Han Kyung-chik (1902-2000), nascido em 29 de dezembro de 1902 em Pyeongwon, província de Pyeongannam, Coreia, e falecido em 19 de abril de 2000 em Seul, aos 98 anos, foi um dos mais proeminentes pastores presbiterianos e educadores da Coreia do Sul no século XX. Fundador da Igreja Youngnak e líder de diversas instituições cristãs, como a Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana da Coreia e o Conselho Nacional de Igrejas da Coreia, ele deixou um legado duradouro no cristianismo coreano. Reconhecido por sua vida austera, humildade e dedicação aos desfavorecidos, Han combinou uma espiritualidade profundamente enraizada na fé evangélica com um compromisso técnico na construção de instituições educacionais e de assistência social. Sua trajetória, marcada por desafios como a ocupação japonesa e a Guerra da Coreia, reflete uma visão cristã de serviço, embora controversas associações políticas, como o apoio a regimes militares, tenham gerado críticas.
Filho de Han Do-pung e de uma mulher da família Lee de Cheongju, Han nasceu em uma vila rural e foi o primogênito de sua família. Introduzido ao cristianismo na infância, estudou na escola missionária Jingwang e, posteriormente, na prestigiosa Osan School, em Jeongju, onde se formou em 1919. Sua formação inicial incluiu o ensino em escolas cristãs, como a Youngsung Elementary School, antes de ingressar no Soongsil College, em Pyongyang, em 1922, onde se graduou em ciências. Em 1926, partiu para os Estados Unidos, estudando no Emporia College, no Kansas, e concluindo sua formação teológica no Princeton Theological Seminary em 1929. Um diagnóstico de tuberculose o levou a uma longa recuperação em sanatórios no Novo México e no Colorado, período que aprofundou sua vocação pastoral. Retornou à Coreia em 1932, iniciando sua carreira como educador e pregador.
De volta à Coreia, Han serviu como professor no Soongsil College e na Sungin Commercial School, antes de ser ordenado pastor em 1933 pela Assembleia de Uisan, na província de Pyeongannam. Nomeado para a Segunda Igreja de Sinuiju, ele liderou a construção de um novo templo em 1935, mas enfrentou perseguições durante a ocupação japonesa. Expulso de Sinuiju em 1942 por sua formação no exterior, assumiu a direção do Borinwon, um orfanato que fundou em 1939, dedicando-se a órfãos e idosos desamparados. Com a intensificação da repressão japonesa às igrejas, foi forçado a fechar sua congregação. Após a libertação da Coreia em 1945, Han tentou organizar movimentos cristãos em Sinuiju, mas a ocupação soviética o levou a cruzar a linha de 38 graus para o sul, onde sua liderança se consolidaria.
Em dezembro de 1945, Han fundou a Igreja Betânia, em Seul, no local de uma antiga propriedade japonesa, que se tornaria a Igreja Youngnak. Inicialmente com 27 membros, a congregação cresceu rapidamente, alcançando 6.000 fiéis em 1949, impulsionada por refugiados do norte. Sob sua liderança, a igreja introduziu inovações, como cultos em dois turnos, e expandiu-se para incluir iniciativas de bem-estar social, como o Orfanato Youngnak Borinwon e escolas, incluindo a Daekwang Middle e High School. Durante a Guerra da Coreia, Han organizou esforços de socorro aos refugiados e liderou a formação do Conselho Nacional Cristão para a Salvação, em 1950, reforçando sua posição como uma voz anticomunista influente. Contudo, sua associação com a controversa Sociedade da Juventude do Noroeste, envolvida em episódios de violência, permanece um ponto de crítica.
Na década de 1950, Han desempenhou papéis centrais na reconstrução do cristianismo coreano. Como presidente da Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana em 1955, liderou a facção que se alinhou ao Conselho Mundial de Igrejas, resultando na divisão da denominação. Ele também foi instrumental na reabertura da Universidade Soongsil, em Seul, servindo como seu reitor de 1954 a 1958. Fundou instituições como o Youngnak Women’s Theological Seminary e assumiu cargos de liderança em organizações como o Holt Children’s Services e o World Vision, ampliando o impacto social do cristianismo. Seu apoio ao golpe militar de Park Chung-hee, em 1961, e a regimes autoritários subsequentes, incluindo sua participação em missões diplomáticas para justificar o golpe nos Estados Unidos, gerou controvérsias, com críticos apontando sua conivência com a repressão política.
Após aposentar-se como pastor titular da Igreja Youngnak em 1973, Han continuou ativo, fundando o Instituto para o Avanço da Igreja Coreana e liderando iniciativas de evangelização militar. Sua influência internacional foi reconhecida em 1992, quando recebeu o Prêmio Templeton, frequentemente comparado a um “Nobel da religião”. Durante a cerimônia, ele confessou publicamente seu arrependimento por ter participado de rituais de adoração em santuários xintoístas durante a ocupação japonesa, um ato que chocou a comunidade cristã coreana, mas foi visto como um gesto de humildade. Nos anos finais, residiu em uma modesta casa em Namsan, deixando um legado material mínimo, composto apenas por itens pessoais como uma cadeira de rodas e roupas.
Han faleceu em 19 de abril de 2000, e seu funeral, conduzido pela Assembleia Geral Presbiteriana, foi um evento de grande significado. Sua autobiografia, “Minha Gratidão”, publicada postumamente em 2010, reflete sua visão de uma vida dedicada à gratidão a Deus. Apesar das críticas por suas posturas políticas, Han é lembrado por sua integridade espiritual, sua capacidade de mobilizar comunidades em tempos de crise e seu compromisso com a educação e o bem-estar social. Suas contribuições para a formação de uma identidade cristã coreana moderna, aliadas à sua habilidade em estruturar instituições duradouras, fazem dele uma figura seminal, cuja influência persiste na Igreja Presbiteriana e além.