A Epístola a Filemom, uma das mais breves do Novo Testamento, é uma carta prisional escrita por Paulo, com menção a Timóteo, dirigida a Filemom, líder da igreja em Colossos. Composta em grego koiné, com apenas 335 palavras, a epístola é preservada em manuscritos como o Codex Vaticanus (325-350 d.C.), Codex Sinaiticus (330-360 d.C.) e Codex Alexandrinus (400-440 d.C.). Tradicionalmente datada entre 57 e 62 d.C., durante a prisão de Paulo em Cesareia Marítima ou, mais provavelmente, em Roma, a carta é amplamente aceita como autêntica, com raros desafios à autoria paulina, como os da Escola de Tübingen no século XIX. O texto não apresenta Paulo como apóstolo autoritário, mas como “prisioneiro de Jesus Cristo” (Filemom 1:1), enfatizando a fraternidade cristã ao chamar Filemom de “colaborador” e “irmão” (Filemom 1:7, 20). Seu propósito central é pleitear a reconciliação entre Filemom, um cristão abastado, e Onésimo, um escravo fugitivo que se converteu ao cristianismo sob a influência de Paulo.
A epístola reflete o contexto socioeconômico do Império Romano, onde a escravidão era uma instituição fundamental. Onésimo, provavelmente tendo fugido após causar prejuízo a Filemom (Filemom 1:18), encontrou Paulo, tornando-se cristão. Paulo, apesar de desejar retê-lo, opta por enviá-lo de volta com esta carta, solicitando que Filemom o receba não como escravo, mas como “irmão amado” (Filemom 1:16). A preservação da carta sugere que o pedido foi atendido. A menção de Onésimo em Colossenses 4:9 como “fiel e amado irmão” reforça sua integração na comunidade cristã. A carta também é endereçada a Áfia, possivelmente esposa de Filemom, Arquipo, talvez seu filho ou líder local, e à igreja que se reunia na casa de Filemom (Filemom 1:2). A hipótese de que Arquipo fosse o dono de Onésimo, proposta por John Knox, carece de apoio devido à primazia de Filemom no endereço.
A estrutura da epístola segue o padrão paulino: saudação (versículos 1-3), ação de graças (versículos 4-7), apelo principal por Onésimo (versículos 8-20) e conclusão com saudações (versículos 21-25). Paulo evita comandos, apelando ao amor e à generosidade de Filemom, destacando a transformação de Onésimo, cujo nome (“útil”) é usado em um jogo de palavras (Filemom 1:11). A oferta de Paulo para cobrir qualquer dívida (Filemom 1:18-19) e sua confiança em uma resposta generosa (Filemom 1:21) sugerem a possibilidade de libertação de Onésimo para servir no ministério. A epístola não condena diretamente a escravidão, mas subverte suas normas ao propor uma relação de irmandade cristã, desafiando a desumanização inerente à instituição. Sua relevância teológica reside na ênfase no perdão, na reconciliação e na igualdade em Cristo, temas que ecoam a visão cristã de uma nova sociedade, conforme destacado por Bento XVI em Spe Salvi. A Epístola a Filemom, com sua concisão e profundidade, permanece um testemunho da capacidade do Evangelho de transformar relações humanas no contexto da fé.