John Bunyan (1628-1688), nascido em 1628 em Elstow, Bedfordshire, e falecido em 31 de agosto de 1688 em Londres, foi um escritor e pregador puritano inglês cuja obra-prima, O Peregrino, estabeleceu-se como um dos textos mais influentes da literatura cristã. Autor de cerca de sessenta obras, muitas delas sermões expandidos, Bunyan combinou uma espiritualidade fervorosa com uma expressão literária acessível, refletindo sua fé em um Deus soberano que guia os fiéis através das provações da vida. Sua trajetória, marcada por conversão, perseguição e resiliência, foi moldada pela Guerra Civil Inglesa, pela prisão por sua pregação não conformista e por uma dedicação incansável à proclamação do Evangelho. Sua habilidade em transformar verdades teológicas em narrativas alegóricas não apenas cativou leitores de sua época, mas também assegurou sua relevância por séculos.
Filho de Thomas Bunyan, um latoeiro, e Margaret, John cresceu em uma família de origem modesta, embora não tão desprivilegiada quanto sugeriu em sua autobiografia espiritual, Graça Abundante ao Principal dos Pecadores. Batizado em 30 de novembro de 1628, ele recebeu alguma educação formal, possivelmente em Bedford ou Houghton Conquest, e aprendeu o ofício de latoeiro com o pai. Aos 16 anos, alistou-se no exército parlamentar em Newport Pagnell durante a Guerra Civil, onde foi exposto a ideias religiosas radicais e à linguagem militar que mais tarde permeou sua obra A Guerra Santa. Após deixar o exército em 1647, retornou a Elstow, onde se casou por volta de 1649 com uma mulher cuja identidade não foi registrada. Sua esposa trouxe dois livros devocionais, O Caminho do Homem Simples ao Céu, de Arthur Dent, e A Prática da Piedade, de Lewis Bayly, que despertaram seu interesse pela fé. O casal teve quatro filhos, incluindo Mary, que nasceu cega em 1650.
A conversão de Bunyan foi um processo gradual e intenso. Inicialmente, ele frequentava a igreja paroquial de Elstow, mas sua vida era marcada por práticas que os puritanos condenavam, como danças e jogos aos domingos. Um sermão contra a profanação do Dia do Senhor e uma experiência mística, na qual ouviu uma voz celestial questionando seus pecados, desencadearam uma crise espiritual. Atormentado por dúvidas e medo do inferno, ele encontrou consolo ao ouvir mulheres do Bedford Meeting, um grupo não conformista, discutindo questões espirituais. Em 1653, uniu-se à congregação liderada por John Gifford e, inspirado por sua comunhão, começou a pregar. Sua primeira obra, Verdades do Evangelho Reveladas (1656), refutava os ranters e quakers, consolidando sua voz como defensor da ortodoxia puritana.
Com a Restauração da monarquia em 1660, a tolerância religiosa diminuiu, e Bunyan foi preso em novembro daquele ano por pregar sem licença, violando a Lei Religiosa de 1592. Recusando-se a abandonar sua missão, ele passou doze anos na prisão do condado de Bedford, enfrentando dificuldades que incluíram a morte de sua primeira esposa em 1658 e a perda de um filho natimorto com sua segunda esposa, Elizabeth, casada em 1659. Na prisão, apoiado pela Bíblia, pelo Livro dos Mártires de John Foxe e pela solidariedade de sua comunidade, ele escreveu Graça Abundante e iniciou O Peregrino. Liberado em 1672 após a Declaração de Indulgência de Carlos II, tornou-se pastor do Bedford Meeting. Uma segunda prisão, de seis meses entre 1676 e 1677, permitiu-lhe concluir O Peregrino, publicado em 1678 por Nathaniel Ponder, que alcançou sucesso imediato.
Nos últimos anos, Bunyan dedicou-se à pregação e à escrita, viajando por Bedfordshire e Londres, onde ganhou a alcunha de “Bispo Bunyan”. Suas obras, como A Vida e Morte do Senhor Malvado (1680), A Guerra Santa (1682) e a segunda parte de O Peregrino (1684), exploraram temas de redenção, pecado e luta espiritual com uma linguagem rica em imagens bíblicas e referências locais, como o portão estreito inspirado na igreja de Elstow. Em 1688, ao tentar reconciliar um pai e filho em Reading, ele contraiu uma febre após viajar sob uma tempestade. Faleceu na casa de John Strudwick em Londres e foi sepultado em Bunhill Fields, deixando um patrimônio modesto e uma viúva, Elizabeth, que morreu em 1691.
O legado de Bunyan repousa sobretudo em O Peregrino, uma alegoria que retrata a jornada cristã rumo à salvação com uma clareza que transcendeu fronteiras culturais e temporais. Com mais de 1.300 edições até 1938, o livro influenciou autores como C.S. Lewis, Charles Dickens e Mark Twain. Sua técnica literária, que transformava conceitos teológicos em narrativas envolventes, aliada à sua experiência pessoal de conversão e perseguição, conferiu autenticidade à sua obra. Reconhecido pela Igreja da Inglaterra com uma festa menor em 30 de agosto, Bunyan também é homenageado em memoriais, como a estátua de bronze em Bedford e portas de bronze no John Bunyan Meeting. Sua vida e escritos, enraizados na fé puritana, continuam a inspirar por sua defesa da liberdade de consciência e pela visão de um Evangelho que guia os fiéis através das provações terrenas.