O Livro do Apocalipse, também denominado Apocalipse de João, é o último livro do Novo Testamento, concluindo o cânon bíblico cristão. Escrito em grego koiné por volta de 95 d.C., durante o reinado do imperador Domiciano (81–96 d.C.), é atribuído a João, identificado no texto como um profeta cristão exilado na ilha de Patmos, no mar Egeu (Apocalipse 1:9). Preservado em manuscritos como o Papiro 18 (c. 300 d.C.), Codex Sinaiticus (século IV) e Codex Alexandrinus (século V), o livro combina os gêneros epistolar, apocalíptico e profético, sendo o único texto apocalíptico canônico do Novo Testamento. Sua relevância repousa na centralidade para a escatologia cristã, ao descrever visões simbólicas que culminam na segunda vinda de Cristo. O termo “apocalipse” deriva de ἀποκάλυψις, que significa “revelação” ou “desvendamento”, refletindo a divulgação de mistérios divinos. Embora tradicionalmente associado a João, o Apóstolo, o consenso acadêmico moderno aponta para um autor distinto, provavelmente ligado a uma comunidade joanina, devido a diferenças estilísticas com outros escritos joaninos. A datação é fundamentada em alusões ao culto imperial romano e à figura da Besta, possivelmente uma referência codificada ao imperador Nero (Apocalipse 13:18), reinterpretada em um contexto posterior.
A estrutura do texto inicia-se com uma introdução epistolar (Apocalipse 1:1–3:22), contendo cartas dirigidas às sete igrejas da Ásia Menor — Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia —, seguidas por visões apocalípticas (Apocalipse 4:1–22:5) que retratam o trono de Deus, os sete selos, trombetas e taças, além de figuras como a Mulher vestida do sol, o Dragão e a Besta. A narrativa alcança seu ápice na descrição da Nova Jerusalém, simbolizando a restauração divina. O livro faz amplo uso de alusões ao Antigo Testamento, especialmente a Daniel, Ezequiel, Isaías e Zacarias, sem citações diretas, adaptando imagens para um contexto cristão. A composição é marcada por repetições de frases-chave e números simbólicos, como o sete, que denota plenitude, e o 666, associado à imperfeição e à oposição a Deus. O propósito teológico é exortar as comunidades cristãs a resistirem à assimilação à cultura imperial romana, oferecendo esperança na vitória definitiva de Cristo sobre o mal.
A inclusão do Apocalipse no cânon foi marcada por debates, especialmente no cristianismo oriental, onde algumas igrejas o rejeitaram devido a seu estilo singular e associações com grupos como os montanistas. Dionísio de Alexandria (c. 248) questionou sua autoria apostólica, enquanto Atanásio (c. 367) e concílios como o de Hipona (393) o confirmaram como canônico. Durante a Reforma Protestante, Lutero e Zuínglio expressaram reservas, mas o Concílio de Trento (1546) reafirmou sua canonicidade. A complexidade simbólica do texto gerou múltiplas interpretações: historicista, que enxerga uma visão panorâmica da história; preterista, centrada nos eventos do século I; futurista, que projeta acontecimentos futuros; e idealista, que vê as visões como alegorias espirituais. Liturgicamente, o Apocalipse reflete a celebração eucarística, com hinos e imagens que ecoam a liturgia celestial, como destacado por teólogos como Joseph Ratzinger, que conecta o Cordeiro sacrificial à vitória pascal de Cristo.