21.julho.2025
Autoenganadores
“Sede, porém, praticantes da palavra, e não somente ouvintes, enganando a vós mesmos.” – Tiago 1:22
Na religião, há dois extremos igualmente equivocados e perigosos – e dois tipos distintos de hipócritas que se encaixam nesses extremos. Um grupo acredita que a religião se resume à aceitação de certas doutrinas abstratas, ou seja, à fé, mas dá pouca ou nenhuma importância às boas obras. O outro grupo, por sua vez, acredita que a religião se resume às boas obras – embora sejam obras mortas – e praticamente ignora a fé em Jesus Cristo, esperando alcançar a salvação por mérito próprio. Os judeus da época de Jesus, em sua maioria, pertenciam a esse segundo grupo. Seus líderes religiosos ensinavam que a obediência à lei cerimonial era suficiente para a salvação.
Quando o apóstolo Paulo começou a pregar, ele confrontou esse erro diretamente. Sua missão era defender a verdade de que a justificação vem pela fé em Jesus Cristo, e não pela obediência à lei, como ensinavam os fariseus e escribas. Paulo insistiu tanto nessa doutrina – tanto em suas pregações quanto em suas cartas – que acabou estabelecendo firmemente essa verdade na igreja cristã.
Contudo, com o tempo, alguns cristãos passaram para o extremo oposto. Afirmavam que a salvação era somente pela fé, ignorando completamente as obras. Esqueciam-se de um princípio fundamental: a verdadeira fé sempre produz boas obras. A própria fé, por si só, já é uma boa obra.
Esses dois erros são igualmente perigosos. De um lado, sem fé, ninguém pode ser perdoado ou justificado diante de Deus. De outro, sem santificação – ou seja, sem transformação de vida – ninguém está preparado para os serviços e alegrias celestiais. Imagine um pecador que abandona todos os seus erros e, aos seus próprios olhos, realiza obras perfeitas. Ainda assim, se ele não tiver fé na obra redentora de Jesus Cristo, não poderá ser perdoado. Da mesma forma, se alguém acredita que pode ser justificado pela fé, mas suas ações continuam más, precisa entender que essa fé está morta. E uma fé morta não pode justificar ninguém.
A carta de Tiago parece ter como objetivo principal esclarecer essa questão e colocar o assunto em seu devido lugar: mostrar a importância tanto da fé quanto das boas obras. Sua abordagem é prática e responde diretamente às principais dúvidas espirituais do seu tempo – e do nosso também.
As doutrinas da fé podem ser divididas em dois grupos: aquelas que tratam de Deus e aquelas que tratam da prática humana. Muitos pensam que doutrina só diz respeito a assuntos como os atributos de Deus, sua natureza, seus decretos e sua existência. Mas há também doutrinas práticas – e são essas que desejo abordar. Quando anunciei que começaria um ciclo de palestras práticas, talvez alguns tenham achado que isso significava que não haveria doutrina nelas. Mas não é o caso. Minha intenção, se Deus permitir, é tratar de doutrinas práticas, que tocam diretamente o nosso modo de viver.
A doutrina que proponho considerar hoje é esta:
Todo aquele que professa a fé, mas não vive o que reconhece como verdadeiro, está se enganando.
Entre os que se dizem cristãos, há dois tipos de hipócritas: os que enganam os outros e os que se enganam a si mesmos. O primeiro tipo finge ter uma moral exemplar e demonstra uma religiosidade externa para esconder o ódio que ainda sente por Deus. Por fora, parecem piedosos. Esse era o caso dos fariseus: eram vistos como pessoas profundamente religiosas por causa das esmolas que davam, das longas orações que faziam e do rigor cerimonial que demonstravam.
O segundo tipo é aquele que Tiago menciona. Esses não enganam os outros, mas se enganam. São pessoas que aceitam as verdades da fé, que têm crenças ortodoxas, mas que vivem de maneira relaxada e descomprometida. Pensam que religião se resume a conceitos e ideias, e não se preocupam com a prática diária. Assim, acabam acreditando que são bons cristãos, mesmo estando longe da verdadeira santidade.
Gostam de ouvir boas pregações e se encantam com doutrinas profundas, emocionam-se com reflexões sobre o caráter de Deus e seu governo. Mas, quando se trata de viver segundo os mandamentos de Deus, não se esforçam. Também não gostam de ouvir sermões que cobrem a parte prática da vida cristã. São ouvintes da palavra, mas não praticantes.
Talvez esta noite estejam aqui pessoas de ambos os tipos de hipócritas. E, antes de continuar, quero deixar claro: não estou falando agora com aqueles que, por meio de uma aparência de moralidade e religiosidade, enganam os outros. Hoje, quero me dirigir àqueles que sabem o que é certo, mas não praticam – que ouvem a verdade, mas não a colocam em prática.
Talvez seja bom dizer isso logo no início para prender sua atenção: é bastante provável que haja mais de um aqui com esse perfil. Eu não sei os nomes, mas quero que entenda que, se esse é o seu caso, então estou falando diretamente com você – como se tivesse chamado seu nome em voz alta. É a você que me dirijo. Você ouve a Palavra de Deus e aceita sua verdade na teoria, mas a contradiz com sua vida. E eu afirmo: você está se enganando. O próprio texto bíblico afirma isso claramente. Aqui está um “Assim diz o Senhor”: todos que vivem assim são enganados por si mesmos. E eu poderia citar muitas outras passagens das Escrituras que dizem o mesmo. Mas quero, além disso, chamar sua atenção para outras reflexões.
Primeiro, você não crê de verdade na Palavra. Você a ouve e admite que ela é verdadeira, mas, no fundo, você não crê de fato. Deixe-me explicar: muitas pessoas se enganam nesse ponto. Não porque a consciência as engane, mas porque elas não compreendem bem o que a consciência está dizendo.
Existem duas coisas essenciais para a verdadeira fé cristã. A primeira é a convicção intelectual de que algo é verdadeiro. Mas aqui, não me refiro apenas a uma verdade abstrata e impessoal, mas à verdade em relação direta com a sua vida e conduta. A pessoa precisa compreender intelectualmente o que isso significa para si mesma. E, em segundo lugar, a verdadeira fé inclui uma disposição do coração que corresponde a essa convicção. Esse elemento afetivo é parte essencial da fé verdadeira. Quando alguém compreende a verdade e reconhece o que ela significa para si, é necessário que também a aceite de coração. As duas coisas – razão e afeto – são indispensáveis para a fé genuína. Apenas ter uma opinião correta sobre algo não é fé salvadora. Mas quando essa convicção vem acompanhada de uma resposta sincera do coração, então há fé real.
E sempre que essa fé real existe, ela se manifesta em ações. A conduta acompanha a fé verdadeira. Tão certo quanto a vontade governa nossas ações, é certo que a pessoa age conforme aquilo em que crê. Suponha que eu pergunte a alguém: “Você acredita nisso?” e ele responda: “Sim, eu acredito.” O que ele quer dizer com isso? Apenas que tem uma opinião formada? Ele pode ter essa opinião e, ainda assim, não ter fé de verdade.
Um indivíduo pode até sentir simpatia por uma verdade abstrata. E muita gente confunde esse sentimento com fé. Aprovam o caráter e o governo de Deus, e até acham belo o plano de salvação – mas apenas quando olham para essas coisas de forma distante, conceitual. Muitas pessoas, ao ouvirem um sermão eloquente sobre os atributos de Deus, se sentem tocadas, impressionadas, emocionadas. Mas isso, por si só, não é fé. Já se ouviu falar de descrentes que foram profundamente comovidos por pregações assim. A razão é que a mente humana, por sua própria constituição, tende a aprovar a verdade quando a vê de forma abstrata.
Até mesmo os demônios mais perversos do inferno reconheceriam a beleza da verdade, se pudessem observá-la sem pensar em si mesmos. Se eles pudessem olhar para o evangelho sem relacioná-lo ao seu próprio egoísmo, não só reconheceriam sua veracidade, como até o aprovariam. Todo o inferno, se fosse possível enxergar Deus como um ser absoluto, sem considerar sua relação com eles, aprovaria seu caráter. A razão pela qual os ímpios e os demônios odeiam a Deus é porque o enxergam em confronto direto com seu egoísmo. É por isso que se rebelam.
É justamente aí que muitas pessoas se iludem quanto à religião. Elas reconhecem que o evangelho é verdadeiro e até se alegram ao refletir sobre isso. Mas não se colocam sob a luz dessa verdade. E, assim, gostam de ouvir esse tipo de pregação, dizem que se sentem “alimentadas” por ela – mas, saindo dali, não praticam o que ouviram.
Veja esse exemplo: um homem está doente, sensibilizado. Ao ouvir sobre Jesus como Salvador terno e misericordioso, seu coração se enternece, e ele se emociona. Mas por quê? Pela mesma razão que se emocionaria lendo sobre o herói de um romance. Ele sente algo, mas não obedece a Cristo. Não muda sua vida. Nunca faz nada por amor ou obediência a Jesus. Apenas contempla Jesus de forma abstrata, admira seu caráter, mas permanece no pecado, preso à amargura.
Fica claro, portanto, que a fé verdadeira precisa ter efeito prático. Ela deve transformar a vida e produzir boas obras. Caso contrário, não é a fé do evangelho – não é fé real.
Mais uma vez: está evidente que vocês estão se enganando, pois toda religião verdadeira se baseia na obediência. Por isso, não importa o quanto você diga aprovar o cristianismo – se você não vive de acordo com ele, então você não tem religião de fato. Quando digo que a religião consiste em obediência, não me refiro a uma obediência apenas externa. A verdadeira fé atua por meio do amor e produz ações condizentes com esse amor. A única obediência legítima é a que vem do coração – o amor é o cumprimento da lei. Portanto, a verdadeira religião consiste em obedecer a Deus de coração e viver de forma coerente com isso.
Assim, aquele que ouve a verdade, concorda com ela, mas não a coloca em prática, está se iludindo. Ele é como alguém que olha seu rosto em um espelho, se vê por um instante, mas logo se afasta e esquece completamente sua aparência.
Mais uma vez: esse estado de espírito que vocês confundem com religião – uma simples aceitação intelectual da verdade e uma aprovação teórica do que é certo – longe de ser sinal de piedade, é algo que pode ser compartilhado tanto por pessoas más quanto por pessoas boas, desde que encarem a verdade de forma abstrata. Essa é uma das razões pelas quais é tão difícil convencer os pecadores de que eles realmente estão em oposição a Deus e à sua verdade. O ser humano, por natureza, tende a admirar a virtude, a achar bonito o caráter e o governo de Deus e a aceitar a verdade da Bíblia – desde que tudo isso seja visto à distância, sem se aplicar diretamente à sua vida pessoal.
Quando ouvem sermões que tratam das verdades bíblicas apenas de forma genérica, sem aplicação prática direta, muitos conseguem passar anos na igreja sem nunca perceber que estão, na realidade, em rebeldia contra Deus.
Estou cada vez mais convencido de que há multidões de pessoas em nossas igrejas – especialmente naquelas onde as doutrinas do evangelho são tratadas de forma teórica – que gostam de ouvir sermões, gostam de ouvir falar de Deus e de assuntos religiosos, mas ainda não se converteram. E é certo que muitas dessas pessoas chegam até a se tornar membros das igrejas simplesmente porque gostam da pregação ortodoxa, mesmo que não coloquem a palavra em prática. Eis o problema: nunca ouviram uma pregação que aplicasse a verdade diretamente às suas vidas, e agora, mesmo dentro da igreja, sempre que ouvem uma mensagem que confronta sua realidade pessoal, demonstram sua resistência e inimizade contra a verdade.
Essas pessoas acreditam que são cristãs porque conseguem escutar pregações doutrinárias e concordar com elas, ou porque leem a Bíblia e dizem aprová-la. No entanto, se essa fé não é prática – se não influencia sua forma de viver – então essa fé não tem mais valor do que a fé dos demônios.
Observações
Muitas vezes, falsas representações sobre os cristãos verdadeiros causam grandes prejuízos.
Dizem que um pregador famoso, recentemente, definiu o cristão como “um pouco de graça e uma grande dose de demônio”. Eu rejeito completamente essa definição – ela é falsa e destrutiva. Há quem tente fazer parecer que os cristãos são as pessoas mais perversas da terra. É verdade que, quando um cristão peca, seu erro é grave, pois ele peca contra mais luz e responsabilidade. Um cristão que peca incorre em grande culpa. Também é verdade que os cristãos sinceros reconhecem profundamente a gravidade de seus pecados e se sentem muito humilhados ao comparar sua vida com o que deveriam viver. Por isso, suas confissões e lamentos costumam ser intensos.
Mas isso não significa que eles sejam tão maus quanto o diabo, ou qualquer coisa parecida. Isso é um erro evidente. Supor que alguém pode ser um verdadeiro cristão e, ao mesmo tempo, viver a serviço do diabo e sem nenhum sinal de vida espiritual é não apenas falso, mas extremamente perigoso. Essa ideia incentiva hipócritas antinomianos (pessoas que rejeitam a obrigação de obedecer à lei de Deus) e até apóstatas, além de prejudicar a imagem do cristianismo diante dos incrédulos.
A verdade é simples: quem não obedece a Deus não é cristão. A doutrina contrária enche as igrejas de pessoas cuja suposta espiritualidade se baseia apenas na aceitação de certas ideias, mas que nunca se propuseram sinceramente a obedecer ao evangelho com a vida.
Aqueles que valorizam mais as doutrinas do que a prática da fé, e que se apegam mais às verdades sobre Deus do que às exigências que essas verdades impõem sobre sua própria conduta, são antinomianos.
Há muitos que aceitam e até amam as doutrinas bíblicas que tratam de Deus e de sua glória, mas que não têm nenhuma verdadeira religião. Essas pessoas geralmente dizem que só “se alimentam” espiritualmente quando ouvem sermões centrados em certos pontos doutrinários abstratos – nunca quando são confrontadas com verdades práticas. São exatamente essas as pessoas contra as quais o apóstolo Tiago escreveu sua carta: gente que faz da religião um conjunto de ideias, mas que não vive de maneira santa.
3. Há um tipo de líder religioso que rejeita ouvir sobre Deus, seus atributos, a Trindade, seus decretos, a eleição e temas semelhantes. Esses mestres desprezam o ensino doutrinário e colocam toda a ênfase apenas na prática religiosa. No entanto, agem como fariseus. Fazem grandes demonstrações de piedade exterior e podem até se emocionar com certos momentos poéticos da religião, mas se recusam a acolher as grandes verdades relacionadas a Deus, negando as doutrinas essenciais do evangelho.
4. O verdadeiro propósito da doutrina correta, quando de fato é crida, é gerar uma prática correta. Sempre que a vida de alguém está errada, você pode ter certeza de que há erro também em sua fé. A crença do coração é tão corrompida quanto as ações externas. Talvez a pessoa até tenha noções e teorias corretas sobre a doutrina, mas não crê nelas de verdade.
Por exemplo: pense naquele pecador descuidado, que vive correndo atrás do dinheiro e das riquezas deste mundo. Ele realmente acredita que um dia vai morrer? Você pode dizer que ele sabe disso. Mas, enquanto ele vive desse modo, claramente não acredita de verdade. A morte não está presente em seus pensamentos. Portanto, ele não crê sinceramente. Se você perguntar, ele vai responder: “Claro, sei que todos vão morrer”. Mas isso é apenas um reconhecimento superficial. Se essa convicção realmente se fixasse em sua mente e o tocasse de forma profunda, sua conduta mudaria inevitavelmente. Ele passaria a viver com outra perspectiva – a da eternidade. O mesmo se aplica à religião: aquilo que alguém realmente crê, determinará com certeza sua maneira de viver, do mesmo modo que a vontade guia nossas ações.
5. A igreja tem seguido por muito tempo um caminho antinomiano. Tem insistido em doutrinas abstratas e deixado de lado o que é prático. Tem valorizado mais a ortodoxia em temas que pouco influenciam o comportamento cristão do que nas doutrinas que exigem mudanças de vida. Basta olhar para os credos da igreja: eles enfatizam verdades teóricas, mas não a prática da fé.
Um homem pode ser profundamente errado na maneira como vive, e ainda assim ser considerado um bom membro da igreja, desde que não seja abertamente profano ou imoral. Isso é absurdo. E é por isso que, quando alguém tenta purificar a igreja de erros práticos, encontra tanta resistência. Por que há tanto desconforto quando se denuncia o envolvimento da igreja com a embriaguez, com a quebra do domingo ou com a escravidão? Por que é tão difícil motivar a igreja a fazer algo realmente eficaz pela conversão do mundo? Quando é que a igreja será purificada ou o mundo evangelizado? Isso só acontecerá quando estiver claro que uma prática herética é prova de uma crença herética. Enquanto um homem puder negar o evangelho por meio de sua conduta cotidiana e ainda assim continuar sendo visto como um bom cristão, o avanço será impossível.
6. Observe como um pastor pode se enganar em relação à sua congregação. Ele prega frequentemente doutrinas abstratas, desconectadas da vida prática, e seu povo diz que está sendo “alimentado” e que se alegra com isso. Ele então conclui que sua comunidade está crescendo espiritualmente. Mas isso não é, de modo algum, uma evidência confiável de verdadeira fé.
Se, por outro lado, quando ele prega doutrinas práticas, o povo responde com sinceridade, aplicando o ensino em suas vidas, isso sim é uma prova de amor verdadeiro à verdade.
Se o pastor percebe que sua congregação aprecia as pregações teológicas e abstratas, mas se incomoda quando ele traz ensinamentos práticos e desafiadores, pode concluir com segurança que, se houver alguma fé ali, está em estado muito fraco. E se, ao observar com cuidado, ele concluir que eles se recusam mesmo a acolher a doutrina prática, pode ter certeza de que ali não há sinal real de religião. Trata-se apenas de um grupo de antinomianos que pensa que pode ir para o céu com uma fé morta baseada apenas em crenças corretas no papel, mas sem correspondência na vida.
7. Veja como há uma grande multidão de líderes religiosos que estão se enganando.
Muitos acreditam que são cristãos por causa das emoções que sentem ao ouvir a verdade. No entanto, o que realmente acontece é que a verdade lhes é apresentada de forma superficial, sem que tenha qualquer impacto real sobre eles. Quando essa mesma verdade é trazida de maneira mais direta – desafiando seu orgulho e chamando-os a abandonar a mentalidade mundana – esses líderes resistem.
Olhe ao redor da igreja. Você verá uma multidão de igrejas e cristãos ortodoxos que vivem, ano após ano, se alimentando apenas das doutrinas abstratas da fé. Agora observe suas vidas: veja como essas crenças professadas têm tão pouca influência sobre o modo como vivem. Será que possuem uma fé genuína e salvadora? Isso é impossível.
Não estou dizendo que todos esses membros de igreja sejam impiedosos. Mas afirmo com clareza: aqueles que não vivem na prática aquilo que dizem crer – que ouvem a Palavra, mas não a colocam em prática – estão se enganando.
Agora eu pergunto: quantos de vocês realmente acreditam nas verdades que ouvem ser pregadas? Decidi pregar uma série de mensagens práticas. Isso não significa que vou deixar a doutrina de lado. De maneira nenhuma. O que eu quero é ver se, como igreja, vocês viverão aquilo que dizem crer. Se eu não conseguir convencê-los de que determinada doutrina é verdadeira, tudo bem – isso é motivo suficiente para vocês não seguirem aquilo. Mas, se eu conseguir mostrar com clareza, pelas Escrituras, que algo é verdade, e mesmo assim vocês se recusarem a praticar, então terei diante dos meus olhos a prova clara do tipo de caráter que vocês têm. E não me enganarei mais, pensando que esta é, de fato, uma igreja cristã.
Você tem consciência de que o evangelho está produzindo algum efeito real em sua vida, à medida que avança no conhecimento? Ele tem feito você se afastar das coisas do mundo? Essa é, de fato, a sua experiência? Quando você entende alguma verdade prática, você a ama? Você se alegra ao senti-la aplicada à sua vida? Sente prazer em praticá-la?
Se você não está crescendo em graça, se não está se tornando mais santo, se não está se submetendo à influência do evangelho, então está se enganando. Como está a situação agora com vocês, que são os anciãos desta igreja? E com vocês, chefes de família – todos vocês? Quando ouvem um sermão, vocês o guardam no coração e colocam em prática? Ou simplesmente aprovam o que ouvem com a mente, mas nunca o vivem?
Ai daquele que reconhece a verdade, mas não a obedece – como aquele homem que vê o próprio rosto num espelho, mas depois vai embora e logo esquece como era.
~
Charles Finney.
Lectures to Professing Christians, 1837.