C. S. Lewis (1898-1963) nasceu em Belfast, na Irlanda, em 1898, em uma família de classe média alta. Seu pai era advogado, e sua mãe, profundamente religiosa, desempenhou um papel fundamental em sua formação inicial. Durante a infância, ele demonstrou um talento precoce para a leitura e a escrita, sendo influenciado por obras de ficção e mitologia que moldaram sua imaginação. Após a morte prematura da mãe, quando Lewis tinha apenas nove anos, sua vida sofreu uma profunda transformação. Ele foi enviado a escolas internas na Inglaterra, onde enfrentou dificuldades emocionais e acadêmicas, mas também desenvolveu seu amor pela literatura clássica e medieval.
Ao ingressar na Universidade de Oxford, Lewis destacou-se como um estudioso brilhante, especializando-se em literatura inglesa e filosofia. Durante seus anos de formação, ele adotou um ceticismo em relação à fé cristã, influenciado por ideias ateístas e materialistas predominantes em seu ambiente intelectual. Contudo, sua trajetória espiritual mudaria radicalmente após uma série de conversas com amigos próximos, especialmente J.R.R. Tolkien, que o levaram a reconsiderar suas convicções. Aos poucos, Lewis converteu-se ao cristianismo, uma transformação que ele descreveria mais tarde em sua autobiografia Surprised by Joy. Essa experiência marcou o início de uma nova fase em sua vida, durante a qual dedicou-se intensamente à defesa e exploração da fé cristã.
Lewis tornou-se um dos principais apologistas cristãos do século XX, escrevendo ensaios, discursos e livros que buscavam explicar os fundamentos da fé de maneira acessível e racional. Suas obras abordavam temas variados, desde a natureza de Deus até questões práticas sobre a vida cotidiana. Entre seus trabalhos mais notáveis estão Cristianismo Puro e Simples e O Problema do Sofrimento, nos quais combinava argumentos lógicos com reflexões pessoais, sempre enfatizando a importância de alinhar razão e fé. Além disso, ele explorou o poder da narrativa como ferramenta apologética, criando parábolas e alegorias que comunicavam verdades teológicas de forma envolvente.
Seu talento como contador de histórias revelou-se plenamente na série As Crônicas de Nárnia, que transcendeu fronteiras culturais e geracionais. Essas obras, embora frequentemente classificadas como literatura infantil, carregam camadas profundas de simbolismo cristão e reflexões morais. Lewis afirmava que as histórias eram uma maneira eficaz de transmitir verdades universais, permitindo que os leitores explorassem questões complexas sem serem confrontados diretamente com conceitos doutrinários. Seu uso habilidoso de metáforas e mundos fantásticos consolidou sua reputação como um dos grandes escritores de sua época.
Além de sua produção literária, Lewis também foi um professor dedicado, lecionando em Oxford e, posteriormente, em Cambridge. Seus estudos acadêmicos concentravam-se principalmente na literatura medieval e renascentista, áreas nas quais publicou trabalhos influentes, como A Alegoria do Amor. Nele, explorava o uso da alegoria em textos medievais, contribuindo para a revitalização do interesse por esse gênero literário. Sua paixão pela história da literatura refletia-se não apenas em suas pesquisas, mas também em sua capacidade de conectar tradições antigas com questões contemporâneas.
Lewis também cultivou amizades profundas e colaborativas, participando de um grupo informal de escritores conhecido como os Inklings. Reuniões realizadas em pubs ou salas de estar serviam como fóruns para discussões intelectuais e críticas mútuas de trabalhos em progresso. Foi nesse ambiente que surgiram algumas das ideias mais inovadoras de Lewis e Tolkien, ambos influenciando-se mutuamente em suas criações literárias. A camaradagem desses encontros deixou marcas visíveis em suas obras, que muitas vezes refletem diálogos intertextuais e temas compartilhados.
Nos últimos anos de sua vida, Lewis continuou a escrever extensivamente, alternando entre trabalhos acadêmicos, ensaios apologéticos e ficção. Apesar de alguns reveses, como a perda de debates públicos com outros pensadores cristãos, ele nunca abandonou sua missão de defender a fé através da palavra escrita. Sua obra Milagres, originalmente publicada em 1947 e revisada em 1960, exemplifica seu compromisso com a clareza e a coerência intelectual. Mesmo diante de críticas, Lewis permaneceu firme em sua convicção de que a razão e a imaginação deveriam andar lado a lado na busca pela verdade.
Após sua morte, em 1963, Lewis foi lembrado tanto como um pensador quanto como um contador de histórias cujas ideias continuaram a inspirar milhões de pessoas ao redor do mundo. Seu legado é evidente não apenas na vasta coleção de livros que escreveu, mas também no impacto que exerceu sobre movimentos cristãos contemporâneos e no campo da literatura fantástica. Em 2024, novas descobertas sobre sua vida e obra, incluindo poemas inéditos, ampliaram ainda mais a compreensão de sua genialidade multifacetada. Assim, C.S. Lewis figura como uma das figuras mais marcantes da cultura moderna, cuja contribuição transcende barreiras disciplinares e continua a iluminar os caminhos da fé, da imaginação e do conhecimento humano.