21.julho.25
O Templo Inacabado
A tarefa dos idealistas modernos, na verdade, é muito fácil para eles porque aprenderam constantemente que, se uma causa foi derrotada, então ela foi refutada. No entanto, do ponto de vista lógico, acontece exatamente o oposto. As causas perdidas são justamente aquelas que poderiam ter salvado o mundo. Se alguém afirma que o Jovem Pretendente teria feito da Inglaterra um país feliz, é difícil contestar. Mas se alguém disser que os Georges tornaram a Inglaterra feliz, todos devemos saber como responder. Aquilo que foi impedido permanece invulnerável; e o único rei perfeito da Inglaterra foi aquele que foi eliminado. Justamente porque o jacobitismo fracassou, não podemos considerá-lo um fracasso. E exatamente porque a Comuna caiu como uma revolta, não podemos dizer que ela falhou como sistema. Porém, essas explosões foram breves ou pontuais. Poucos percebem quantos dos maiores empreendimentos, os acontecimentos que ocupam a história, foram interrompidos antes de alcançar seu pleno propósito e chegaram até nós como figuras imensas e incompletas. Só posso, aqui, mencionar os dois maiores fatos da história moderna: a Igreja Católica e o movimento moderno enraizado na Revolução Francesa.
Quando quatro cavaleiros derramaram o sangue e os miolos de São Tomás de Cantuária, não foi apenas um ato de fúria, mas também de uma espécie de sombria admiração. Eles queriam seu sangue, mas ansiavam ainda mais por sua mente. Esse ataque jamais será compreendido de forma adequada se não levarmos em conta o que se passava na mente de São Tomás pouco antes que ela fosse espalhada pelo chão. Ele refletia sobre o ideal medieval de que a Igreja deveria julgar o mundo. Becket se opunha ao julgamento de um padre pelo próprio Lord Chief Justice. E sua razão era simples: porque o chefe do tribunal também deveria ser julgado pelo padre. O sistema judiciário estava sob julgamento. Os reis estavam no banco dos réus. A ideia era instituir um reino invisível, sem exércitos ou prisões, mas com autoridade plena para condenar abertamente todos os reinos da terra. Não podemos afirmar com certeza que uma igreja suprema teria curado a sociedade; afinal, ela nunca chegou a ser plenamente suprema. O que sabemos é que, ao menos na Inglaterra, os príncipes venceram os santos. O que o mundo desejava, vemos agora diante de nós; e alguns de nós chamam isso de fracasso. Mas não podemos dizer que aquilo que a Igreja buscava foi um fracasso, simplesmente porque ela não teve êxito. Tracy atacou cedo demais. A Inglaterra ainda não havia descoberto a grande inovação protestante de que “o rei não pode errar”. O rei foi açoitado dentro da catedral – uma cena que recomendo àqueles que lamentam a impopularidade da Igreja. Mas a descoberta aconteceu; e Henrique VIII espalhou os ossos de Becket com a mesma facilidade com que Tracy espalhou seus miolos.
Claro que não estou dizendo que o catolicismo foi realmente tentado; muitos católicos foram postos à prova e condenados. O que quero dizer é que o mundo não se cansou do ideal da Igreja, mas de sua realidade concreta. Os mosteiros foram criticados não pela castidade dos monges, mas pela ausência dela. O cristianismo tornou-se impopular não por causa da humildade cristã, mas por causa da arrogância de alguns cristãos. É verdade que, se a Igreja fracassou, foi em grande parte por culpa dos próprios eclesiásticos. Mas, ao mesmo tempo, forças contrárias já estavam tentando destruí-la muito antes que ela tivesse sequer a chance de cumprir sua missão. Por sua natureza, ela exigia uma estrutura comum de vida e pensamento na Europa. Contudo, o sistema medieval começou a se romper intelectualmente muito antes de apresentar qualquer sinal de decadência moral. As grandes heresias antigas, como a dos albigenses, não apresentavam nenhuma superioridade moral para justificar sua rebelião. E é verdade que a Reforma começou a dividir a Europa antes mesmo que a Igreja Católica tivesse tempo de unificá-la. Os prussianos, por exemplo, só foram convertidos ao cristianismo com a chegada da Reforma. Essas pobres almas mal tiveram tempo de se tornarem católicas antes de serem ordenadas a se tornarem protestantes. Isso explica boa parte de sua postura histórica posterior. Mas uso isso apenas como exemplo inicial e evidente de uma verdade mais ampla: os grandes ideais do passado não falharam por terem sobrevivido por tempo demais (como se sobreviver fosse um erro), mas por não terem sido plenamente vividos. A humanidade não superou a Idade Média. Ao contrário, a humanidade recuou diante da Idade Média em derrota e reação. O ideal cristão não foi tentado e considerado inadequado. Ele foi achado difícil; e, por isso, foi deixado de lado sem jamais ser realmente vivido.
O mesmo vale, é claro, para a Revolução Francesa. Uma grande parte da confusão atual vem do fato de que a Revolução Francesa só aconteceu pela metade – e, mesmo assim, quase fracassou. Em certo sentido, Valmy foi a batalha decisiva do Ocidente; em outro, foi Trafalgar. De fato, conseguimos destruir as grandes tiranias territoriais e instaurar um campesinato livre em quase todos os países cristãos – exceto na Inglaterra, sobre a qual falaremos mais adiante. Mas o governo representativo, a única herança universal da revolução, é uma sombra pálida da ideia republicana original. A teoria da Revolução Francesa se apoiava em dois pilares no governo – dois elementos que ela, de fato, alcançou em seu tempo, mas que não foram transmitidos aos seus imitadores na Inglaterra, Alemanha e América. O primeiro era a noção de pobreza honrada – de que um estadista deveria ser algo estoico. O segundo era a ideia de uma publicidade extrema. Muitos escritores ingleses imaginativos, como Carlyle, parecem incapazes de compreender por que figuras como Robespierre e Marat eram profundamente admiradas. A melhor explicação é que eles eram admirados por serem pobres – pobres mesmo quando poderiam ter sido ricos.
Ninguém vai fingir que esse ideal está plenamente presente na alta política do nosso país. Nossa alegação nacional de integridade política, na verdade, se baseia exatamente no argumento oposto. Parte-se da ideia de que homens ricos, ocupando posições garantidas, não teriam motivo para praticar trapaças financeiras. Se a trajetória da aristocracia inglesa – da espoliação dos mosteiros até a apropriação das minas – de fato confirma essa teoria, não é o que pretendo investigar agora. Mas é certo que nossa suposição é a de que a riqueza funciona como uma barreira contra a corrupção política. O político inglês é, por assim dizer, subornado a não aceitar suborno. Ele já nasce com uma colher de prata na boca para que nunca mais seja pego com colheres de prata no bolso. Tamanha é nossa confiança nesse escudo da plutocracia que temos confiado cada vez mais o império às mãos de famílias que herdaram riqueza sem que possuam nem sangue nobre nem boas maneiras. Algumas das nossas dinastias políticas têm títulos antigos, mas perpetuam a grosseria como se fosse parte do brasão. Dizer de certos políticos modernos que nasceram com uma colher de prata na boca pode soar, ao mesmo tempo, impreciso e generoso. Na verdade, nasceram com uma faca de prata na boca. Mas tudo isso apenas reflete a crença inglesa de que a pobreza representa um risco para o político.
O mesmo ocorre quando comparamos os efeitos da lenda revolucionária com o ideal de transparência pública. A antiga doutrina democrática dizia que, quanto mais luz fosse lançada sobre todos os setores do Estado, mais fácil seria para a justa indignação agir com rapidez contra os erros. Em outras palavras, os monarcas deveriam morar em casas de vidro para que as multidões pudessem lançar pedras. Mais uma vez, nenhum admirador da política inglesa contemporânea – se é que existe algum – ousaria afirmar que esse ideal de transparência foi plenamente realizado ou sequer tentado. Pelo contrário, a vida pública se torna mais privada a cada dia. Os franceses, de fato, continuaram a tradição de expor os bastidores e provocar escândalos. Por isso, parecem mais escancarados e visíveis do que nós – não no pecado em si, mas na confissão do pecado. O primeiro julgamento de Dreyfus bem poderia ter ocorrido na Inglaterra. Já o segundo seria legalmente impossível entre nós. E, para entender até que ponto ficamos aquém do ideal republicano, o melhor é observar o quanto também ficamos aquém do aspecto mais republicano do antigo regime. Somos hoje menos democráticos não apenas do que Danton e Condorcet, mas em muitos aspectos até menos do que Choiseul e Maria Antonieta. Os nobres mais abastados de antes da Revolução pareceriam gente de classe média se comparados aos nossos Rothschilds e Roseberys. E, no quesito transparência, a antiga monarquia francesa era infinitamente mais democrática do que qualquer monarquia atual. Praticamente qualquer pessoa podia entrar no palácio e ver o rei brincando com os filhos ou aparando as unhas. O povo tinha acesso ao monarca da mesma forma que tem a um parque público, como Primrose Hill; ou seja, não pode mudá-lo de lugar, mas pode circular à vontade ao redor. A velha monarquia francesa foi construída sobre o excelente princípio de que qualquer gato pode olhar para o rei. Hoje, no entanto, nem todo gato pode olhar para o rei – a menos que seja um gato muito manso. E mesmo onde a imprensa é livre para criticar, na prática só se permite elogiar. A diferença real acaba se resumindo a algo assim: a tirania do século 18 permitia que alguém dissesse “O rei de Brobdingnag é um devasso”. A liberdade do século 20 permite que se diga “O rei de Brentford é um exemplo de homem de família".
Mas já nos alongamos demais na explicação paralela, apenas para mostrar que o grande sonho democrático – assim como o grande sonho medieval – nunca se realizou de modo pleno e prático. Seja qual for o problema da Inglaterra moderna, ele certamente não está no fato de termos realizado demais, ou de termos levado até um fim decepcionante o catolicismo de Becket ou a igualdade de Marat. Usei esses dois exemplos porque são representativos de milhares de outros. O mundo está repleto de ideias não realizadas, de templos nunca concluídos. A história não é feita apenas de ruínas completas ou de estruturas caídas. É composta, principalmente, por moradias inacabadas deixadas por construtores que faliram. Nosso mundo se parece mais com um subúrbio abandonado na metade da obra do que com um cemitério silencioso e bem encerrado.
~
G. K. Chesterton (O que há de errado com o mundo, 1908).