Fócio de Constantinopla (815-893), Fócio I, nascido por volta de 815 em Constantinopla e falecido em 6 de fevereiro de 893, foi patriarca ecumênico de Constantinopla em dois mandatos, de 858 a 867 e de 877 a 886, sendo venerado como São Fócio, o Grande, pela Igreja Ortodoxa Oriental. Intelectual proeminente do século IX, liderou o renascimento cultural bizantino, sistematizando o direito canônico oriental em sua coleção em duas partes, que permanece uma referência clássica para a Igreja Grega. Central na conversão dos eslavos ao cristianismo e no cisma que leva seu nome, Fócio combinou erudição teológica com habilidade administrativa, navegando conflitos eclesiásticos e políticos com uma visão ancorada na ortodoxia cristã. Sua vasta produção literária, incluindo a Bibliotheca e a Amphilochia, reflete um compromisso com a preservação do conhecimento e a defesa da fé, enquanto sua gestão patriarcal demonstrou precisão estratégica em tempos turbulentos.
Originário de uma família nobre constantinopolitana, Fócio era sobrinho-neto do patriarca São Tarásio, que serviu de 784 a 806. Seu pai, Sérgio, um iconófilo convicto, enfrentou perseguições durante o segundo iconoclasmo, iniciado em 814, mas a família recuperou prestígio após a restauração dos ícones em 842. Embora algumas fontes sugiram ascendência armênia, a questão permanece debatida, com outros identificando-o como grego bizantino. Educado em teologia, história, gramática, filosofia, direito, ciências naturais e medicina, Fócio acumulou uma biblioteca notável, testemunho de sua erudição. Apesar de uma inclinação juvenil pelo monasticismo, optou por uma carreira secular, alcançando cargos como capitão da guarda e secretário imperial, possivelmente favorecido pelo casamento de seu irmão Sérgio com Irene, irmã da imperatriz Teodora. Participou de uma embaixada ao califado abássida em Bagdá, consolidando sua reputação como scholar.
A ascensão de Fócio ao patriarcado ocorreu em 858, em meio a tensões políticas. O imperador Miguel III e seu tio Bardas, enfrentando oposição do patriarca Inácio, confinaram este último sob acusação de traição. Fócio, ainda leigo, foi tonsurado monge, ordenado em rápida sucessão como leitor, subdiácono, diácono, presbítero e, no Natal de 858, bispo, assumindo a cátedra patriarcal na Hagia Sophia. A destituição de Inácio, sem julgamento eclesiástico formal, gerou controvérsia, levando os partidários de Inácio a apelarem ao papa Nicolau I. Um sínodo local em 859 confirmou a eleição de Fócio, mas legados papais, enviados em 861, aquiesceram à sua posse sem autoridade clara. Em 863, Nicolau depôs Fócio em um sínodo romano, reinstalando Inácio e desencadeando o cisma fócio. Fócio respondeu em 867, convocando um concílio que tentou excomungar o papa, citando heresia na questão do Filioque, além de disputas sobre a jurisdição da Bulgária recém-convertida.
O assassinato de Miguel III em 867 e a ascensão de Basílio I alteraram o cenário. Buscando aliança com o Ocidente, Basílio depôs Fócio, exilando-o e reinstalando Inácio. Um concílio em 869-870 condenou Fócio, encerrando temporariamente o cisma. Durante o exílio no mosteiro de Skepi, Fócio manteve correspondência, pressionando por sua restauração. Reabilitado por Basílio, tornou-se tutor dos filhos imperiais e, após a morte de Inácio em 877, reassumiu o patriarcado. Um concílio em 879, com legados do papa João VIII, reconheceu sua legitimidade, embora tensões persistissem sobre o Filioque e a Bulgária. Fócio recusou-se a ceder nessas questões, mantendo a autocefalia búlgara estabelecida em 870. Promoveu, sem sucesso, a reconciliação com a Igreja Armênia em 862 e 877, buscando superar divergências confessionais.
Sob Basílio I e seu herdeiro Leão VI, Fócio enfrentou novos desafios. Em 883, dissuadiu Basílio de cegar Leão, acusado de conspiração, mas em 886, após a morte de Basílio, Leão depôs Fócio, substituindo-o por seu irmão Estêvão I. Exilado no mosteiro de Bordi, na Armênia, Fócio foi julgado por traição em 887, sendo banido para o mosteiro de Gordon, onde morreu. Apesar disso, Leão VI parece ter reabilitado sua memória, permitindo seu sepultamento em Constantinopla e retratando-o favoravelmente em textos posteriores. Fócio continuou escrevendo no exílio, e sua veneração como santo começou logo após sua morte, sendo formalizada no século X, com sua festa celebrada em 6 de fevereiro.
A produção de Fócio é monumental. A Bibliotheca, com resumos de 280 obras, preserva excertos de autores como Ctésias e Arriano, muitos perdidos. A Amphilochia responde a 300 questões bíblicas, enquanto tratados contra maniqueístas, paulicianos e latinos abordam a processão do Espírito Santo. Cartas a Boris I da Bulgária e a Leão VI refletem sua preocupação com a formação cristã. Como cristão, Fócio via a ortodoxia como guardiã da verdade divina, rejeitando inovações ocidentais. Sua administração patriarcal, marcada por negociações e concílios, revela uma mente estratégica, enquanto sua erudição humanística reforçou a identidade grega bizantina. Fócio permanece uma figura singular, unindo fé, intelecto e liderança em defesa da Igreja Oriental.