Freeman Dyson (1923-2020), Freeman John Dyson, nascido em 15 de dezembro de 1923 em Crowthorne, Berkshire, Inglaterra, e falecido em 28 de fevereiro de 2020 em Plainsboro, Nova Jersey, aos 96 anos, foi um físico teórico e matemático britânico-americano cuja obra abrangeu desde a eletrodinâmica quântica até a astrofísica, a teoria dos números e a engenharia. Professor emérito no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, Dyson destacou-se por sua capacidade de conectar ideias aparentemente díspares, propondo conceitos visionários como a esfera de Dyson e a árvore de Dyson, que continuam a inspirar a ciência e a ficção científica. Como cristão não denominacional, sua visão de mundo integrava a ciência e a espiritualidade, enfatizando a humildade diante do universo e a complementaridade entre fé e razão. Apesar de sua genialidade, Dyson mantinha uma postura crítica frente a consensos científicos, como nas discussões sobre mudanças climáticas, o que gerou tanto admiração quanto controvérsia.
Filho do compositor George Dyson e de Mildred Atkey, uma advogada que se tornou assistente social, Dyson cresceu em um ambiente intelectualmente estimulante. Desde a infância, demonstrou fascínio por números grandes e pelo cosmos, influenciado por obras como "Men of Mathematics" de Eric Temple Bell. Aos quatro anos, tentou calcular o número de átomos no Sol, um prenúncio de sua curiosidade insaciável. Educado na Winchester College, onde seu pai era diretor musical, e depois em Trinity College, Cambridge, Dyson estudou matemática pura com Abram Besicovitch, destacando-se como um prodígio. Durante a Segunda Guerra Mundial, aos 19 anos, trabalhou na Seção de Pesquisa Operacional do Comando de Bombardeiros da RAF, desenvolvendo métodos analíticos para otimizar formações de bombardeiros, uma experiência que moldou sua visão pragmática da ciência.
Após a guerra, Dyson consolidou sua carreira nos Estados Unidos. Em 1947, sob recomendação de G.I. Taylor, ingressou na Universidade Cornell como bolsista, trabalhando com Hans Bethe e conhecendo Richard Feynman. Sua colaboração com Feynman resultou em um marco na física: em 1949, Dyson demonstrou a equivalência entre os diagramas de Feynman e os métodos de Julian Schwinger e Shin’ichirō Tomonaga na eletrodinâmica quântica, facilitando a aceitação da teoria pela comunidade científica. Sua série de Dyson, uma ferramenta perturbativa, e as regras para diagramas de Feynman resolveram problemas cruciais de renormalização. Em 1951, tornou-se professor em Cornell, sem doutorado, e em 1952 foi convidado por J. Robert Oppenheimer para um cargo vitalício no Instituto de Estudos Avançados, onde permaneceu até sua aposentadoria em 1994. Durante os anos 1950 e 1960, Dyson contribuiu para projetos inovadores, como o Orion, que propunha propulsão espacial por pulso nuclear, e o reator nuclear TRIGA, usado em aplicações médicas.
Dyson também deixou marcas na matemática e em outras áreas da física. Na teoria dos números, desenvolveu a transformada de Dyson, fundamental para o teorema de Mann, e na física da matéria condensada, demonstrou, com Andrew Lenard, o papel do princípio de exclusão de Pauli na estabilidade da matéria. Sua descoberta, em colaboração com Hugh Montgomery, de uma conexão entre a distribuição de números primos e a física quântica, via função zeta de Riemann, revelou paralelos inesperados entre disciplinas. Além disso, Dyson propôs ideias especulativas, como a esfera de Dyson, uma megastrutura hipotética para capturar a energia estelar, e a árvore de Dyson, uma planta geneticamente modificada para habitar cometas, refletindo sua visão de uma biotecnologia verde alimentada por energia solar. Sua teoria da origem dual da vida, sugerindo que células precederam enzimas e genes, demonstra sua abordagem interdisciplinar.
Como cristão, Dyson frequentava diversas igrejas, de presbiterianas a católicas, e via a ciência e a religião como perspectivas complementares sobre o universo, ambas limitadas mas valiosas. Ele rejeitava dogmas, fossem científicos ou religiosos, defendendo que boas ações superam disputas teológicas. Sua crítica ao consenso sobre mudanças climáticas, argumentando que modelos climáticos ignoravam benefícios do CO2, como aumento na produtividade agrícola, gerou polêmica. Embora reconhecesse o aquecimento global, Dyson priorizava outros problemas globais e criticava a intolerância a dissensos científicos. Essa postura subversiva, descrita por amigos como uma tendência a “quebrar o gelo” de consensos, era central em sua abordagem científica e pessoal.
Dyson recebeu inúmeros prêmios, incluindo a Medalha Lorentz (1966), a Medalha Max Planck (1969) e o Prêmio Templeton (2000), mas nunca o Nobel, o que alguns, como Steven Weinberg, consideraram uma injustiça. Casado duas vezes, primeiro com Verena Huber, com quem teve dois filhos, Esther e George, e depois com Imme Jung, com quem teve quatro filhas, Dyson foi descrito como reservado, mas com uma mente inquieta. Faleceu em 2020, após complicações de uma queda, deixando um legado de contribuições técnicas e uma visão humanística que entrelaçava ciência, ética e espiritualidade. Sua autobiografia, “Maker of Patterns” (2018), e ensaios em publicações como a New York Review of Books revelam um pensador que via a ciência como uma busca pela verdade, temperada pela reverência ao mistério do cosmos.