18.julho.2025
Vivendo pela fé
“O justo viverá pela fé.” Habacuque 2:4
Essa frase, registrada primeiramente em Habacuque, é citada novamente em Gálatas 3:11 e Hebreus 10:38. Ela expressa uma verdade profunda, especialmente significativa no contexto do evangelho.
I. Primeiro, explicarei de que modo todos os seres humanos vivem pela fé;
II. E depois, o sentido específico em que os justos vivem pela fé.
I. A fé não é apenas uma atividade intelectual.
Ela vai além de uma simples convicção ou de estar convencido de algo. Não compreendemos completamente o que é fé até que cheguemos ao coração – ao reconhecer que fé significa uma confiança profunda, pela qual o coração se apoia na palavra ou no caráter de alguém considerado digno de confiança. Fé é algo que envolve a vontade – é um ato voluntário confiar ou não confiar, desde que a razão enxergue fundamentos para essa confiança.
No sentido mais amplo, fé pode ser relacionada a qualquer coisa na qual depositamos confiança. Qualquer atitude mental em que escolhemos acreditar e confiar pode ser chamada de fé.
Todos os seres racionais vivem pela fé em alguma coisa. As crianças pequenas são um bom exemplo disso, pois é impressionante como dependem da fé em suas primeiras experiências. Muitas pessoas, por não refletirem sobre isso, nem percebem o quanto esse princípio é universal e essencial para a vida em sociedade e para a própria consciência. Até mesmo as crianças precisam desenvolver confiança no uso dos próprios músculos, caso contrário, não ousariam se movimentar sozinhas. Nenhuma pessoa saudável comeria uma refeição sem um certo grau de fé – fé de que o cozinheiro não a envenenou, ou de que o alimento será benéfico e não prejudicial.
Sem fé, ninguém ousaria se deitar para dormir. É necessário um mínimo de confiança nas pessoas ao redor, acreditando que não serão atacados durante o sono. De fato, ninguém se permitiria repousar com tranquilidade se não tivesse algum tipo de fé. Sem ela, não haveria descanso mental – apenas um estado constante de ansiedade e vigília. E ninguém conseguiria viver assim. As próprias preocupações acabariam por destruir o sistema nervoso e físico.
Todas as famílias vivem pela fé – na verdade, não conseguiriam existir sem ela. Até mesmo um navio pirata depende de fé para funcionar. Como diz o velho ditado: “Há honra entre os ladrões” – e isso é necessário, pois sem alguma confiança mútua, não seria possível formar quadrilhas, nem qualquer tipo de aliança para o mal. Qualquer grupo que dependa da cooperação ou da simpatia de outros precisa, necessariamente, viver pela fé.
É impressionante perceber o quanto a fé está presente em todas as coisas. Observe as pessoas em qualquer lugar, em qualquer relação – você as verá vivendo pela fé. Se vocês, jovens, não tivessem fé, não estariam se esforçando para obter uma educação. Nenhuma forma de convivência social funcionaria sem fé. Os agricultores não plantariam suas sementes; ninguém trabalharia com expectativa de resultados futuros; nada seria feito – sem fé. Se a fé desaparecesse completamente, a humanidade deixaria de existir. Bastaria uma breve reflexão para perceber quão rapidamente a raça humana pereceria se a fé deixasse de existir. A fé é o grande segredo da nossa sobrevivência – a base invisível que sustenta a continuidade da vida.
Sem fé, não enfrentamos obstáculos, porque nem sequer tentamos superá-los. E todos sabemos que nada de valor é alcançado sem esforço. Por isso, sem fé, todas as coisas úteis desapareceriam. Deus estruturou o universo de tal maneira que, se a fé não estiver em ação, os processos essenciais da vida param – e a destruição recai sobre toda criatura.
Por outro lado, na medida em que a fé está presente, a sociedade funciona admiravelmente bem. Um exército disciplinado e unido deve sua força à fé mútua entre seus membros. Uma escola bem organizada, dedicada a sua nobre missão, também vive pela fé. Uma família que promove, com amor, o bem-estar uns dos outros, com trabalho e cuidado mútuos, encontra sua força central na fé.
É importante lembrar que, até aqui, estou falando da fé no sentido geral, não da fé religiosa. Quando há confiança real em todas essas relações humanas, tudo funciona – tudo avança de forma harmoniosa. Mas quando a fé falta, tudo se desorganiza, inevitavelmente e de forma permanente.
É comum que os céticos zombem do cristianismo por dar tanta ênfase à fé. Eles agem como se não precisassem de fé em nada. No entanto, é fácil demonstrar que, dentre todos os homens, os céticos religiosos acabam sendo os mais crédulos – pois precisam ter fé, mesmo que inconscientemente. A diferença é que, ao rejeitarem a luz e a evidência da verdade por causa da resistência profunda de seu coração, ficam sem outra opção senão acreditar em coisas sem qualquer evidência – ou mesmo contra toda evidência. Eles acabam sendo forçados a crer que “se lançar no escuro” da morte seja o melhor destino possível para a vida humana.
Mas deixemos esse ponto por agora e sigamos para a próxima questão.
II. O que é fé religiosa?
A fé religiosa se distingue da fé comum não pela sua natureza, mas pelos seus objetos – ou seja, pelo conteúdo em que se crê. Antes de tudo, é importante lembrar que os cristãos, como qualquer outra pessoa, também exercem a fé natural – aquela confiança básica que faz parte da vida em sociedade e da própria experiência humana.
Mas eles vão além disso. Os cristãos possuem uma fé especificamente cristã, por meio da qual vivem a vida cristã. O segredo dessa vida está na fé que têm no Filho de Deus. Essa fé “atua pelo amor”. É a confiança em Cristo – no que Ele disse e fez – que une a alma do cristão a Ele e desperta um amor constante.
A confiança na bondade de Cristo torna sua presença algo real e próximo no coração do cristão. E essa presença amorosa desperta, inevitavelmente, um amor recíproco – não apenas por Cristo e pelo seu povo, mas por todas as criaturas. Assim, os cristãos experimentam um amor profundo, emocional e sincero. Sem essa confiança em Deus e em Cristo, não seria possível viver uma vida de fé. Faltaria a motivação. Como ter paz com Deus, senão pela fé na obra expiatória de Cristo como base da reconciliação? Como caminhar com firmeza, se não houver fé nas promessas preciosas de Deus? Como permitir que o coração seja transformado pelas grandes verdades do evangelho, sem crer nelas de verdade?
Muitos cristãos se queixam por não sentirem emoção em sua vida espiritual, mas ignoram a principal causa dessa frieza: a falta de fé viva. Não percebem que a fonte profunda da emoção verdadeira é a fé. Veja, por exemplo, aquela filha que estuda longe de casa. Ela se senta para escrever à sua mãe querida. Veja como a fé no amor materno faz brotar emoções intensas. O caráter da mãe está tão presente em sua mente que ela não consegue duvidar da força e da plenitude daquele amor. E, por isso, ao pensar na mãe, mil memórias invadem seu coração – e as lágrimas vêm naturalmente.
Então, por que seria estranho que a fé de um cristão inspirasse sentimentos semelhantes e despertasse emoções sinceras?
Pela fé, o justo vive uma vida de obediência. A fé opera por meio do amor, e o amor impulsiona o coração a obedecer. A fé conduz a alma a uma união tão íntima com Deus, que o amor e a obediência se tornam parte da própria natureza da pessoa. Obedecer a Deus, nesse contexto, torna-se algo espontâneo, natural. Quando se confia verdadeiramente no Pai Celestial, o desejo mais forte é agradá-lo.
Além disso, pela fé, vivemos uma vida de submissão à providência de Deus. Neste mundo, enfrentaremos inevitavelmente dificuldades e situações adversas. Mas, se confiamos no nosso Pai Celestial, enfrentamos essas circunstâncias com serenidade, certos de que aquele que governa todas as coisas está conduzindo tudo para o bem. Um homem me disse, há poucos dias – e essa frase ficou comigo –: “Tudo o que acontece comigo e com os meus será para o nosso bem. Se eu tiver uma perda, isso, de alguma forma, será um ganho. Sei que será. Se um dos meus cavalos morrer, isso será para o melhor. Deus vai transformar isso em algum bem espiritual.” Outro homem disse: “Se eu me esforço para alcançar algo e consigo, ótimo; mas, se não conseguir, também está tudo bem. Sei que o fracasso será melhor do que o sucesso, caso contrário, Deus teria me permitido ter sucesso. Não é porque Ele frustrou meus planos que está descontente comigo. Ele espera que eu aja com sabedoria e responsabilidade; então, se Ele enxerga um caminho melhor e bloqueia o meu, aceito com paz.”
Agora eu pergunto: como esses homens poderiam sentir esse descanso, essa serenidade e essa entrega diante da providência divina, se não tivessem fé?
Assim, a pessoa aprende a se adaptar à providência de Deus, como um navio que navega sobre ondas agitadas no alto-mar. Se algo inesperado surgir e arruinar seus planos, ela, aos poucos, por meio da fé em Deus, aprende a se ajustar a essa ruptura e pode até dizer com confiança: “Está tudo bem, pois é o meu Pai quem está no controle!”. Desde a sua conversão, ela começa a ser treinada nesse processo de adaptação pela fé – assim como um bebê, ao descobrir os próprios membros, aprende com o tempo a se equilibrar e a se mover com firmeza, adquirindo novas habilidades a cada dia, até que, surpreendentemente, realiza movimentos complexos com facilidade e segurança.
O mesmo acontece na vida cristã. Aquele que confia em Deus aprende a lidar com os impactos súbitos das mudanças da vida – mesmo quando essas mudanças parecem violentas e desestabilizadoras. Pela fé, ele mantém sua mente firme e equilibrada, independentemente das circunstâncias repentinas que surgem. Ele aprende a aplicar, em todas as situações, as grandes verdades que conhece de Deus. Vive com a convicção de que tudo o que Deus faz é o melhor. Por isso, consegue atravessar provações com calma e resignação vindas do céu. Ele espera, no final, experimentar algo semelhante ao que viveu Jacó.
Você deve se lembrar: Jacó disse certa vez – “José está morto, Simeão também está, e agora vocês querem levar Benjamim. Todas essas coisas estão contra mim”. Foi um dos maiores erros que alguém poderia ter cometido. José não estava morto – ele havia sido enviado ao Egito para se tornar o provedor não só da família de Jacó, mas também de muitas outras nações. Simeão também não estava morto. Nenhuma dessas coisas estava contra ele, mas todas, na verdade, cooperavam a seu favor, e no mais alto sentido possível. O velho patriarca viveu o bastante para perceber o quanto havia interpretado mal os caminhos de Deus em relação à sua vida e à sua família.
Assim também acontece com muitas pessoas. Quando uma grande dificuldade as atinge, elas vacilam por causa de sua fé fraca, ficam paralisadas pelo medo. Mas, aos poucos, recuperam a confiança e, levantando a cabeça acima das ondas, declaram: “Tudo vai bem!”. Mesmo quando relâmpagos brilham e trovões rugem, mesmo que a tempestade pareça sombria e ameaçadora – por que deveriam temer? Deus continua no trono, soberano sobre todas as coisas.
Por isso, o cristão vive livre de preocupações, carregando seus fardos sem se distrair ou se desesperar – pois ele os entrega ao Senhor. Mesmo em meio a tarefas e responsabilidades complexas, sua mente descansa tranquilamente em Deus – sua fé permite esse descanso interior.
Ele tem paz com Deus porque foi justificado pela fé. E também tem paz dentro de si, porque pela fé foi santificado. Como ele poderia ter paz verdadeira sem abraçar Jesus Cristo, seu sacrifício, e a purificação que vem por meio do sangue e do Espírito de Cristo?
Do mesmo modo, é pela fé que alguém vive uma vida cheia de alegria e de utilidade. A fé sustenta tanto a influência silenciosa de um bom exemplo quanto a ação direta de boas obras. Ninguém pode cumprir seu propósito na vida cristã sem uma fé viva.
Pela fé, vive-se uma vida humilde. A fé ensina a ocupar um lugar mais baixo. Na verdade, a própria natureza da fé envolve humildade. A ideia de fazer tudo sozinho, sem confiar em ninguém, revela autossuficiência e independência. Mas o cristão é esvaziado dessa autossuficiência para que possa ser preenchido por Cristo. Ele entende que não tem nada do que se orgulhar; aprende que é necessário se humilhar antes de receber a plenitude da graça de Deus.
Também pela fé, o cristão vive uma vida alegre. A vida de fé, no geral, é marcada pela alegria. Estando satisfeito com Deus e com sua providência, por que não seria alegre? Ele sabe que há motivos constantes para se alegrar. Deus trará resultados gloriosos, e a fé o faz antecipar esses resultados com nitidez. Ele sabe que a Igreja está segura e que tudo aquilo que ama está guardado nas mãos de Deus.
A fé também conduz a uma vida de renúncia. Quem tem fé não valoriza tanto os pequenos confortos desta vida. Seu coração está voltado para coisas muito maiores e mais valiosas. Por que se apegar a coisas passageiras quando almas estão em jogo – quando há um mundo a alcançar e um Senhor a agradar? Pela fé, o cristão é capaz de abrir mão de quase todos os confortos terrenos se isso for necessário para salvar uma alma ou cumprir a vontade do seu Mestre. Se ele parte em missão até os confins da terra, enfrentando trabalho duro e dificuldades, ele não teme – nem sente que está perdendo algo. Ele sabe que seu propósito é verdadeiro, que vale a pena, e que sua recompensa já está sendo sentida no próprio trabalho. Quanto ao futuro, ele o entrega confiante a Deus.
Sem fé, uma vida assim seria impossível. Mas com fé – por que temer a pobreza, a perseguição ou a vergonha? Tudo está no lugar certo – tudo está bem como deveria estar. Afinal, quem não suportaria tudo isso, quando sua alma descansa pela fé em Deus?
Pela fé, o cristão vive uma vida espiritual – não apenas uma vida natural. Mas essa espiritualidade não tem nada a ver com o uso distorcido da palavra por certos grupos ocultistas ou espiritualistas modernos. Trata-se de uma vida em verdadeira comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O Espírito de Deus habita em seu coração por meio da fé.
É também pela fé que ele vive uma vida de oração. Orar torna-se algo natural para ele. Ele ama a oração, respira oração como respira o ar ao seu redor. Ele confia em Deus e espera receber bênçãos em resposta às suas orações. Quem vive assim tem razões de sobra para orar com frequência.
A vida de fé é também uma vida cheia de esperança. Esse tipo de pessoa não se desanima com facilidade, porque sua confiança está no Deus Todo-Poderoso. Ele acredita que conseguirá realizar tudo o que Deus deseja que ele faça – e isso basta. Se ele é um pregador do evangelho, sai confiante para anunciar a mensagem. E por que não? Se tem fé, ele espera que sua missão tenha frutos, no nome do Senhor.
Pela fé, ele também leva uma vida ativa. A fé estimula suas ações. Quando alguém crê sinceramente nas verdades de Deus, não consegue ficar parado. Se essa pessoa crê na palavra de Deus, ela também crê na gravidade da situação dos pecadores e no destino terrível que os espera. Como poderia ficar de braços cruzados, vendo pessoas à beira da perdição? Não se entregaria com dedicação total para salvar ao menos alguns da destruição?
A fé também gera sintonia com Deus. Quando confiamos em alguém, naturalmente desenvolvemos simpatia por essa pessoa. Da mesma forma, quem confia em Deus se conecta com Ele de forma sincera e profunda. Já a incredulidade fecha o coração para essa comunhão. Mas a fé abre espaço para que a presença de Deus encha a alma e derrame nela as águas da vida e do poder espiritual.
A fé torna o cristão mais humano. Ela o ensina a enxergar os outros como filhos de Deus e a cuidar deles com amor. Ao perceber a paciência e a compaixão que Deus tem com as pessoas – mesmo sendo pecadoras –, o cristão, pela fé, sente-se movido a agir da mesma forma.
Pela fé, ele vive uma vida de liberdade evangélica. Ele não está preso à lei ou dominado pelo medo. Não ora por obrigação, mas porque confia e ama. Todos os sentimentos e atitudes corretas surgem naturalmente – porque o Espírito de Deus escreve sua lei no coração. Seria fácil mostrar como uma vida baseada na fé produz todos esses frutos.
Esses frutos, esses resultados, são o que compõem a verdadeira vida. Por isso, podemos ver claramente quão verdadeira e universal é a afirmação: “O justo viverá pela fé”.
OBSERVAÇÕES
1. A fé natural – aquela que pessoas não convertidas têm nos outros e nas coisas – é útil à sociedade. Ela serve para os negócios, para o bem-estar e até para a sobrevivência das famílias. É sempre proveitosa, mas não pode ser considerada uma virtude, pois não tem relação com Deus, nem com seu caráter ou sua lei. Pode ser algo bom e funcional, mas não virtuoso, já que pode coexistir com o egoísmo e com a hostilidade contra Deus. Piratas, por exemplo, podem ter esse tipo de fé – na verdade, precisam ter –, mas ainda assim continuam sendo piratas, embora possam agir como cidadãos “honrados”.
Essa não é uma fé salvadora, pois não livra do pecado nem conduz ao céu.
2. No céu, a fé é perfeita – tanto em sua essência quanto em sua prática. Sendo assim, a sociedade celeste e a felicidade dos seres racionais ali devem ser igualmente perfeitas. Se a fé não fosse plena, nem mesmo no céu haveria harmonia. Tudo está em ordem ali porque a fé é completa e universal.
3. Todos os que conhecem o evangelho devem viver pela fé. É surpreendente que muitos não enxerguem o valor e a beleza dessa vida. No início da minha caminhada, tive essa compreensão da fé e da vida cristã. Ao estudar as grandes verdades nas quais os cristãos dizem crer, pensei: “Se essas coisas são verdadeiras, é natural que eles vivam dessa forma.” Crendo que Cristo morreu por eles, como poderiam deixar de amá-lo, servi-lo e querer agradá-lo? Essa fé deve ter enorme valor para eles, sejam essas verdades de fato reais ou não.
Naquele momento, meu raciocínio não assumia que a Bíblia fosse verdadeira, mas apenas estabelecia a coerência entre o que se crê e o modo de viver que decorre dessa crença.
Mais tarde, porém, percebi que o simples fato de essa fé ter um efeito tão positivo e universal mostra sua origem divina e a veracidade do conteúdo em que se baseia. A fé cristã realmente conduz os homens ao céu – isso por si só demonstra que sua doutrina é divina. Não pode ser mentira, pois nenhuma mentira teria resultados tão puros. É inconcebível que um sistema falso consiga tornar os homens santos e transformá-los de modo tão profundo. Os frutos da fé cristã confirmam a verdade da Bíblia – a menos que alguém aceite o absurdo de que crer numa mentira possa elevar a alma, renovar o coração e restaurar a imagem de Deus no ser humano. Quem poderia acreditar nisso?
4. Alguém que é cristão, mas não entende que a fé verdadeira é essencial para uma sociedade perfeita – tanto neste mundo quanto no porvir –, está longe de ser um filósofo. A fé genuína é indispensável para que a mente esteja em seu melhor estado. E deve estar sempre presente em qualquer sociedade que pretenda se aproximar do que é o céu.
5. A vida de fé em Cristo é única demais para passar despercebida. Os cristãos são chamados de “povo peculiar”, e de fato o são, porque possuem uma fé distinta. Creem em verdades que elevam a alma, purificam o coração e libertam a mente da influência das coisas vis, afastando-a da sensualidade e de tudo o que é baixo e mesquinho. A fé em Cristo naturalmente gera uma vida que serve de testemunho por si só. Onde quer que se olhe, é possível reconhecer aquele que vive pela fé. A fé verdadeira sempre produz uma forma de vida inconfundível com qualquer outra.
6. A fé salvadora é, por sua própria natureza, salvadora. Muitos acham que essa salvação se refere apenas ao futuro – como se a fé apenas garantisse que a alma será poupada da condenação após a morte. Mas essa ideia é um grande equívoco. A fé cristã é aquela pela qual se vive agora, e não apenas aquela com que se morre. Primeiro ela salva aqui, na vida presente, e por isso depois salva para a eternidade. Se em algum momento ela há de salvar a alma, tem que começar aqui. Ela nos leva à felicidade no céu porque primeiro nos transformou em santos na terra.
7. Qualquer pessoa que não seja profundamente ignorante consegue perceber o valor e a natureza da fé no evangelho. É preciso estar completamente alheio à realidade para viver num mundo onde a fé está constantemente diante dos olhos, sendo falada em toda parte, e ainda assim não se interessar em saber o que ela é, como ela funciona ou como seus efeitos são produzidos. Se alguém se dedicar sinceramente a entender isso, verá que as verdades do evangelho só precisam ser cridas para gerarem frutos de imenso valor para a alma.
Imagine, então, um pecador que até agora só buscou prazeres passageiros. Suponha que você passe a crer verdadeiramente no evangelho, entendendo-o de fato, e acolhendo com o coração suas promessas e ensinamentos. Não seria natural que você dissesse: “Em uma hora, experimentei mais alegria do que em toda a minha vida antes”? Vocês que ainda estão presos ao pecado nunca experimentaram as grandezas do evangelho. Nunca creram em algo que fosse realmente elevado, inspirador, transformador. Mas agora, subam o olhar acima do mar imenso da verdade divina. Subam os “Montes Deliciosos”, de onde se tem uma vista clara da “Cidade Celestial”.
Ali está um palácio construído por Deus para os seus santos. Já viu um palácio real? Já contemplou suas altas muralhas, torres brilhantes, lagos, jardins, gramados, árvores e flores? Se sim, certamente pensou: “Como seria grandioso ser o dono disso!”. Mas quando você se torna um verdadeiro cristão e abre o coração à fé, você pode dizer: “Nada disso se compara ao palácio do meu Senhor, para onde Ele vai me levar em breve”. Em comparação, tudo aqui é como um monte de lixo. “Na casa de meu Pai há muitas moradas.” Jesus disse que foi preparar esse lugar para nós, e voltará para nos levar. Estaremos em casa com Jesus. Ele poderá nos contar incontáveis coisas, mesmo aquelas que aconteceram antes de nascermos.
Agora, imagine se você realmente acreditasse nisso. Não seria natural ficar tão feliz que nem conseguiria dormir? Já ouvi muitos dizerem, nos últimos meses: “Estou tão alegre em Deus que não consigo dormir!”. Um homem de negócios, dos mais ocupados da cidade, era cético. Começou a se preocupar profundamente com sua alma e passou a frequentar reuniões várias noites. Um dia, disse à esposa: “Essas reuniões não estão me fazendo bem. Preciso parar. Vou sair da cidade hoje”. Ele foi até a estação, mas perdeu o trem. Voltando para casa, a esposa o convenceu a ir a mais uma reunião. Ele aceitou. Naquela noite, a verdade o atingiu profundamente. Ela orava por ele há anos. Ele se converteu.
O resultado? Ambos ficaram tão felizes que não conseguiram dormir. Tinham muito o que conversar, agradecendo pelas misericórdias de Deus e celebrando seu amor. Naquela noite, não houve sono naquela casa. E mais: seus dois filhos também se converteram. Agora todos se alegram juntos, crendo em Deus com toda a família.
O motivo pelo qual as pessoas vivem do jeito que vivem é simples: elas não têm fé. Não confiam em Deus. Não compreendem as grandezas de Suas promessas nem o alcance do Seu amor.
Por fim, é importante lembrar: ninguém pode ser verdadeiramente feliz – nem mesmo no céu – sem fé. Se a pessoa não for capaz de confiar em Deus, não poderá estar tranquila e abençoada nem mesmo lá. Pois mesmo no céu, talvez mais do que aqui, haverá coisas que ela não entenderá. No governo de um Deus infinito, sempre existirão ações ou permissões divinas que ultrapassam a compreensão de mentes tão limitadas como as nossas. Nesses momentos, só existem duas opções: confiar ou se rebelar. Fé ou pecado – essa é a única escolha.
Por isso, é sábio que Deus treine seus filhos para a fé ainda neste mundo, antes de levá-los ao céu. E todos deveriam refletir seriamente antes de desejar o céu, sem antes desenvolver fé suficiente para confiar plenamente em Deus tal como Ele se revelou aqui. Ir para o céu sem estar preparado para sua disciplina seria algo assustador. Deus não levará ninguém para lá sem antes saber que essa pessoa está pronta para suportar e se alegrar com tudo o que encontrará.
~
Charles Finney.