Agostinho de Cantuária (534-604), nascido no início do século VI, provavelmente em Roma, e falecido, segundo a tradição, em 26 de maio de 604, na Cantuária (Canterbury), Agostinho foi um monge cristão que se tornou o primeiro arcebispo de Cantuária em 597. Conhecido como o "Apóstolo dos Ingleses", ele liderou a missão gregoriana, enviada pelo Papa Gregório I para converter os anglo-saxões do reino de Kent ao cristianismo, marcando um momento decisivo na cristianização da Inglaterra. Sua obra, centrada na evangelização e na organização eclesiástica, reflete um compromisso inabalável com a fé cristã, articulado com habilidade administrativa e sensibilidade pastoral. Embora não tenha deixado escritos teológicos próprios, sua ação missionária, apoiada por uma estreita relação com o rei Etelberto, estabeleceu as bases para a expansão da Igreja na Grã-Bretanha, influenciando gerações futuras de missionários.
Antes da chegada de Agostinho, a Britânia, abandonada pelas legiões romanas em 410, enfrentava a chegada de tribos pagãs saxãs, enquanto o cristianismo nativo, concentrado em mosteiros no oeste da ilha, permanecia isolado de Roma. Influenciada por missionários irlandeses, a Igreja britânica desenvolvia práticas distintas, como o cálculo da Páscoa e a tonsura clerical, mas não buscava converter os invasores anglo-saxões. Foi nesse contexto que Gregório I, em 595, decidiu enviar uma missão para cristianizar o reino de Kent, governado por Etelberto, cuja influência se estendia pelo sudeste da Inglaterra. A escolha de Kent foi estratégica: Etelberto era casado com Berta, uma princesa franca cristã que trouxera consigo o bispo Liudhard, sugerindo uma predisposição favorável ao cristianismo. A proximidade com os francos, aliados de Gregório, e o comércio estabelecido com o continente facilitaram o apoio logístico e político à missão.
Agostinho, então prior do mosteiro de Santo André em Roma, foi escolhido por Gregório para liderar a missão, acompanhado por cerca de 40 monges, incluindo Lourenço, seu futuro sucessor. Sua formação, elogiada por Gregório por seu conhecimento bíblico, e sua experiência administrativa como prior o qualificavam para a tarefa. Em 597, após hesitações que levaram os missionários a considerar o retorno a Roma, Gregório os encorajou a prosseguir, e Agostinho desembarcou na Ilha de Thanet, dirigindo-se a Cantuária, a capital de Etelberto. O rei, influenciado por Berta, permitiu que os missionários pregassem livremente e cedesse terras para a fundação de um mosteiro fora das muralhas da cidade, mais tarde conhecido como Abadia de Santo Agostinho. A conversão de Etelberto, provavelmente em 597, marcou o início de uma evangelização em massa, com milhares de batismos, incluindo uma cerimônia significativa no Natal daquele ano. Agostinho foi consagrado bispo, possivelmente antes de chegar à Inglaterra, embora fontes contemporâneas sejam ambíguas sobre o local e a data da consagração.
A missão de Agostinho concentrou-se na organização da Igreja em Kent. Ele estabeleceu sua sé episcopal em Cantuária, fundou o mosteiro dos Santos Pedro e Paulo e, em 604, consagrou Melito como bispo de Londres e Justo como bispo de Rochester, expandindo a estrutura eclesiástica. Enviou Lourenço a Roma em 601 para relatar os sucessos e buscar orientações de Gregório, que respondeu com o Libellus responsionum, abordando questões como a organização da Igreja, o casamento, o batismo e a liturgia. Gregório enviou reforços, incluindo um pálio, símbolo da autoridade arquiepiscopal, e instruiu Agostinho a criar duas metrópoles, em Londres e York, cada uma com 12 bispos sufragâneos. O plano de transferir a sé arquiepiscopal para Londres não se concretizou, provavelmente porque Londres pertencia ao reino de Essex, fora do domínio de Etelberto. Agostinho também fundou uma escola para formar clérigos anglo-saxões, que se tornou um centro de treinamento missionário.
Apesar de seus sucessos, Agostinho enfrentou desafios com os cristãos nativos da Britânia, particularmente em Gales e Dumnonia. Gregório esperava que esses cristãos se subordinassem à autoridade de Agostinho, mas diferenças teológicas, como a data da Páscoa e a organização monástica, somadas a um erro diplomático de Agostinho — que não se levantou para saudar os bispos britânicos em um encontro em 603 —, impediram um acordo. Essas tensões refletiam não apenas divergências litúrgicas, mas também rivalidades políticas, já que os reinos de Wessex e Mércia expandiam-se sobre territórios britânicos. Agostinho, com apoio de Etelberto, reconverteu igrejas de origem romana, como a de São Martinho, e adaptou templos pagãos para o culto cristão, seguindo as diretrizes de Gregório.
Antes de sua morte, Agostinho consagrou Lourenço como seu sucessor, garantindo a continuidade da missão. Faleceu em 604, e seu corpo foi sepultado na Abadia de Santo Agostinho, que se tornou um local de peregrinação. Sua santificação ocorreu logo após sua morte, e seu culto foi promovido ativamente após a Conquista Normanda. Embora sua missão tenha se limitado inicialmente a Kent, Agostinho introduziu um modelo de evangelização ativa que contrastava com a passividade dos cristãos nativos frente aos saxões. Sua colaboração com Etelberto proporcionou estabilidade para estabelecer a Igreja, influenciando futuras missões anglo-saxãs. Durante a Reforma Inglesa, seu santuário foi destruído, mas em 2012 foi restabelecido em Ramsgate, próximo ao local de seu desembarque. A Cruz de Santo Agostinho, erguida em 1884 em Ebbsfleet, marca o ponto onde ele teria encontrado Etelberto, simbolizando seu legado como pioneiro do cristianismo inglês.