A Igreja Católica, pilar importante do cristianismo, reúne entre 1,27 e 1,41 bilhão de fiéis batizados em 2025, configurando-se como a maior comunhão cristã do mundo. Com raízes que remontam a dois milênios, sua influência moldou a civilização ocidental, marcando a filosofia, as artes, o direito e a educação. Estruturada em 24 igrejas autônomas, sendo a Igreja Latina a principal e acompanhada por 23 Igrejas Católicas Orientais, ela se organiza em cerca de 3.500 dioceses e eparquias ao redor do globo, cada uma conduzida por bispos. No vértice dessa estrutura está o papa, bispo de Roma, que governa como pastor supremo a partir da Santa Sé, em Vatican City, um enclave soberano na capital italiana.
Os fundamentos da fé católica encontram-se no Credo Niceno, que proclama a Igreja como una, santa, católica e apostólica, instituída por Jesus Cristo por meio de sua Grande Comissão. A Igreja sustenta que seus bispos são sucessores dos apóstolos, com o papa como herdeiro de São Pedro, a quem Cristo conferiu primazia. Ela afirma preservar a fé original dos apóstolos por meio das Sagradas Escrituras e da Tradição Sagrada, interpretadas com autoridade pelo magistério, o ofício docente da Igreja. Essa unidade doutrinal manifesta-se em diversas tradições litúrgicas, como o Rito Romano da Igreja Latina e os ritos próprios das Igrejas Orientais, além das práticas espirituais de ordens mendicantes, comunidades monásticas e associações laicas voltadas à caridade.
No coração do culto católico está a Eucaristia, celebrada na Missa, onde o pão e o vinho, pela consagração sacerdotal, tornam-se o corpo e o sangue de Cristo, um mistério chamado transubstanciação. A Igreja administra sete sacramentos — Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção dos Enfermos, Ordens Sagradas e Matrimônio —, considerados canais da graça divina estabelecidos por Cristo. A Virgem Maria ocupa um lugar de honra singular, venerada como Mãe de Deus, virgem perpétua e concebida sem pecado, sendo celebrada em dogmas e práticas devocionais como o Rosário e peregrinações a santuários como Lourdes e Fátima.
A missão social da Igreja, inspirada no cuidado de Cristo pelos marginalizados, concretiza-se em uma vasta rede de escolas, hospitais e organizações de caridade. Como maior provedora não governamental de educação e saúde no mundo, ela mantém milhares de instituições, de universidades a orfanatos,体现ndo seu compromisso com as obras de misericórdia corporal e espiritual. Sua doutrina social, impulsionada pela encíclica Rerum novarum de Leão XIII, destaca a dignidade do trabalho, os direitos dos trabalhadores e a opção preferencial pelos pobres, orientando seus esforços humanitários globais.
Historicamente, a Igreja Católica foi um eixo da vida cultural e intelectual. Seu mecenato deu origem às tradições artísticas românicas, góticas e renascentistas, com figuras como Michelangelo e Rafael definindo o legado visual do Ocidente. A fundação das primeiras universidades europeias por comunidades monásticas lançou as bases da academia moderna, enquanto teólogos escolásticos como Tomás de Aquino reconciliaram fé e razão, integrando a filosofia aristotélica à revelação cristã. Contudo, sua trajetória inclui desafios, como o Cisma do Oriente de 1054, que a separou da Igreja Ortodoxa Oriental por divergências sobre a autoridade papal, e a Reforma do século XVI, que gerou o protestantismo em meio a disputas doutrinais e eclesiásticas. A Contrarreforma, impulsionada pelo Concílio de Trento, reafirmou ensinamentos centrais e expandiu a missão evangelizadora para as Américas, Ásia e África.
A estrutura organizacional da Igreja é episcopal, com bispos à frente de dioceses, padres servindo paróquias e diáconos auxiliando em funções ministeriais. A Santa Sé, liderada pelo papa, governa por meio da Cúria Romana, enquanto o Colégio dos Cardeais assessora e elege o pontífice. O direito canônico, um sistema jurídico refinado, regula os assuntos internos, abarcando tanto a Igreja Latina quanto as tradições católicas orientais. As Igrejas Católicas Orientais, com cerca de 18 milhões de membros, mantêm suas próprias estruturas litúrgicas e de governo em plena comunhão com Roma, relação reforçada pelo decreto Orientalium Ecclesiarum do Concílio Vaticano II.
Na era moderna, a Igreja enfrentou transformações sociais e culturais. O Iluminismo questionou sua influência, e a Revolução Francesa, seguida por movimentos seculares, testou sua resiliência. O século XIX marcou a perda dos Estados Pontifícios, resolvida pelos Tratados de Latrão de 1929, que estabeleceram a soberania da Cidade do Vaticano. O século XX trouxe crescimento e escrutínio: o Concílio Vaticano II, convocado por João XXIII, introduziu reformas litúrgicas, promovendo o uso de línguas vernáculas na Missa e incentivando o diálogo ecumênico, especialmente com o judaísmo e o cristianismo oriental. O pontificado de João Paulo II, um dos mais longos da história, contribuiu para a queda do comunismo na Europa, enquanto suas viagens globais reforçaram a missão universal da Igreja.
Os ensinamentos da Igreja sobre moralidade sexual, ancorados na vocação à castidade, geraram debates. Ela reserva a atividade sexual ao matrimônio, enfatizando seus fins procriativo e unitivo, e proíbe contracepção, aborto e atos homossexuais, embora peça respeito e compaixão às pessoas com inclinações homossexuais. Essas posições, expressas em Humanae vitae e Evangelium Vitae, enfrentam dissenso, especialmente no Ocidente, onde atitudes culturais sobre sexualidade mudaram. Da mesma forma, a proibição da ordenação de mulheres, reafirmada por João Paulo II em Ordinatio sacerdotalis, permanece controversa, com alguns grupos defendendo mudanças apesar das normas canônicas.
O escândalo de abusos sexuais por clérigos, em evidência desde os anos 1990, trouxe desafios significativos, com críticas centradas na proteção de acusados por bispos. Reformas sob o Papa Francisco, como a criação da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores em 2014, buscam maior transparência e responsabilidade, embora grupos de vítimas demandem medidas mais robustas.
A defesa ambiental da Igreja, expressa na encíclica Laudato si’ de Francisco, reflete seu compromisso teológico com a guarda da criação, criticando o consumismo e a degradação ambiental. Sua membresia global, cada vez mais concentrada na África e nas Américas, destaca sua mudança demográfica, com Brasil, México e Filipinas abrigando as maiores populações católicas. Apesar do declínio na Europa, o crescimento na África e Ásia sinaliza sua vitalidade contínua.
Na vida litúrgica, a Missa é o cerne do culto, com o Rito Romano predominante na Igreja Latina, complementado por ritos como o Ambrosiano e o Mozárabe em regiões específicas. As Igrejas Orientais preservam seus próprios ritos, como o Bizantino e o Alexandrino, enriquecendo a diversidade litúrgica. A Missa Tridentina, autorizada como forma extraordinária por Bento XVI, mantém apelo entre alguns fiéis, embora o motu proprio Traditionis custodes de Francisco, em 2021, tenha reforçado a primazia da liturgia pós-Vaticano II.
A doutrina católica, protegida pelo magistério, evolui sob a orientação do Espírito Santo, equilibrando fidelidade à tradição e diálogo com questões contemporâneas. Sua crença na Trindade — um Deus em três pessoas — sustenta sua teologia, com a Encarnação e o Mistério Pascal afirmando o papel redentor de Cristo. A Igreja ensina que a salvação é plenamente assegurada por seus sacramentos, mas reconhece a possibilidade de salvação para aqueles fora de seus limites visíveis pela graça divina, conforme articulado em Lumen Gentium do Vaticano II.
A Ortodoxia Oriental, também reconhecida como Cristianismo Ortodoxo Oriental, constitui uma das três principais vertentes do Cristianismo Calcedoniano, ao lado do Catolicismo Romano e do Protestantismo. Organizada em igrejas autocéfalas, que operam com independência entre si, a Igreja Ortodoxa Oriental mainstream, ou canônica, conta atualmente com dezessete igrejas autocéfalas reconhecidas, além de outras que, embora autocéfalas, não possuem reconhecimento universal. Cada igreja autocéfala elege seu próprio primaz e pode exercer jurisdição sobre outras igrejas, algumas das quais detêm o status de autônomas, gozando de maior liberdade administrativa em comparação com simples eparquias.
Essas jurisdições frequentemente correspondem a territórios de estados modernos, como o Patriarcado de Moscou, que abrange a Rússia e algumas nações pós-soviéticas. Além disso, incluem metrópoles, bispados, paróquias, mosteiros e metóquios que atendem comunidades diaspóricas, por vezes localizadas fora do território canônico do primaz, como no caso do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, cuja autoridade se estende parcialmente ao norte da Grécia e ao leste. Em algumas regiões, como a Moldávia, observa-se a sobreposição de jurisdições, como as dos patriarcas de Bucareste e Moscou.
Originada na região oriental da Bacia do Mediterrâneo, dentro do contexto cultural grego-bizantino, a Ortodoxia Oriental caracteriza-se pela profunda unidade doutrinária e litúrgica entre suas comunidades, que se veem como partes de uma única Igreja. Os fiéis seguem um calendário litúrgico que estrutura o ano eucarístico, e rejeitam a cláusula Filioque, adicionada ao Credo Niceno pela Igreja Latina, por considerá-la uma alteração sem respaldo conciliar.
No campo teológico, a Ortodoxia Oriental professa a crença na Santíssima Trindade, composta por três pessoas divinas distintas – Pai, Filho e Espírito Santo – que compartilham plenamente uma única essência divina, não criada, imaterial e eterna. O Pai é a fonte eterna, não gerado nem procedente; o Filho, eterno, é gerado do Pai; e o Espírito Santo, também eterno, procede do Pai. Essa formulação, expressa no Credo Niceno em sua versão grega, exclui o Filioque, reforçando a posição ortodoxa de que o Espírito procede exclusivamente do Pai.
A concepção ortodoxa de Deus é monoteísta, apresentando-O como simultaneamente transcendente, completamente independente do universo material, e imanente, atuante no mundo criado. A teologia ortodoxa distingue entre a essência divina, totalmente transcendente, e as energias divinas não criadas, por meio das quais Deus se comunica com a humanidade. Essas energias não são algo que emana de Deus, mas são o próprio Deus, distintas, porém inseparáveis de Sua essência. Essa visão, frequentemente associada ao palamismo, sublinha que o Deus transcendente e o Deus que toca a humanidade são um só.
Na compreensão da Trindade, a unidade divina é tão completa que as três pessoas não podem ser consideradas separadamente, agindo em comunhão perfeita. A salvação da humanidade, por exemplo, é uma obra conjunta: o Filho se encarna pela vontade do Pai e com a cooperação do Espírito Santo, que, por sua vez, procede do Pai e forma Cristo nos corações dos fiéis, glorificando o Pai. A terminologia trinitária, como essência e hipóstase, é empregada com precisão filosófica para refutar heresias e esclarecer a verdade da fé.
A doutrina ortodoxa sobre o pecado e a salvação diverge de perspectivas ocidentais. A natureza humana, embora marcada pela queda, não é considerada intrinsecamente má, pois permanece criada à imagem de Deus. Os ortodoxos afirmam que os seres humanos têm uma inclinação ao pecado, sendo atraídos por tentações, mas rejeitam a ideia agostiniana de que os descendentes de Adão e Eva herdam a culpa do pecado original. A encarnação, morte e ressurreição de Cristo são eventos históricos, conforme narrados nos Evangelhos, e constituem a base da redenção, que visa restaurar a comunhão com Deus.
A vida cristã ortodoxa é vista como uma peregrinação espiritual, iniciada no batismo, que integra o fiel à Igreja, o Corpo de Cristo. Por meio da prática da oração incessante, da hesiquia e da imitação de Cristo, o cristão busca a theosis, ou seja, a participação nas energias divinas, tornando-se, pela graça, uma imagem viva de Deus. Esse processo não implica divinização da essência humana, mas uma transformação que reflete a semelhança divina. A Igreja, nesse contexto, abrange tanto os fiéis na terra quanto os santos no céu, incluindo anjos, profetas e justos do Antigo Testamento, formando a comunhão dos santos.
Entre os santos, a Virgem Maria, chamada Theotokos, ocupa lugar preeminente. Ela é vista como a realização dos arquétipos do Antigo Testamento, como a Arca da Aliança, por ter carregado Cristo, o Novo Pacto, e o arbusto ardente, por ter concebido Deus sem ser consumida. A teologia ortodoxa afirma que Cristo, desde o momento de sua concepção, era plenamente Deus e plenamente humano, e que Maria permaneceu virgem antes, durante e após o parto. Sua veneração reflete sua posição singular na história da salvação, sendo honrada acima de todos os outros santos.
A escatologia ortodoxa ensina que, após a morte, a alma é temporariamente separada do corpo, sendo conduzida ao paraíso ou ao Hades, conforme o Juízo Temporário. Rejeitando a doutrina do Purgatório, a Igreja acredita que as orações dos vivos podem influenciar o estado das almas no Hades até o Juízo Final, quando corpo e alma serão reunidos. Após esse julgamento, os santos, plenamente aperfeiçoados, avançarão eternamente em um amor mais profundo por Deus, que equivale à felicidade eterna.
A Bíblia, na Ortodoxia Oriental, é considerada um ícone verbal de Cristo, conforme proclamado pelo Sétimo Concílio Ecumênico. A Igreja utiliza a Septuaginta para o Antigo Testamento, com o Livro de Daniel na tradução de Teodotion, e o Texto Patriarcal para o Novo Testamento. As Escrituras são vistas como a principal testemunha escrita da tradição sagrada, sendo essenciais para o ensino e a crença ortodoxos. A Igreja não subscreve a doutrina da sola scriptura, pois considera que ela mesma definiu o cânon bíblico e, portanto, possui autoridade para interpretá-lo.
A tradição sagrada, na Ortodoxia, é a fé transmitida por Cristo aos apóstolos, vivificada pelo Espírito Santo no Pentecostes e passada às gerações futuras sem acréscimos ou supressões. Ela inclui as Escrituras, as definições dos concílios ecumênicos, os escritos patrísticos, o direito canônico e os ícones. Embora firme, a tradição não é rígida, mas viva, adaptando-se às circunstâncias sem alterar sua essência. A Igreja Ortodoxa, quando confrontada com questões complexas, convoca concílios locais ou, em casos de maior gravidade, concílios ecumênicos, cujas decisões refletem o consenso da Igreja.
A liturgia ortodoxa, especialmente a Divina Liturgia, é o cerne do culto, celebrada geralmente aos domingos e em dias de festa. Outros serviços, como Orthros e Vésperas, complementam o ciclo litúrgico. O canto litúrgico, considerado uma forma de oração, é integralmente entoado pelo clero, coro e congregação, seguindo sistemas tonais como o Octoecos bizantino ou o canto znamenny eslavo. Esses cânticos, enraizados nas tradições judaicas e sírias, evoluíram ao longo dos séculos, adaptando-se às línguas e culturas locais.
O monasticismo ocupa um lugar central na Ortodoxia, com mosteiros como o de Santa Catarina, no Sinai, e o Monte Athos, na Grécia, sendo centros de espiritualidade. Todos os bispos são monges, e o clero casado, se viúvo, frequentemente se retira para a vida monástica. Os ícones, presentes em igrejas e lares, são elementos essenciais, considerados janelas para o divino, enquanto o iconóstase separa o santuário da nave, simbolizando a conexão entre o céu e a terra.
Os santos mistérios, ou sacramentos, são ações sagradas que unem os fiéis a Deus. Entre eles, destacam-se o batismo, que renova o ser humano; a crismação, que concede o dom do Espírito Santo; e a Eucaristia, que oferece o Corpo e Sangue de Cristo. A confissão, o matrimônio, a unção dos enfermos e as ordens sagradas completam os principais mistérios, embora outras ações, como a tonsura monástica, também sejam consideradas sagradas.
A Ortodoxia Oriental é predominante em países como Rússia, Ucrânia, Romênia, Grécia e Sérvia, com minorias significativas em outras nações europeias e no Mediterrâneo Oriental. Sua influência se estende por meio de costumes locais, expressos em títulos nacionais das igrejas e em práticas regionais, como a quebra de vasos na Páscoa em Corfu, refletindo a rica diversidade de uma fé unificada.
A Ortodoxia Oriental, também reconhecida como Cristianismo Ortodoxo Oriental, constitui uma das três principais vertentes do Cristianismo Calcedoniano, ao lado do Catolicismo Romano e do Protestantismo. Organizada em igrejas autocéfalas, que operam com independência entre si, a Igreja Ortodoxa Oriental mainstream, ou canônica, conta atualmente com dezessete igrejas autocéfalas reconhecidas, além de outras que, embora autocéfalas, não possuem reconhecimento universal. Cada igreja autocéfala elege seu próprio primaz e pode exercer jurisdição sobre outras igrejas, algumas das quais detêm o status de autônomas, gozando de maior liberdade administrativa em comparação com simples eparquias.
Essas jurisdições frequentemente correspondem a territórios de estados modernos, como o Patriarcado de Moscou, que abrange a Rússia e algumas nações pós-soviéticas. Além disso, incluem metrópoles, bispados, paróquias, mosteiros e metóquios que atendem comunidades diaspóricas, por vezes localizadas fora do território canônico do primaz, como no caso do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, cuja autoridade se estende parcialmente ao norte da Grécia e ao leste. Em algumas regiões, como a Moldávia, observa-se a sobreposição de jurisdições, como as dos patriarcas de Bucareste e Moscou.
Originada na região oriental da Bacia do Mediterrâneo, dentro do contexto cultural grego-bizantino, a Ortodoxia Oriental caracteriza-se pela profunda unidade doutrinária e litúrgica entre suas comunidades, que se veem como partes de uma única Igreja. Os fiéis seguem um calendário litúrgico que estrutura o ano eucarístico, e rejeitam a cláusula Filioque, adicionada ao Credo Niceno pela Igreja Latina, por considerá-la uma alteração sem respaldo conciliar.
No campo teológico, a Ortodoxia Oriental professa a crença na Santíssima Trindade, composta por três pessoas divinas distintas – Pai, Filho e Espírito Santo – que compartilham plenamente uma única essência divina, não criada, imaterial e eterna. O Pai é a fonte eterna, não gerado nem procedente; o Filho, eterno, é gerado do Pai; e o Espírito Santo, também eterno, procede do Pai. Essa formulação, expressa no Credo Niceno em sua versão grega, exclui o Filioque, reforçando a posição ortodoxa de que o Espírito procede exclusivamente do Pai.
A concepção ortodoxa de Deus é monoteísta, apresentando-O como simultaneamente transcendente, completamente independente do universo material, e imanente, atuante no mundo criado. A teologia ortodoxa distingue entre a essência divina, totalmente transcendente, e as energias divinas não criadas, por meio das quais Deus se comunica com a humanidade. Essas energias não são algo que emana de Deus, mas são o próprio Deus, distintas, porém inseparáveis de Sua essência. Essa visão, frequentemente associada ao palamismo, sublinha que o Deus transcendente e o Deus que toca a humanidade são um só.
Na compreensão da Trindade, a unidade divina é tão completa que as três pessoas não podem ser consideradas separadamente, agindo em comunhão perfeita. A salvação da humanidade, por exemplo, é uma obra conjunta: o Filho se encarna pela vontade do Pai e com a cooperação do Espírito Santo, que, por sua vez, procede do Pai e forma Cristo nos corações dos fiéis, glorificando o Pai. A terminologia trinitária, como essência e hipóstase, é empregada com precisão filosófica para refutar heresias e esclarecer a verdade da fé.
A doutrina ortodoxa sobre o pecado e a salvação diverge de perspectivas ocidentais. A natureza humana, embora marcada pela queda, não é considerada intrinsecamente má, pois permanece criada à imagem de Deus. Os ortodoxos afirmam que os seres humanos têm uma inclinação ao pecado, sendo atraídos por tentações, mas rejeitam a ideia agostiniana de que os descendentes de Adão e Eva herdam a culpa do pecado original. A encarnação, morte e ressurreição de Cristo são eventos históricos, conforme narrados nos Evangelhos, e constituem a base da redenção, que visa restaurar a comunhão com Deus.
A vida cristã ortodoxa é vista como uma peregrinação espiritual, iniciada no batismo, que integra o fiel à Igreja, o Corpo de Cristo. Por meio da prática da oração incessante, da hesiquia e da imitação de Cristo, o cristão busca a theosis, ou seja, a participação nas energias divinas, tornando-se, pela graça, uma imagem viva de Deus. Esse processo não implica divinização da essência humana, mas uma transformação que reflete a semelhança divina. A Igreja, nesse contexto, abrange tanto os fiéis na terra quanto os santos no céu, incluindo anjos, profetas e justos do Antigo Testamento, formando a comunhão dos santos.
Entre os santos, a Virgem Maria, chamada Theotokos, ocupa lugar preeminente. Ela é vista como a realização dos arquétipos do Antigo Testamento, como a Arca da Aliança, por ter carregado Cristo, o Novo Pacto, e o arbusto ardente, por ter concebido Deus sem ser consumida. A teologia ortodoxa afirma que Cristo, desde o momento de sua concepção, era plenamente Deus e plenamente humano, e que Maria permaneceu virgem antes, durante e após o parto. Sua veneração reflete sua posição singular na história da salvação, sendo honrada acima de todos os outros santos.
A escatologia ortodoxa ensina que, após a morte, a alma é temporariamente separada do corpo, sendo conduzida ao paraíso ou ao Hades, conforme o Juízo Temporário. Rejeitando a doutrina do Purgatório, a Igreja acredita que as orações dos vivos podem influenciar o estado das almas no Hades até o Juízo Final, quando corpo e alma serão reunidos. Após esse julgamento, os santos, plenamente aperfeiçoados, avançarão eternamente em um amor mais profundo por Deus, que equivale à felicidade eterna.
A Bíblia, na Ortodoxia Oriental, é considerada um ícone verbal de Cristo, conforme proclamado pelo Sétimo Concílio Ecumênico. A Igreja utiliza a Septuaginta para o Antigo Testamento, com o Livro de Daniel na tradução de Teodotion, e o Texto Patriarcal para o Novo Testamento. As Escrituras são vistas como a principal testemunha escrita da tradição sagrada, sendo essenciais para o ensino e a crença ortodoxos. A Igreja não subscreve a doutrina da sola scriptura, pois considera que ela mesma definiu o cânon bíblico e, portanto, possui autoridade para interpretá-lo.
A tradição sagrada, na Ortodoxia, é a fé transmitida por Cristo aos apóstolos, vivificada pelo Espírito Santo no Pentecostes e passada às gerações futuras sem acréscimos ou supressões. Ela inclui as Escrituras, as definições dos concílios ecumênicos, os escritos patrísticos, o direito canônico e os ícones. Embora firme, a tradição não é rígida, mas viva, adaptando-se às circunstâncias sem alterar sua essência. A Igreja Ortodoxa, quando confrontada com questões complexas, convoca concílios locais ou, em casos de maior gravidade, concílios ecumênicos, cujas decisões refletem o consenso da Igreja.
A liturgia ortodoxa, especialmente a Divina Liturgia, é o cerne do culto, celebrada geralmente aos domingos e em dias de festa. Outros serviços, como Orthros e Vésperas, complementam o ciclo litúrgico. O canto litúrgico, considerado uma forma de oração, é integralmente entoado pelo clero, coro e congregação, seguindo sistemas tonais como o Octoecos bizantino ou o canto znamenny eslavo. Esses cânticos, enraizados nas tradições judaicas e sírias, evoluíram ao longo dos séculos, adaptando-se às línguas e culturas locais.
O monasticismo ocupa um lugar central na Ortodoxia, com mosteiros como o de Santa Catarina, no Sinai, e o Monte Athos, na Grécia, sendo centros de espiritualidade. Todos os bispos são monges, e o clero casado, se viúvo, frequentemente se retira para a vida monástica. Os ícones, presentes em igrejas e lares, são elementos essenciais, considerados janelas para o divino, enquanto o iconóstase separa o santuário da nave, simbolizando a conexão entre o céu e a terra.
Os santos mistérios, ou sacramentos, são ações sagradas que unem os fiéis a Deus. Entre eles, destacam-se o batismo, que renova o ser humano; a crismação, que concede o dom do Espírito Santo; e a Eucaristia, que oferece o Corpo e Sangue de Cristo. A confissão, o matrimônio, a unção dos enfermos e as ordens sagradas completam os principais mistérios, embora outras ações, como a tonsura monástica, também sejam consideradas sagradas.
A Ortodoxia Oriental é predominante em países como Rússia, Ucrânia, Romênia, Grécia e Sérvia, com minorias significativas em outras nações europeias e no Mediterrâneo Oriental. Sua influência se estende por meio de costumes locais, expressos em títulos nacionais das igrejas e em práticas regionais, como a quebra de vasos na Páscoa em Corfu, refletindo a rica diversidade de uma fé unificada.