William Carey (1761-1834), nascido em 17 de agosto de 1761 em Paulerspury, Northamptonshire, Inglaterra, e falecido em 9 de junho de 1834 em Serampore, Índia, aos 72 anos, foi um missionário cristão, ministro batista particular, tradutor, reformador social e antropólogo cultural. Conhecido como o “pai das missões modernas”, fundou o Serampore College e a Serampore University, a primeira instituição na Índia a conceder graus acadêmicos, além de cofundar a Serampore Mission Press. Sua obra missionária, enraizada na convicção cristã de propagar o Evangelho, combinou um fervor espiritual com uma abordagem técnica que transformou a educação, a tradução bíblica e a reforma social na Índia. Carey traduziu a Bíblia para diversas línguas, incluindo bengali, híndi e sânscrito, e combateu práticas como o sati, deixando um legado que integrou devoção e inovação prática.
Filho mais velho de Edmund e Elizabeth Carey, tecelões anglicanos, William cresceu em uma família modesta com quatro irmãos. Educado pelo pai, que era escriturário paroquial e mestre-escolar, demonstrou desde cedo curiosidade intelectual, especialmente por botânica, e um talento natural para línguas, aprendendo latim sozinho. Aos 14 anos, tornou-se aprendiz de sapateiro em Piddington, onde, influenciado por John Warr, um dissidente, abandonou a Igreja da Inglaterra e uniu-se a uma pequena congregação congregacional em Hackleton. Durante esse período, aprendeu grego com a ajuda de um tecelão local e, após a morte de seu mestre, trabalhou para Thomas Old, casando-se com sua cunhada, Dorothy Plackett, em 1781. Dorothy, analfabeta, trouxe desafios ao casamento, e a morte precoce de três de seus sete filhos, incluindo Peter aos cinco anos, marcou a família. Enquanto trabalhava como sapateiro, Carey estudou hebraico, italiano, holandês e francês, lendo vorazmente.
Na década de 1780, Carey envolveu-se com os batistas particulares, conectando-se com líderes como John Ryland e Andrew Fuller. Batizado em 1783 por Ryland, tornou-se pastor em Moulton em 1785 e, em 1789, assumiu a Harvey Lane Baptist Church em Leicester. Inspirado por missionários como John Eliot e David Brainerd, e pelos diários de James Cook, Carey publicou em 1792 sua obra seminal, An Enquiry into the Obligations of Christians to Use Means for the Conversion of the Heathens. Esse manifesto, dividido em cinco partes, defendia a responsabilidade cristã de evangelizar globalmente, apresentava uma história das missões, compilava dados estatísticos sobre países e refutava objeções práticas, culminando na proposta de uma sociedade missionária. Sua pregação, marcada pela frase “Espere grandes coisas de Deus; tente grandes coisas para Deus”, levou à fundação da Baptist Missionary Society em 1792, com Carey, Fuller, Ryland e John Sutcliff como membros fundadores.
Em 1793, Carey partiu para Calcutá com seu filho Felix, acompanhado pelo médico missionário John Thomas. Dorothy, inicialmente relutante, juntou-se a ele com seus outros filhos após dar à luz. Enfrentando resistência da Companhia das Índias Orientais, que proibia missionários, Carey estabeleceu-se na colônia dinamarquesa de Serampore em 1800, após gerenciar uma fábrica de índigo em Midnapore. Ali, com William Ward e Joshua Marshman, formou o “trio de Serampore”, estabelecendo uma comunidade missionária autossustentável. Fundaram uma escola para crianças pobres, ensinando leitura, escrita, contabilidade e cristianismo, e criaram a Serampore Mission Press, que imprimiu a Bíblia em bengali e outras línguas. Carey traduziu o Novo Testamento para o bengali, revisando-o durante seis anos, e produziu gramáticas e dicionários em bengali e sânscrito. Seu trabalho no Fort William College, como professor de bengali, sânscrito e marathi, permitiu colaborações com pandits para refinar suas traduções, incluindo a do épico hindu Ramayana para o inglês.
Carey enfrentou tragédias pessoais: Dorothy sofreu um colapso mental em 1794, agravado pela morte de Peter, e faleceu em 1807, após anos de instabilidade. Carey recusou interná-la, mantendo-a em casa apesar das dificuldades. Em 1808, casou-se com Charlotte Rhumohr, uma dinamarquesa intelectualmente compatível, que morreu em 1821. Em 1823, casou-se com Grace Hughes. Sua missão também enfrentou desafios: um incêndio em 1812 destruiu manuscritos valiosos, incluindo um dicionário poliglota, mas a imprensa foi reconstruída. Carey fundou o Serampore College em 1818, que obteve uma carta real dinamarquesa em 1827, formando pastores e oferecendo educação em artes e ciências sem distinção de casta. Como cristão, via a conversão como um chamado divino, mas rejeitava distinções de casta, como demonstrado no casamento intercastas de 1802. Sua campanha contra o sati, baseada em consultas aos textos hindus, contribuiu para sua proibição em 1829.
Carey também se destacou como botânico, fundando a Agri Horticultural Society of India em 1820 e mantendo o Jardim Botânico de Calcutá. Sua abordagem à cultura indiana, embora crítica por vezes, como em sua visão da música local como “desagradável”, refletia sua formação evangélica e o contexto colonial. Historiadores notam que suas descrições do hinduísmo eram influenciadas por sua missão, mas sua erudição abriu a literatura indiana à Europa, sendo elogiado pela Asiatic Society. Em 1834, após romper com a Baptist Missionary Society devido a divergências administrativas, Carey morreu em Serampore, deixando um legado de 700 convertidos, traduções bíblicas em 44 línguas e uma rede educacional que transformou a Índia. Sua vida exemplifica a união de zelo cristão com precisão técnica, marcando uma transição cultural ascendente na história indiana.