Epifânio de Salamina (310-403), nascido por volta de 310–320 em Besanduk, próximo a Eleuterópolis, na Palestina romana, e falecido em 403 durante uma viagem de volta a Chipre, foi um bispo, teólogo e escritor cristão cuja vida e obra marcaram a Igreja do século IV. Considerado santo e Pai da Igreja pelas tradições ortodoxa oriental, católica e algumas presbiterianas, Epifânio destacou-se como um defensor incansável da ortodoxia cristã. Sua obra mais célebre, o Panarion, um compêndio detalhado de oitenta heresias, reflete seu zelo pela doutrina e sua habilidade em catalogar e refutar crenças divergentes, incluindo seitas cristãs, religiões pagãs e sistemas filosóficos. Poliglota e erudito, conhecido como "Pentaglossos" por dominar hebraico, siríaco, egípcio, grego e latim, Epifânio combinou rigor intelectual com uma espiritualidade profundamente enraizada na fé cristã, moldando o pensamento eclesiástico de sua época.
Filho de uma família cristã romaniota ou convertido ao cristianismo na juventude, Epifânio cresceu em uma região marcada por tensões religiosas e culturais. Ainda jovem, mudou-se para o Egito, onde viveu como monge e aprofundou sua formação, entrando em contato com grupos valentinianos, uma experiência que influenciou sua futura oposição às heresias. Por volta de 333, retornou à Palestina e fundou um mosteiro em Ad, próximo a Eleuterópolis, onde atuou como superior por três décadas. Nesse período, ordenado sacerdote, desenvolveu sua erudição e habilidades linguísticas, que o tornaram uma figura respeitada. Em 365 ou 367, foi nomeado bispo de Salamina, em Chipre, cargo que ocupou por quase quarenta anos, exercendo também a função de metropolita da Igreja cipriota. Sua liderança foi marcada por viagens extensas para combater doutrinas heterodoxas e por participações em sínodos, como o de Antioquia (376), onde defendeu a ortodoxia trinitária contra o apolinarismo, e o Concílio de Roma (382), apoiando o bispo Paulino contra Melecio de Antioquia.
A trajetória de Epifânio foi marcada por controvérsias, especialmente na década de 390, durante a crise origenista. Em uma visita a Jerusalém em 394 ou 395, ele criticou os seguidores de Orígenes e exortou o bispo João II a condenar suas obras, alertando contra o uso de imagens nas igrejas. Um incidente notável ocorreu quando Epifânio, ao entrar em uma igreja em Anablatha, rasgou uma cortina com a imagem de Cristo ou de um santo, considerando-a contrária às Escrituras, e recomendou seu uso como mortalha para um pobre. Esse ato, descrito em uma carta a João, traduzida por Jerônimo, intensificou conflitos com Rufino e João contra Jerônimo e Epifânio, especialmente após Epifânio ordenar um sacerdote para o mosteiro de Jerônimo em Belém, invadindo a jurisdição de João. Em 402, aos quase oitenta anos, Epifânio foi convocado por Teófilo de Alexandria a um sínodo em Constantinopla para apoiar a perseguição aos monges origenistas. Percebendo que era manipulado contra João Crisóstomo, que abrigava os monges perseguidos, Epifânio decidiu retornar a Salamina, mas faleceu durante a viagem em 403.
O Panarion, escrito entre 374 e 377, é a obra central de Epifânio, um manual abrangente contra heresias que ele comparava a venenos de animais, descrevendo cada seita com metáforas vívidas, como os gnósticos a uma serpente sem presas ou os ebionitas a uma hidra de muitas cabeças. A obra começa com as "quatro mães" das heresias pré-cristãs — barbarismo, citas, helenismo e judaísmo — e prossegue com dezesseis seitas pré-cristãs, seguidas por sessenta heresias cristãs, desde os gnósticos até os coliridianos e messalianos. Apesar de seu zelo por vezes superar a precisão factual, o Panarion preserva informações únicas sobre textos perdidos, como o Evangelho dos Hebreus e obras de Justino Mártir, Ireneu e Hipólito, sendo uma fonte essencial para a história da Igreja do século IV. Outras obras incluem o Ancoratus, que refuta o arianismo e o origenismo, e Sobre Pesos e Medidas (392), um estudo de antiquarianismo bíblico sobre o cânon do Antigo Testamento, medidas e geografia da Palestina, sobrevivendo em traduções siríacas, armênias e georgianas. Sobre as Doze Gemas, preservado em fragmentos, demonstra seu interesse pela exegese simbólica.
A espiritualidade de Epifânio era fundamentada na defesa da ortodoxia como salvaguarda da verdade revelada. Sua visão da Igreja como um corpo unificado sob a autoridade apostólica reflete-se em sua oposição às imagens, que ele via como potenciais fontes de idolatria, e em sua luta contra doutrinas que ameaçavam a fé trinitária. Embora criticado por sua veemência, Epifânio foi admirado por sua erudição, influenciando a tradição cristã como um guardião da doutrina. Seu legado perdura em sua canonização e na relevância de suas obras, que continuam a oferecer insights sobre as controvérsias teológicas do cristianismo primitivo.