Martin Bucer (1491-1551), nascido em 11 de novembro de 1491 em Sélestat, Alsácia, e falecido em 28 de fevereiro de 1551 em Cambridge, Inglaterra, foi um reformador protestante cuja influência moldou as tradições luterana, calvinista e anglicana. Originalmente um frade dominicano, Bucer abandonou seus votos monásticos em 1521, inspirado por Martinho Lutero, e dedicou sua vida à Reforma, promovendo a unidade doutrinária entre os reformadores e buscando uma Igreja cristã inclusiva. Sua espiritualidade, fundamentada na centralidade das Escrituras e na fé em Cristo, guiou sua abordagem pastoral, enquanto sua habilidade como mediador e teólogo o destacou como um pioneiro do ecumenismo. Exilado de Estrasburgo em 1549, ele encontrou refúgio na Inglaterra, onde colaborou com Thomas Cranmer na revisão do Livro de Oração Comum, deixando um legado duradouro na Reforma inglesa.
Filho de uma família de artesãos em Sélestat, uma cidade imperial livre, Bucer ingressou na Ordem Dominicana em 1507, possivelmente por pressão familiar. Ordenado sacerdote em 1516, ele estudou teologia em Heidelberg, onde se envolveu com o humanismo, adquirindo obras de Erasmo e Tomás de Aquino. O encontro com Lutero na Disputa de Heidelberg em 1518 marcou um ponto de inflexão, levando-o a questionar a escolástica e abraçar as ideias reformistas. Em 1521, com o apoio de humanistas como Wolfgang Capito e do cavaleiro Franz von Sickingen, Bucer obteve a anulação de seus votos dominicanos, escapando da perseguição do inquisidor Jacob van Hoogstraaten. Nos anos seguintes, sob a proteção de Sickingen, ele serviu como capelão em Nuremberg e Landstuhl, onde se casou com Elisabeth Silbereisen, uma ex-freira, em 1522, desafiando as normas clericais católicas.
Em 1523, após sua excomunhão por pregar reformas em Wissembourg, Bucer fugiu para Estrasburgo, uma cidade imperial livre receptiva à Reforma. Ali, ele se juntou a reformadores como Mateus Zell, Wolfgang Capito e Caspar Hedio, assumindo a liderança na transformação eclesiástica da cidade. Nomeado pastor da Igreja de Santa Aurélia, ele defendeu a justificação pela fé e a autoridade das Escrituras, rejeitando práticas católicas como a missa sacrificial e os votos monásticos. Em 1524, sua obra "Grund und Ursach" articulou uma liturgia reformada, introduzindo hinos congregacionais em alemão. Bucer também mediou disputas teológicas, especialmente sobre a Eucaristia, entre Lutero, que defendia a presença real de Cristo, e Zwinglio, que enfatizava a presença espiritual. Embora alinhado com Zwinglio, Bucer priorizou a unidade, propondo fórmulas conciliatórias como a Confissão Tetrapolitana de 1530 e a Concórdia de Wittenberg de 1536, esta última elaborada com Philipp Melanchthon.
Bucer acreditava que a unidade cristã poderia incluir católicos dispostos a aceitar a justificação pela fé. Entre 1539 e 1541, ele participou de colóquios em Leipzig, Worms e Ratisbona, organizados pelo imperador Carlos V, buscando uma Igreja nacional alemã independente de Roma. Apesar de acordos iniciais, como o Livro de Ratisbona, as negociações fracassaram devido a divergências sobre a autoridade papal e a transubstanciação. Em Estrasburgo, Bucer consolidou a Reforma, implementando a Confissão Tetrapolitana e artigos doutrinários em 1534, além de instituir supervisores leigos para manter a disciplina eclesiástica. Ele combateu movimentos anabatistas e espiritualistas, como os de Melchior Hoffman, para preservar a ortodoxia reformada. Sua influência se estendeu a outras regiões, como o Eleitorado de Colônia, onde, entre 1542 e 1543, ele liderou um programa de reforma para o arcebispo Hermann von Wied, embora a intervenção imperial tenha interrompido o projeto.
A Guerra da Liga de Schmalkalden (1546-1547) enfraqueceu os protestantes, e o Interino de Augsburgo de 1548, imposto por Carlos V, restaurou práticas católicas. Bucer, sob pressão, assinou o Interino, mas continuou a resistir em Estrasburgo, publicando tratados que defendiam a fé reformada. Em 1549, com a aceitação do Interino pela cidade, ele foi destituído e exilado. Convidado por Cranmer, Bucer chegou à Inglaterra, onde foi nomeado Regius Professor de Divindade em Cambridge. Ali, ele contribuiu para a revisão do Livro de Oração Comum de 1552, defendendo uma liturgia simplificada, e escreveu "De Regno Christi", um tratado que propunha reformas eclesiásticas e civis para Eduardo VI, incluindo a assistência aos pobres e a reformulação do casamento como contrato social. Sua visão de uma sociedade cristã disciplinada, porém, era considerada avançada demais para a época.
Bucer faleceu em Cambridge, vítima de tuberculose, após anos de saúde frágil. Sepultado na Igreja de Great St Mary's, ele foi postumamente condenado por heresia sob Maria I, mas reabilitado por Isabel I em 1560. Sua esposa, Wibrandis Rosenblatt, que o acompanhou no exílio, retornou a Basileia após sua morte. Embora não tenha fundado uma denominação própria, Bucer's teologia prática e pastoral influenciou diversas tradições protestantes. Sua busca incansável pela unidade cristã, enraizada na fé e na obediência à Palavra de Deus, permanece como um testemunho de sua dedicação à Igreja universal.