ungiu com o óleo da alegria como a nenhum dos Teus companheiros".
¹⁰E também: "No princípio, Senhor, fundaste a terra, e os céus são obras das tuas mãos. ¹¹Eles perecerão, mas você permanece; todos envelhecerão como uma veste; ¹²e como manto os enrolarás, e serão mudados; mas você é o mesmo, e os teus anos jamais terão fim".
¹³E a qual dos anjos ele disse alguma vez: "Sente-se à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés"? ¹⁴Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor dos que hão de herdar a salvação?
A epístola aos Hebreus inicia-se com uma poderosa declaração teológica sobre a revelação divina. Desde os tempos antigos, Deus comunicou-se com Israel por meio dos profetas, utilizando variadas formas, como sonhos, visões e mensagens angélicas. Contudo, nos últimos dias, a revelação culminante se deu por meio de seu Filho, Jesus Cristo, cuja preeminência transcende todas as criaturas celestiais, incluindo os anjos, que na tradição judaica ocupam lugar próximo a Deus. Esse prólogo, ou exórdio, estabelece o tom da epístola, enfatizando a supremacia do Filho como herdeiro de todas as coisas e agente da criação do universo, conforme ecoado em Salmos 2:7-8.
O texto, originalmente redigido em grego koiné, é preservado em manuscritos antigos como o Papiro 46 (séculos II-III), Codex Vaticanus (325-350 d.C.) e Codex Sinaiticus (330-360 d.C.), testemunhando sua relevância na igreja primitiva. A argumentação do autor é enriquecida por citações do Antigo Testamento, como Salmos 2:7, 45:6-7, 97:7, 102:25-27 e 110:1, que fundamentam a exaltação de Cristo. Em Hebreus 1:3-4, o Filho é descrito como o resplendor da glória divina e a imagem exata de sua essência, sustentando todas as coisas pelo poder de sua palavra. Após cumprir a purificação dos pecados, ele se assentou à destra da Majestade nas alturas, posição que sublinha sua autoridade suprema, superior à dos anjos, conforme reforçado por Salmos 110:1.
A superioridade de Cristo sobre os anjos é ulteriormente explorada em Hebreus 1:5-14, onde o autor tece uma cadeia de citações bíblicas para afirmar a divindade e o reinado eterno do Filho. Salmos 45:6-7, por exemplo, é aplicado cristologicamente, declarando o trono de Cristo como eterno e seu cetro como símbolo de justiça. Essa interpretação, incomum em textos judaicos da época, foi adotada por pais da igreja como Justino Mártir e Orígenes, que viam em tais passagens a confirmação da messianidade de Jesus. A citação de Salmos 102:25-27 destaca a imutabilidade de Cristo, em contraste com a transitoriedade da criação, enquanto Salmos 110:1 reforça sua posição de domínio, jamais atribuída a anjos. Assim, Hebreus 1 estabelece Cristo como a revelação definitiva de Deus, cuja glória e autoridade superam todas as ordens celestiais, convocando os leitores à adoração e à obediência ao Filho entronizado.
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