Francisco Xavier (1506-1552), nascido em 7 de abril de 1506 no castelo de Xavier, no Reino de Navarra, e falecido em 3 de dezembro de 1552 na ilha de Shangchuan, China, aos 46 anos, foi um sacerdote navarrês, missionário jesuíta e cofundador da Companhia de Jesus. Reconhecido como santo e um dos maiores missionários cristãos desde o apóstolo Paulo, Xavier dedicou sua vida à evangelização na Ásia, sob o patrocínio do Império Português, sendo o primeiro a levar o cristianismo ao Japão. Sua espiritualidade, enraizada na obediência ao chamado de Cristo e na prática da pobreza e castidade, combinava-se com uma abordagem técnica que priorizava a adaptação cultural e linguística para alcançar os povos nativos. Canonizado em 1622, é venerado como patrono das missões católicas, de Navarra e de regiões como Goa e Japão, deixando um legado que une fervor apostólico e organização missionária.
Nascido Francisco de Jasso y Azpilicueta, era o filho mais jovem de Juan de Jasso, presidente do Conselho Real de Navarra, e María de Azpilcueta, herdeira do castelo de Xavier. Criado em uma família nobre basca, falava basco e românico, mas sua infância foi marcada por conflitos: em 1512, a invasão de Navarra por Fernando de Aragão levou à morte de seu pai em 1515 e à destruição parcial do castelo familiar em 1516, quando seus irmãos resistiram aos espanhóis. Em 1525, aos 19 anos, Francisco partiu para a Universidade de Paris, onde estudou no Collège Sainte-Barbe por onze anos, destacando-se como atleta e obtendo o título de Mestre em Artes em 1530. Ensinou filosofia aristotélica no Collège de Beauvais, mas sua vida mudou ao conhecer Inácio de Loyola, um colega de quarto mais velho que o desafiou a refletir sobre o propósito espiritual de suas ambições mundanas. Inicialmente resistente, Francisco foi gradualmente conquistado pela visão de Inácio, abraçando a fé com fervor.
Em 15 de agosto de 1534, Francisco, Inácio e cinco outros estudantes fizeram votos de pobreza, castidade e missão na Terra Santa em uma cripta em Montmartre, Paris, marcando o embrião da Companhia de Jesus. Ordenado sacerdote em 1537, Francisco tornou-se um dos primeiros jesuítas quando a ordem foi aprovada pelo Papa Paulo III em 1540. Em 1540, a pedido do rei João III de Portugal, foi enviado às Índias Orientais como missionário, partindo de Lisboa em 1541 com o título de núncio apostólico. Chegou a Goa, capital do Império Português na Índia, em maio de 1542, após uma escala em Moçambique. Sua missão inicial foi restaurar a fé cristã entre os colonos portugueses, muitos dos quais viviam de forma desregrada. Francisco dedicou-se a ensinar crianças, ministrar aos enfermos e pregar nas ruas, usando um sino para reunir ouvintes. Fundou o Colégio de São Paulo, o primeiro quartel-general jesuíta na Ásia, e trabalhou incansavelmente para instruir os nativos, especialmente os paravas da Costa da Pesca de Pérolas, que haviam sido batizados sem formação adequada.
Entre 1545 e 1547, Francisco expandiu sua missão para o sudeste asiático, pregando em Malaca e nas ilhas Molucas, como Ambon e Ternate. Em Malaca, inspirou os portugueses a derrotar piratas acés em 1546, demonstrando sua influência além do campo espiritual. Em 1547, conheceu Anjirō, um japonês convertido que o informou sobre a cultura do Japão, despertando seu interesse. Chegou a Kagoshima em julho de 1549, enfrentando barreiras linguísticas e resistência inicial dos daimiôs locais. Adotando uma estratégia de adaptação cultural, Francisco apresentou-se com pompa e presentes para ganhar a confiança dos governantes, como em Bungo, e usou imagens da Virgem Maria para ensinar a fé. Apesar de dificuldades, estabeleceu comunidades cristãs em Hirado, Yamaguchi e Bungo, deixando sucessores jesuítas antes de retornar à Índia em 1551. Sua tentativa de entrar na China, vista como centro cultural da Ásia, foi interrompida por sua morte em Shangchuan, onde aguardava uma passagem para o continente, acompanhado apenas por um estudante jesuíta, um servo e um intérprete chinês.
Como cristão, Francisco via sua missão como uma resposta ao mandato de Cristo de pregar o Evangelho a todas as nações, enfatizando a caridade e a humildade. Sua proposta de uma Inquisição em Goa, em 1546, visava proteger os novos convertidos e combater práticas contrárias à fé, embora ele não tenha vivido para vê-la implementada. Suas relíquias, preservadas na Basílica do Bom Jesus em Goa desde 1554, tornaram-se objeto de veneração, com exposições periódicas que atraem multidões. O antebraço direito, usado para batizar, foi enviado a Roma em 1614, e outras relíquias foram distribuídas por colégios jesuítas. Francisco foi beatificado em 1619 e canonizado em 1622, ao lado de Inácio de Loyola, e declarado patrono das missões por Pio XI em 1927. Sua festa, celebrada em 3 de dezembro, coincide com o Dia de Navarra, e a Javierada, uma peregrinação anual a seu castelo natal, reflete sua importância cultural. Francisco Xavier permanece um símbolo de dedicação missionária, unindo rigor espiritual e adaptação pragmática às realidades locais.
Francisco Xavier (1506-1552), missionário jesuíta e santo, comumente conhecido em inglês como São Francisco Xavier e também chamado de "Apóstolo das Índias". Era o filho mais novo de Juan de Jasso, conselheiro particular de Jean d'Albret, rei de Navarra, e de sua esposa, Maria de Azpilcueta y Xavier, herdeira única de duas famílias nobres navarras. Nasceu no castelo de sua mãe, Xavier ou Xavero, ao pé dos Pirineus e próximo à pequena cidade de Sanguesa, em 7 de abril de 1506, segundo um registro familiar, embora seus primeiros biógrafos fixem seu nascimento em 1497. Seguindo um costume espanhol da época, que permitia aos filhos escolherem o sobrenome de qualquer um dos pais, ele adotou o da mãe; as melhores autoridades escrevem "Francisco de Xavier" (Lat. Xaverius) em vez de "Francisco Xavier", já que Xavier é originalmente um nome de lugar.
Em 1524 foi para a Universidade de Paris, onde ingressou no Colégio de Santa Bárbara, então sede dos estudantes espanhóis e portugueses, e em 1528 foi nomeado professor de filosofia aristotélica no Colégio de Beauvais. Em 1530 obteve o título de mestre em artes. Ele e o savoiardo Pierre Lefevre, com quem dividia alojamento, já haviam feito, em 1529, a amizade de Inácio de Loyola — como Xavier, natural do País Basco espanhol. Inácio conseguiu, embora no caso de Xavier após alguma resistência, conquistar sua simpatia pelos projetos missionários (ver LOYOLA, INÁCIO); e ambos estavam entre os sete que, incluindo o próprio Loyola, fizeram os votos originais dos jesuítas em 15 de agosto de 1534. Permaneceram em Paris por mais dois anos; mas em 15 de novembro de 1536 partiram para a Itália, para planejar com Inácio a conversão dos muçulmanos da Palestina. Em janeiro de 1537 chegaram a Veneza. Como alguns meses teriam de se passar antes que pudessem embarcar para a Palestina, Inácio decidiu que o tempo fosse parcialmente dedicado ao trabalho hospitalar em Veneza e, mais tarde, na viagem a Roma. Assim, Xavier dedicou-se por nove semanas ao hospital de incuráveis e, em seguida, partiu com oito companheiros para Roma, onde o Papa Paulo 3º aprovou a empreitada. Retornando a Veneza, Xavier foi ordenado sacerdote no Dia de São João, 24 de junho de 1537; mas a eclosão da guerra entre Veneza e a Turquia pôs fim à expedição à Palestina, e os companheiros se dispersaram por um ano em missão doméstica nas cidades italianas. Nicolas Bobadilla e Xavier dirigiram-se primeiro a Monselice e, depois, a Bolonha, onde permaneceram até serem chamados a Roma por Inácio no final de 1538.
Inácio reteve Xavier em Roma até 1541 como secretário da Companhia de Jesus (ver JESUÍTAS para os acontecimentos do período de 1538–1541). Nesse meio-tempo, João 3º, rei de Portugal, havia decidido enviar uma missão aos seus domínios nas Índias, e solicitara ao papa, por meio de seu enviado Pedro Mascarenhas, seis jesuítas. Inácio podia poupar apenas dois, e escolheu Bobadilla e um português chamado Simão Rodrigues para a missão. Rodrigues partiu imediatamente para Lisboa a fim de tratar com o rei, que acabou decidindo mantê-lo em Portugal. Bobadilla, chamado a Roma, chegou ali pouco antes da partida de Mascarenhas, mas adoeceu gravemente, ficando impossibilitado de responder ao chamado.
Diante disso, Inácio, em 15 de março de 1540, ordenou que Xavier deixasse Roma no dia seguinte com Mascarenhas, a fim de se juntar a Rodrigues na missão para as Índias. Xavier obedeceu, esperando apenas o tempo necessário para receber a bênção do papa, e partiu para Lisboa, onde foi apresentado ao rei, conquistando rapidamente sua total confiança, comprovada especialmente pela concessão de quatro breves papais obtidos para ele, um dos quais o nomeava núncio papal nas Índias. Em 7 de abril de 1541, embarcou em Lisboa com Martim Afonso de Sousa, governador designado da Índia, e viveu entre os marinheiros comuns, atendendo às suas necessidades espirituais e materiais, especialmente durante um surto de escorbuto. Após cinco meses de viagem, o navio chegou a Moçambique, onde o capitão decidiu passar o inverno, e Xavier foi acometido por um grave ataque de febre. Quando a viagem foi retomada, o navio fez escala em Malindi e Socotorá, chegando a Goa em 6 de maio de 1542. Exibindo seu breve a D. João de Albuquerque, bispo de Goa, pediu permissão para oficiar na diocese e imediatamente começou a caminhar pelas ruas tocando um pequeno sino, chamando a todos para que viessem, e enviassem seus filhos e servos, à "doutrina cristã" ou instrução catequética na igreja principal.
Passou cinco meses em Goa, e então voltou sua atenção à "Costa da Pesca", onde ouvira dizer que os Paravas, uma tribo envolvida na pesca de pérolas, haviam recaído no paganismo após terem professado o Cristianismo. Trabalhou diligentemente entre eles por quinze meses e, no fim de 1543, retornou a Goa.
Em Travancor, diz-se que fundou nada menos que quarenta e cinco comunidades cristãs. Deve-se notar que suas próprias cartas contêm, tanto nessa época como mais tarde, uma refutação explícita do dom miraculoso das línguas que lhe foi atribuído ainda em vida e que aparece no ofício do Breviário para sua festa. Não apenas era obrigado a empregar intérpretes, como também relata que, na ausência deles, era forçado a se comunicar apenas por sinais.
Enviou um missionário à ilha de Manaar, e ele mesmo visitou o Ceilão e Mailapur (Meliapor), o tradicional túmulo do apóstolo Tomé, onde chegou em abril de 1544, permanecendo ali por quatro meses. Em Malaca, onde chegou em 25 de setembro de 1545, permaneceu mais quatro meses, mas teve relativamente pouco sucesso. Enquanto estava em Malaca, incentivou o rei João 3º de Portugal a estabelecer a Inquisição em Goa para reprimir o Judaísmo, mas o tribunal só foi instituído em 1560. Após visitar Ambon, as Molucas e outras ilhas do arquipélago malaio, retornou a Malaca em julho de 1547 e encontrou três recrutas jesuítas vindos da Europa à sua espera. Por essa época, a cidade foi atacada pela frota de Achém, sob o comando do rajá de Pedir, em Sumatra; e os primeiros biógrafos de Xavier relatam uma história dramática de como ele incitou o governador à ação. Essa história é alvo de sérias suspeitas, pois, além dos milagres narrados, há grandes discrepâncias entre as histórias seculares portuguesas e os relatos escritos ou inspirados por cronistas jesuítas do século 17.
Enquanto estava em Malaca, Xavier conheceu um exilado japonês chamado Yajiro (conhecido nas biografias como Anger, Angero ou Anjiro), que o inflamou com zelo pela conversão do Japão. Contudo, ele primeiro revisitou a Índia e, depois, retornando a Malaca, embarcou rumo ao Japão, acompanhado por Yajiro, agora conhecido como Paulo da Santa Fé. Chegaram a Kagoshima em 15 de agosto de 1549 e permaneceram no Japão até 20 de novembro de 1551 (ver JAPÃO, § 8). A bordo da "Santa Cruz", o navio no qual retornou do Japão para Malaca, Xavier discutiu com Diogo Pereira, o capitão, um projeto de viagem missionária à China. Concebeu o plano de persuadir o vice-rei da Índia portuguesa a despachar uma embaixada à China, junto à qual poderia se infiltrar, apesar da lei que então excluía estrangeiros daquele império. Chegou a Goa em fevereiro de 1552 e obteve do vice-rei o consentimento para o plano da embaixada chinesa, bem como a nomeação de Pereira como embaixador. Xavier deixou a Índia em 25 de abril de 1552 rumo a Malaca, com a intenção de encontrar-se ali com Pereira e reembarcar na "Santa Cruz".
A história de sua detenção pelo governador (oficialmente denominado capitão) de Malaca — um filho de Vasco da Gama chamado Álvaro de Ataíde ou Athayde — é contada com muitos detalhes pitorescos por F. M. Pinto e alguns dos biógrafos jesuítas, que retratam Ataíde como movido unicamente por malícia e interesse próprio. Ataíde parece ter se oposto não tanto à missão, mas ao posto atribuído a Pereira, que considerava inadequado para o cargo de embaixador. O direito de enviar um navio para comerciar com a China era altamente valorizado e custava grandes somas, e Pereira, como comandante da expedição, desfrutaria de privilégios comerciais que Ataíde, ex officio, tinha o poder de conceder ou negar. É duvidoso que o governador tenha excedido seu direito legal ao recusar-se a permitir que Pereira prosseguisse; nessa posição manteve-se firme, mesmo quando Xavier, se se pode confiar nos biógrafos jesuítas, exibiu o breve que lhe conferia o título de núncio papal e ameaçou Ataíde com excomunhão. Sobre a liberdade pessoal de Xavier, contudo, não foi imposta nenhuma restrição. Ele embarcou sem Pereira em 16 de julho de 1552. Após uma breve estadia em Singapura, de onde enviou várias cartas à Índia e à Europa, o navio chegou, no final de agosto de 1552, a Changchuen-shan (Ilha de São João), ao largo da costa de Kwang-tung, que servia como porto e ponto de encontro para europeus, então ainda não admitidos no território continental chinês.
Xavier foi acometido por febre logo após sua chegada e sofreu atrasos devido à falha do intérprete que contratara, bem como à relutância dos portugueses em tentar a viagem até Cantão com o objetivo de desembarcá-lo. Já havia providenciado sua passagem em uma junca chinesa, quando foi novamente atacado pela febre, vindo a falecer em 2 de dezembro ou, segundo algumas fontes, em 27 de novembro de 1552. Foi sepultado próximo à cabine onde morreu, mas seu corpo foi mais tarde transferido para Malaca, e dali para Goa, onde permanece em um magnífico relicário (ver J. N. da Fonseca, An Historical and Archaeological Sketch of Goa, Bombaim, 1878). Foi beatificado por Paulo 5º em 1619 e canonizado por Gregório 15º em 1621.
Na aparência, Xavier não era nem espanhol nem basco. Tinha olhos azuis ou cinzentos, e cabelos e barba claros, que embranqueceram devido às dificuldades que enfrentou no Japão. Que ele era de baixa estatura é comprovado pelo comprimento do caixão em que seu corpo ainda é preservado, com menos de 1,55 metro (Fonseca, op. cit., p. 296). Muitos milagres lhe foram atribuídos; uma lista oficial deles, supostamente atestados por testemunhas oculares, foi elaborada pelos auditores da Rota quando foram iniciados os processos para sua canonização, e encontra-se preservada em manuscrito na Biblioteca do Vaticano. A afirmação de que Xavier deve ser considerado o maior dos missionários cristãos desde o primeiro século d.C. se baseia em evidências mais concretas. Seus biógrafos jesuítas lhe atribuem a conversão de mais de 700.000 pessoas em menos de dez anos; e embora esses números sejam absurdos, a obra que Xavier realizou foi enorme. Ele inaugurou novas frentes missionárias de Ormuz até o Japão e o Arquipélago Malaio, deixando uma comunidade cristã organizada onde quer que pregasse; dirigia por correspondência a política eclesiástica de João 3º e de seu vice-rei na Índia; estabeleceu e controlou a Companhia de Jesus no Oriente. Sendo ele mesmo um asceta e místico, para quem as realidades espirituais eram mais concretas do que o mundo visível, possuía o forte senso prático que distinguia outros místicos espanhóis, como Santa Teresa, Luís de León ou Raimundo Lúlio. Essa qualidade se exemplifica de modo especial em suas cartas a Caspar Baertz (Barzaeus), o jesuíta flamengo que enviou a Ormuz, ou em suas sugestões para o estabelecimento de um entreposto português no Japão. Supremo como organizador, parece também ter possuído uma personalidade singularmente cativante, que lhe granjeava a amizade até mesmo de piratas e valentões com quem era forçado a conviver em suas viagens. Críticos modernos de sua obra observam que ele não fez qualquer tentativa de compreender as religiões orientais que combatia, e o censuram por invocar o auxílio da Inquisição e por sancionar a perseguição aos nestorianos em Malabar. Ele se esforçou, com um sucesso desastroso para o império português, por converter o governo em Goa em uma agência de proselitismo. Ao longo de sua vida, permaneceu em estreito contato com Inácio de Loyola, que, segundo se diz, teria escolhido Xavier como seu sucessor à frente da Companhia de Jesus. De fato, poucas semanas após a morte de Xavier, Inácio enviou cartas convocando-o de volta à Europa com esse objetivo.
Fonte: Britannica (Kingsley Garland Jayne)