A Primeira Epístola de Pedro, integrante do Novo Testamento, é tradicionalmente atribuída ao apóstolo Pedro, que se apresenta como autor em 1 Pedro 1:1. Escrita em grego koiné, a carta é preservada em manuscritos como o Papiro 72 (século III/IV), Codex Vaticanus (325-350 d.C.), Codex Sinaiticus (330-360 d.C.), Codex Alexandrinus (400-440 d.C.), Codex Ephraemi Rescriptus (c. 450 d.C.) e o Palimpsesto de Leão (século VII, em latim). Dirigida aos “eleitos peregrinos da diáspora” no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, províncias romanas na Ásia Menor, a epístola aborda cristãos, tanto judeus quanto gentios, descritos como exilados espirituais rumo ao Reino celestial. A menção a “Babilônia” (1 Pedro 5:13) é amplamente interpretada como uma referência codificada a Roma, prática comum após a destruição do Templo em 70 d.C. A carta, estruturada em cinco capítulos, exorta à perseverança nas perseguições, à santidade prática, ao exemplo de Cristo e à liderança pastoral, refletindo o contexto de hostilidade enfrentado pelos cristãos primitivos.
A autoria petrina é debatida. Embora a tradição e alusões às falas de Pedro em Atos (cf. Atos 2; 1 Pedro 1:3-12) e aos ditos de Jesus (cf. Lucas 12:35; 1 Pedro 1:13) sustentem sua autoria, muitos estudiosos consideram a epístola pseudepígrafa, datada entre 80 e 100 d.C., devido ao estilo refinado, com traços de retórica e filosofia gregas, incomum para um pescador galileu. A dependência de temas paulinos, como os de Efésios e Colossenses, e a menção a perseguições sob Domício (81-96 d.C.) reforçam essa visão. A “hipótese secretarial” sugere que Silvano (1 Pedro 5:12) atuou como escriba, explicando o estilo elevado, embora alguns, como John Elliot, interpretem Silvano apenas como portador. Marcos, chamado “filho” espiritual, pode ter contribuído como amanuense. Atestações antigas, como as de 2 Pedro (60-160 d.C.) e Clemente (70-140 d.C.), apoiam a origem petrina, mantendo o debate inconcluso.
A epístola estrutura-se em saudação (1:1-2), louvor a Deus pela salvação (1:3-12), chamado à santidade (1:13-2:10), vida no exílio (2:11-4:11), firmeza na fé (4:12-5:11) e despedida (5:12-14). Os destinatários enfrentavam “provações variadas” (1 Pedro 1:6), descritas como discriminação social, como difamação (1 Pedro 2:12; 3:16), mais que perseguições oficiais, como as de Décio (250 d.C.). Exortações à obediência civil (1 Pedro 2:13-17) e à defesa mansa da fé (1 Pedro 3:15-16) sugerem tensões sociais, não judiciais. O texto sobre os “espíritos em prisão” (1 Pedro 3:18-20) fundamenta a crença no descenso de Cristo aos infernos, refletida em credos antigos, como os de Sírmio (359 d.C.). A epístola enfatiza a submissão no matrimônio (1 Pedro 3:1-7), promovendo harmonia e dignidade mútua. Com sua teologia robusta, 1 Pedro convoca à esperança e à santidade, ancoradas no sacrifício de Cristo, em um mundo hostil.