Watchman Nee (1903-1972), Ni Tuosheng ou Nee T'o-sheng (倪柝聲), nascido Ni Tuosheng em 4 de novembro de 1903, na cidade de Fuzhou, província de Fujian, China, e falecido em 30 de maio de 1972, foi um líder cristão e teólogo cuja vida e obra deixaram marcas profundas no cristianismo do século XX. Sua trajetória, marcada por uma fé inabalável e uma abordagem prática à espiritualidade, reflete tanto a profundidade de sua convicção cristã quanto sua habilidade em estruturar comunidades e disseminar ensinos bíblicos em um contexto de adversidade. Perseguido após a Revolução Comunista, ele passou os últimos vinte anos de sua vida preso, mas seu legado perdura como testemunho de resiliência espiritual e dedicação ao evangelho.
Criado em uma família de sólida formação cristã, Nee era o terceiro de nove filhos de Ni Weng-hsiu, um oficial respeitado do Serviço Alfandegário Imperial, e Lin He-Ping, uma mulher de inteligência notável, educada em uma escola missionária metodista. O avô de Nee, um pregador anglicano talentoso, plantou as sementes da fé que floresceriam em sua vida. Batizado ainda bebê pela Igreja Metodista, ele cresceu em um ambiente onde a espiritualidade era parte integrante da vida cotidiana. Sua mãe, influenciada pela evangelista Dora Yu, desempenhou um papel crucial em sua formação, especialmente quando, após um incidente de disciplina injusta, pediu perdão ao filho, um gesto que o marcou profundamente.
Aos 13 anos, Nee ingressou na Escola Vernacular da Sociedade Missionária da Igreja em Fuzhou, iniciando sua educação formal. Mais tarde, no Trinity College, destacou-se academicamente, competindo com colegas como Wilson Wang em um ambiente desafiador, marcado por inundações e doenças. Sua conversão, aos 17 anos, ocorreu em 1920, durante reuniões de avivamento conduzidas por Dora Yu. Sozinho em seu quarto, Nee experimentou uma revelação pessoal da cruz de Cristo, reconhecendo a gravidade de seus pecados e a redenção oferecida por Jesus. Esse momento transformador o levou a uma vida de oração intensa e testemunho, convertendo quase todos os setenta amigos pelos quais orava diariamente.
Após sua conversão, Nee buscou formação espiritual. Inicialmente frequentou o Instituto Bíblico de Dora Yu em Xangai, mas foi dispensado por hábitos indisciplinados. Esse revés o levou a Margaret E. Barber, uma missionária britânica que se tornou sua mentora. Barber, com rigor e sabedoria, moldou o caráter de Nee, introduzindo-o aos escritos dos Irmãos de Plymouth, como John Nelson Darby e Jessie Penn-Lewis. Sua biblioteca pessoal, com mais de três mil volumes, refletia sua dedicação ao estudo bíblico, e ele desenvolvia métodos meticulosos para compreender e memorizar as Escrituras, destinando parte de sua renda à aquisição de livros espirituais.
Em 1922, Nee começou a organizar reuniões eclesiásticas em Fuzhou, lançando as bases do movimento das igrejas locais, que enfatizava a unidade dos crentes e a rejeição de divisões denominacionais. Sua teologia, influenciada pelos Irmãos de Plymouth, valorizava a liderança plural, a centralidade da Ceia do Senhor e a ausência de distinção entre clero e laicato. Ele via a igreja como o Corpo de Cristo, uma expressão viva da vontade divina. Durante os anos 1930, Nee estabeleceu igrejas em várias regiões da China, realizou conferências e publicou obras que articulavam sua visão de uma vida cristã prática e centrada em Cristo. Livros como "O Homem Espiritual" e "A Vida Cristã Normal" revelam sua habilidade em combinar teologia profunda com aplicações práticas, sempre apontando para a transformação do crente pelo Espírito.
Apesar de seu impacto, Nee enfrentou desafios. Sua associação com os Irmãos Exclusivos terminou em 1935 devido a divergências sobre a comunhão com outros cristãos. Sua vida pessoal também foi marcada por sacrifícios: apaixonado por Charity Chang desde a adolescência, ele renunciou ao relacionamento quando ela rejeitou sua fé, mas anos depois, já convertida, eles se casaram em 1934. Charity foi sua companheira fiel, especialmente durante sua prisão, sendo a única visitante permitida. No campo ministerial, Nee estruturou sua obra em quatro pilares: literatura espiritual, conferências para "vencedores", construção de igrejas locais e treinamento de jovens, visando perpetuar o testemunho cristão.
A ascensão do Partido Comunista em 1949 trouxe perseguição intensa. Em 1952, Nee foi preso sob acusações de crimes econômicos, como suborno e evasão fiscal, e submetido a "reeducação". Em 1956, enfrentou um julgamento público em Xangai, onde foi condenado a quinze anos de prisão. Mesmo isolado, manteve sua fé, deixando como testemunho final um bilhete escrito em seus últimos dias: "Cristo é o Filho de Deus que morreu pela redenção dos pecadores e ressuscitou após três dias. Esta é a maior verdade do universo. Morro por minha crença em Cristo." Faleceu em 1972, sem funeral ou anúncio público, e suas cinzas foram entregues à família após a cremação.
O legado de Nee reside em sua visão de uma igreja unificada e em sua capacidade de articular uma fé prática e teologicamente rica. Suas obras, traduzidas globalmente, continuam a inspirar cristãos, enquanto sua vida demonstra a força de uma espiritualidade enraizada na cruz, capaz de suportar perseguição e transformar comunidades.