Antão (251-356), nascido por volta de 12 de janeiro de 251 em Koma, no Baixo Egito, e falecido em 17 de janeiro de 356, foi um monge cristão cuja vida ascética no deserto egípcio o consagrou como santo e figura fundadora do monasticismo cristão. Conhecido por epítetos como Antão do Egito, do Deserto, o Eremita ou o Pai de Todos os Monges, ele é venerado em 17 de janeiro pelas igrejas Ortodoxa Oriental, Católica e em 22 de Tobi no calendário copta. Sua biografia, escrita por Atanásio de Alexandria, não apenas difundiu o ideal monástico, especialmente na Europa Ocidental por meio de traduções latinas, mas também inspirou gerações de ascetas com relatos de sua resistência a tentações sobrenaturais. Embora não tenha sido o primeiro monge, sua decisão de se retirar para o deserto por volta de 270 marcou-o como pioneiro, e sua espiritualidade, enraizada na confiança absoluta na providência divina, aliada à sua prática rigorosa, tornou-o um modelo de santidade.
Filho de abastados proprietários de terras, Antão cresceu em um ambiente cristão copta, provavelmente falando apenas sua língua nativa. Órfão aos 20 anos, ficou responsável por sua irmã solteira e por uma herança considerável. Inspirado pelo chamado evangélico de Mateus 19:21, que exorta à venda dos bens e à doação aos pobres para alcançar a perfeição, ele distribuiu parte de suas terras aos vizinhos, vendeu o restante e destinou os recursos aos necessitados. Sua irmã foi confiada a uma comunidade de virgens cristãs, e Antão, renunciando ao conforto, iniciou uma vida ascética. Durante os primeiros 15 anos, permaneceu próximo a Koma, sendo discípulo de um eremita local e, segundo algumas tradições, trabalhando como porqueiro. Sua dieta era austera, limitada a pão, sal e água, consumida uma vez por dia ou em jejuns prolongados, refletindo sua busca por purificação espiritual e dependência de Deus.
Aos 35 anos, buscando maior isolamento, Antão retirou-se para Pispir, um forte romano abandonado às margens do Nilo, onde viveu enclausurado por cerca de 20 anos. Nesse período, enfrentou intensas tentações, descritas por Atanásio como ataques demoníacos em formas de feras selvagens, que o feriram gravemente, mas foram superados pela oração e pela intervenção divina. Sua fama atraiu peregrinos, e, por volta de 305, ele emergiu para orientar uma comunidade de ascetas que se formara ao redor do forte, surpreendendo a todos com sua saúde e vigor, apesar da vida austera. Durante cinco ou seis anos, dedicou-se à formação espiritual desses discípulos, organizando-os em uma comunidade que, embora não formalmente estruturada como um mosteiro, lançou as bases do monasticismo cenobítico. Posteriormente, retirou-se para o deserto interior, próximo ao Mar Vermelho, estabelecendo-se no Monte Colzim, onde hoje se encontra o mosteiro Der Mar Antonios. Ali, viveu seus últimos 45 anos, menos isolado, visitando frequentemente Pispir e recebendo aqueles que buscavam seus conselhos.
Antão também desempenhou um papel ativo em momentos cruciais da Igreja. Durante as perseguições de Diocleciano, por volta de 311, visitou Alexandria para apoiar os cristãos presos, demonstrando coragem e solidariedade. Em 338, retornou à cidade para combater as ideias de Ário, alinhando-se com a ortodoxia defendida por Atanásio. Sua influência alcançou até o imperador Constantino, que lhe escreveu pedindo orações. Antão respondeu com humildade, exortando o imperador a priorizar o reino celestial. Entre as histórias lendárias de sua vida, destaca-se seu encontro com Paulo de Tebas, um eremita mais velho, a quem encontrou guiado por um sonho. Um corvo, segundo a tradição, trouxe pão para ambos, e Antão foi encarregado de sepultar Paulo, usando uma capa dada por Atanásio. Essas narrativas, embora simbólicas, reforçam sua reputação como um homem guiado pela providência.
As tentações de Antão, especialmente no deserto, tornaram-se um tema recorrente na arte e na literatura ocidentais, retratadas por artistas como Bosch, Schongauer e Dalí, e em obras como A Tentação de Santo Antão, de Gustave Flaubert. Atanásio relata visões de demônios em formas de centauros e sátiros, bem como tentações materiais, como pratos de prata e ouro que desapareciam ao serem rejeitados. Em uma caverna, ele foi atacado por feras demoníacas, mas salvo por uma luz divina, que interpretou como a presença de Deus, confirmando sua vitória espiritual. Essas histórias, possivelmente metafóricas, refletem a luta interior do asceta e a força da humildade e da oração, temas centrais de sua espiritualidade.
Antão faleceu aos 105 anos, deixando instruções para ser sepultado secretamente ao lado de sua cela. Seus restos, descobertos em 361, foram trasladados para Alexandria e, posteriormente, para Constantinopla e Saint-Antoine-l’Abbaye, na França, onde se tornou um centro de peregrinação. Venerado como protetor contra doenças infecciosas, especialmente o ergotismo, conhecido como “fogo de Santo Antão”, ele inspirou a fundação da Ordem dos Irmãos Hospitalares de Santo Antão. Sua vida, documentada por Atanásio e pelos Ditados dos Pais do Deserto, influenciou a conversão de figuras como Agostinho de Hipona e João Crisóstomo, e suas cartas em copta, sete das quais preservadas, revelam um pensamento teológico profundo. Embora não tenha fundado mosteiros, sua prática ascética e orientação espiritual moldaram comunidades