A Segunda Epístola de João, um dos livros mais breves do Novo Testamento, é tradicionalmente atribuída a João, o Evangelista, também associado ao Evangelho de João, à Primeira e à Terceira Epístolas de João, embora a autoria seja objeto de debate. Composta em grego koiné, com apenas 13 versículos, a carta é preservada em manuscritos como o Papiro 72 (século III/IV) e o Uncial 0232 (século V/VI), que contém os versículos 1-5. Dirigida à “senhora eleita” (ἐκλεκτῇ κυρίᾳ) e seus filhos, a epístola conclui com saudações dos “filhos da tua irmã eleita” (2 João 1:13). Seu conteúdo enfatiza a verdade cristã, o amor fraterno e a rejeição de falsos mestres, refletindo desafios teológicos da Igreja primitiva. A semelhança linguística e temática com a Terceira Epístola de João sugere um autor comum, possivelmente João, o Apóstolo, embora muitos estudiosos modernos considerem a carta pseudepígrafa, escrita por um discípulo ou comunidade joanina.
A autoria joanina é questionada devido ao estilo refinado e à ausência de consenso sobre a identidade do autor. A tradição sustenta que João, o Apóstolo, escreveu a epístola, apoiada por sua estrutura linguística, vocabulário distinto e polêmicas contra o docetismo, uma heresia que negava a humanidade de Cristo (2 João 1:7). Contudo, a sofisticação do texto e a menção a heresias como o gnosticismo, mais proeminente nos séculos II e III, levam alguns a datar a carta entre 90 e 110 d.C., após a morte de João. A condenação veemente de falsos mestres sugere que tais ideias eram influentes o suficiente para exigir refutação. Outros defendem a autoria joanina, argumentando que a epístola reflete preocupações teológicas consistentes com o Evangelho de João, como a encarnação de Cristo. A falta de evidências textuais claras sobre as origens do gnosticismo complica a datação, mas o texto permanece um testemunho da luta pela ortodoxia cristã.
A destinatária, chamada “senhora eleita”, é interpretada de duas formas principais. Muitos estudiosos, como Amos Wilder, veem-na como uma metáfora para uma igreja local, com seus “filhos” representando os membros da congregação e a “irmã eleita” outra comunidade cristã. O termo “eleitos” (ἐκλεκτοί) era comum para designar os seguidores de Cristo, reforçando essa leitura. Alternativamente, alguns, como Atanásio, sugerem que “Kyria” seja um nome próprio ou uma referência a uma mulher específica, possivelmente Maria, mãe de Jesus, com “filhos” aludindo a seus familiares (cf. João 19:25-27). Essa interpretação, porém, implica uma datação mais precoce, incompatível com a cronologia moderna. A epístola exorta à fidelidade à verdade, à prática do amor e à rejeição de hereges, especialmente os que negam a encarnação. Sua brevidade e foco teológico a tornam um documento essencial para compreender a defesa da fé cristã primitiva frente a desvios doutrinários.