Gabriel Biel (1420-1495), nascido entre 1420 e 1425 em Speyer, Alemanha, e falecido em 7 de dezembro de 1495 em Einsiedel, próximo a Tübingen, foi um eminente filósofo escolástico e teólogo, cuja vida e obra marcaram a transição entre a escolástica medieval e os primórdios da modernidade. Membro dos Cônegos Regulares da Congregação de Windesheim, ele integrou a espiritualidade austera dos Irmãos da Vida Comum com uma abordagem intelectual rigorosa, conciliando as tradições da via antiqua e da via moderna. Sua erudição, expressa em tratados teológicos, comentários litúrgicos e reflexões econômicas, reflete um compromisso com a ortodoxia cristã, equilibrado por uma abertura a questões práticas de seu tempo. Professor fundador da Universidade de Tübingen, Biel deixou um legado que influenciou o pensamento teológico e econômico, sendo reconhecido pela clareza de sua expressão e pela capacidade de sintetizar perspectivas filosóficas divergentes.
Filho de uma família de Speyer, Biel foi ordenado sacerdote em 1432 e iniciou seus estudos na Universidade de Heidelberg, onde obteve o bacharelado. Sua trajetória acadêmica o levou a Erfurt e Colônia, instituições que moldaram seu pensamento com ênfases distintas: Erfurt, influenciada pelo nominalismo de Guilherme de Ockham, e Colônia, centrada em Tomás de Aquino e na escolástica tradicional. Após retornar a Erfurt em 1451 para completar seus estudos, Biel desenvolveu uma abordagem teológica que harmonizava o rigor lógico de Ockham com elementos escotistas, ganhando a reputação de porta-voz articulado da via moderna. Sua formação diversa permitiu-lhe abordar questões teológicas com precisão, mantendo fidelidade à doutrina da Igreja, o que o diferenciou de outros nominalistas acusados de heterodoxia.
Na década de 1460, Biel assumiu o papel de pregador na Catedral de Mainz, onde também atuou como vigário. Durante esse período, envolveu-se na controvérsia envolvendo a eleição de Diether von Isenburg como arcebispo, defendendo Adolfo von Nassau em seu tratado "Defensorium Obedientiae Apostolicae". Nesse texto, ele articulou uma visão equilibrada do poder papal, reconhecendo a primazia do pontífice, mas defendendo a autoridade dos concílios gerais em casos extremos, uma posição alinhada com teólogos como Bernardo de Claraval. Perseguido por suas ideias, Biel fugiu de Mainz, mas continuou a exercer influência como superior dos cônegos em Butzbach e como provador no Rheingau, promovendo a espiritualidade dos Irmãos da Vida Comum. Em 1479, tornou-se provador do canonicato em Urach, consolidando sua liderança eclesiástica.
A convite do duque Eberhard I, Biel desempenhou um papel central na fundação da Universidade de Tübingen, onde, a partir de 1484, foi o primeiro professor de teologia e reitor em dois mandatos. Apesar de iniciar sua carreira docente aos sessenta anos, sua energia intelectual e clareza pedagógica elevaram o prestígio da instituição. Ele resistiu à nomeação do realista Johann Heynlin, defendendo a predominância do nominalismo, mas manteve um diálogo tolerante com outras correntes filosóficas. Sua obra principal, um comentário às "Sentenças" de Pedro Lombardo, influenciou profundamente Martinho Lutero, combinando a precisão nominalista com uma inclinação escotista nos últimos livros. Além disso, sua "Expositio Canonis Missae" ofereceu uma análise literal e mística da liturgia, permanecendo uma referência duradoura na teologia sacramental.
Biel também se destacou por suas contribuições à economia política, um campo em que suas ideias se mostraram notavelmente progressistas. Em seu tratado "Tractatus de Potestate et Utilitate Monetarum", ele condenou a manipulação monetária pelos governantes como uma exploração desonesta, defendendo que o preço justo de uma mercadoria deveria ser determinado pela necessidade humana, escassez e custo de produção. Diferentemente de Tomás de Aquino, Biel via o comércio como uma atividade intrinsecamente legítima, valorizando o trabalho e os riscos do comerciante. Suas reflexões econômicas, detalhadas no quarto livro de seu comentário às "Sentenças", anteciparam conceitos modernos de mercado, sendo elogiadas por economistas como Wilhelm Roscher por sua clareza e avanço em relação aos predecessores.
Nos últimos anos, Biel retirou-se para a Casa dos Irmãos de São Pedro em Einsiedel, onde faleceu. Sua espiritualidade, enraizada na simplicidade e na obediência à Igreja, permeava suas obras, que abordavam desde a liturgia até questões sociais, como os direitos dos camponeses e a justiça fiscal. Sua capacidade de integrar a piedade dos Irmãos da Vida Comum com a erudição escolástica fez dele uma figura singular, descrita por humanistas como Heinrich Bebel como o "monarca dos teólogos". Suas ideias, debatidas no Concílio de Trento, continuam a ressoar como testemunho de uma teologia que une fé, razão e compromisso com o bem comum.