George Müller (1805-1898), nascido Johann Georg Ferdinand Müller em 27 de setembro de 1805, em Kroppenstädt, Prússia, e falecido em 10 de março de 1898, em Bristol, Inglaterra, aos 92 anos, foi um evangelista cristão e diretor do orfanato Ashley Down, em Bristol. Cofundador do movimento dos Irmãos de Plymouth, alinhado posteriormente com os Irmãos Abertos, Müller cuidou de 10.024 órfãos ao longo de sua vida, estabelecendo 117 escolas que educaram mais de 120.000 alunos em princípios cristãos. Sua abordagem, marcada por uma confiança absoluta na providência divina sem jamais solicitar doações, combinava uma espiritualidade profunda com uma administração meticulosa, deixando um legado que harmoniza fé inabalável e precisão organizacional.
Filho de um coletor de impostos, Müller cresceu em Heimersleben com um irmão mais velho e, após o segundo casamento de seu pai, um meio-irmão. Sua juventude foi marcada por desvios morais: aos dez anos, roubava dinheiro do governo destinado ao pai, e aos catorze, enquanto sua mãe agonizava, entregava-se a jogos de cartas e bebidas. Estudante de teologia na Universidade de Halle, sua vida mudou em 1825 ao participar de uma reunião de oração em uma casa particular. A visão de um homem orando de joelhos despertou sua conversão, levando-o a abandonar vícios, estudar as Escrituras e aspirar ao trabalho missionário. Em 1829, em Londres, associou-se à Sociedade para a Promoção do Cristianismo entre os Judeus, mas, após adoecer e questionar a rigidez da organização, rompeu com ela em 1830. Nesse período, em Teignmouth, conheceu Henry Craik, que se tornou seu amigo lifelong, e adotou uma teologia centrada na autoridade exclusiva da Bíblia, influenciada pelo Espírito Santo.
Em 1830, Müller casou-se com Mary Groves e assumiu o pastorado da Capela Ebenezer, em Shaldon, renunciando ao salário fixo para depender de ofertas voluntárias, prática que considerava mais alinhada com a liberdade cristã. Em 1832, mudou-se para Bristol, onde, com Craik, pastoreou a Capela Bethesda até sua morte. Em 1834, fundou a Instituição do Conhecimento Escritural, destinada a apoiar escolas cristãs, missionários e a distribuição de Bíblias. Até sua morte, a instituição arrecadou o equivalente a £113 milhões em valores atuais, sem jamais pedir doações, distribuindo 285.407 Bíblias, 1.459.506 Novos Testamentos e apoiando missionários como Hudson Taylor. Sua gestão financeira era rigorosa: cada doação, mesmo de um centavo, era registrada, e recibos eram emitidos para transparência, com relatórios anuais detalhando todas as contribuições.
O trabalho com órfãos começou em 1836, quando Müller e sua esposa prepararam sua casa em Bristol para acolher trinta meninas. A expansão levou à construção de cinco casas em Ashley Down, inauguradas em 1849, com capacidade para 2.050 crianças. Müller orava por todas as necessidades, e relatos documentam provisões milagrosas, como pão e leite chegando exatamente quando necessário. As crianças recebiam educação de qualidade, roupas adequadas e, ao deixar o orfanato, uma Bíblia e um baú com roupas. Müller empregava inspetores para garantir padrões elevados, e muitos órfãos ingressaram em aprendizados ou profissões, reduzindo a oferta de mão de obra em fábricas locais. Sua fé na oração era prática: em 1862, uma obstrução em um dreno foi resolvida após oração, e em 1865, ventos cessaram para permitir reparos nos telhados danificados.
A partir de 1875, aos 71 anos, Müller e sua segunda esposa, Susannah Grace Sanger, empreenderam viagens missionárias por 17 anos, percorrendo 200.000 milhas e pregando em inglês, francês e alemão em países como Estados Unidos, Índia e Austrália. Ele financiava suas viagens com doações espontâneas, registrando cada oferta. Sua teologia, moldada na década de 1820, enfatizava a eleição divina, a redenção particular e a perseverança final, rejeitando o arrebatamento pré-tribulacional. Como líder dos Irmãos Abertos, após divergências com John Nelson Darby, Müller priorizava a comunhão com crentes batizados que vivessem segundo as Escrituras, mantendo a Capela Bethesda como um espaço inclusivo.
Müller faleceu em 1898, e seu funeral em Bristol reuniu 10.000 pessoas, incluindo 1.500 órfãos. Sua obra continuou por meio da George Müller Charitable Trust, que mantém o princípio de depender exclusivamente da oração. Um pequeno museu em Bristol preserva registros dos órfãos, acessíveis a parentes. Müller via a Bíblia como única norma de julgamento espiritual, aprendendo diretamente das Escrituras sem depender de comentários. Sua vida demonstra uma integração singular entre fervor cristão e eficiência administrativa, provando, por meio de registros detalhados e resultados tangíveis, a fidelidade divina em resposta à oração. Sua abordagem desafia visões reducionistas, oferecendo um modelo de serviço cristão que transcende o humanitarismo, ancorado na confiança em Deus e na gestão responsável dos recursos.