Charles Grandison Finney (1792-1875), nascido em 29 de agosto de 1792 em Warren, Connecticut, e falecido em 16 de agosto de 1875, destacou-se como uma das figuras mais influentes e controversas do protestantismo norte-americano do século XIX. Seu nome permanece indissociável do fervor religioso que marcou o Segundo Grande Despertar nos Estados Unidos, movimento no qual desempenhou papel central como pregador avivalista, reformador social e teólogo independente. Longe de conformar-se aos moldes do tradicionalismo reformado, Finney tornou-se símbolo de uma nova espiritualidade que combinava emoção religiosa, apelo moral e militância social.
A trajetória de Finney ganha contornos singulares desde a juventude. O mais novo de nove filhos de uma família de agricultores, cresceu na região fronteiriça de Nova York, em Jefferson County. Jamais frequentou uma universidade, mas sua estatura imponente, o olhar penetrante, os talentos musicais e a liderança natural tornaram-no figura notável em sua comunidade. Ainda jovem, estudou direito sob orientação de Benjamin Wright e envolveu-se com a maçonaria, da qual posteriormente se afastaria, considerando-a incompatível com os princípios do cristianismo. Sua vida tomou novo rumo após uma intensa experiência de conversão espiritual, que o levou a abandonar a carreira jurídica para dedicar-se à pregação do evangelho.
Finney iniciou sua formação ministerial aos vinte e nove anos, sob a tutela de George Washington Gale, e logo se viu envolvido nas atividades missionárias da igreja presbiteriana. As reservas que nutria quanto à doutrina tradicional dessa denominação, no entanto, tornaram-se cada vez mais evidentes. Suas pregações apaixonadas e inovadoras, especialmente durante o período entre 1825 e 1835, concentraram-se no chamado “Distrito Queimado” do interior de Nova York, uma região já saturada por movimentos de reavivamento. Ali e em Manhattan, Finney se consolidou como um dos mais proeminentes evangelistas de seu tempo, atraindo multidões e transformando comunidades inteiras com seu estilo direto, emocional e frequentemente provocador.
As inovações que introduziu nos cultos públicos — como permitir que mulheres orassem em público diante de homens, o uso do “banco dos ansiosos” para os indecisos e as admoestações nominais durante as orações — despertaram tanto admiração quanto resistência. A intensidade e espontaneidade de sua pregação tocavam profundamente o público. Um exemplo emblemático foi o avivamento que conduziu em Rochester, Nova York, entre 1830 e 1831, cujos efeitos se estenderam a diversos setores da sociedade: negócios fecharam, estabelecimentos de entretenimento foram transformados, e as igrejas ficaram repletas de fiéis dispostos a renovar a vida moral e espiritual da cidade.
Entretanto, a atuação de Finney não se limitou ao púlpito. Fortemente engajado em causas sociais, foi voz ativa contra a escravidão, considerando-a um pecado nacional, e recusava-se a oferecer a Ceia do Senhor àqueles que possuíam ou comerciavam escravos. Envolveu-se igualmente na defesa da educação igualitária para mulheres e afro-americanos. Esse compromisso se traduziu na prática quando, em 1835, assumiu a cátedra de teologia sistemática no recém-fundado Instituto Colegiado de Oberlin, em Ohio, onde a admissão de estudantes não se restringia por raça ou sexo. Em 1851, tornou-se o segundo presidente da instituição, função que exerceu até 1866. Sob sua liderança, Oberlin consolidou-se como um bastião do abolicionismo e da educação inclusiva, participando ativamente da rede do "Underground Railroad" que ajudava escravizados a fugir do cativeiro rumo à liberdade.
Do ponto de vista teológico, Finney pertenceu à corrente do presbiterianismo conhecida como “Nova Escola”, distinguindo-se pela rejeição a diversos postulados da ortodoxia reformada, sobretudo a doutrina da depravação total. Acreditava que o ser humano, mesmo sem uma graça irresistível, podia escolher agradar a Deus — uma perspectiva que lhe valeu acusações de pelagianismo ou, ao menos, de uma forma branda de semi-pelagianismo. Em matéria de expiação, sua doutrina não se enquadra perfeitamente em nenhuma das teorias históricas, ainda que elementos da teoria da influência moral estejam presentes.
Defensor do perfeccionismo cristão, Finney ensinava que, mediante uma entrega total a Cristo, o crente poderia alcançar um estágio elevado de santificação, obedecendo à lei divina e vivendo em amor ao próximo. Essa perfeição, no entanto, não significava ausência de pecado, mas uma disposição espiritual inteiramente voltada ao bem. Reconhecia a possibilidade de recaída, até mesmo de perda da salvação, o que implicava uma ética de vigilância constante e um chamado permanente à conversão.
A conversão, de fato, era o núcleo de sua mensagem. Para Finney, o avivamento não era um milagre sobrenatural, mas o resultado previsível da aplicação correta dos meios designados por Deus. A regeneração espiritual exigia ação humana decidida, sendo o pregador um instrumento crucial no despertar das consciências. Seu otimismo quanto à capacidade humana de cooperar com a graça o levava a adotar uma visão pós-milenista: cria que os cristãos, por meio de esforços piedosos e reformas sociais, poderiam instaurar o Reino de Deus na terra antes da segunda vinda de Cristo.
Na vida pessoal, Finney casou-se três vezes. Sua primeira esposa, Lydia Root Andrews, com quem teve seis filhos, faleceu em 1847. Em 1848, uniu-se a Elizabeth Ford Atkinson, que faleceu em 1863. Casou-se novamente em 1865 com Rebecca Allen Rayl. Todas o acompanharam em suas atividades missionárias. Faleceu aos 82 anos, deixando um legado complexo e duradouro. Um de seus descendentes, também chamado Charles Grandison Finney, tornou-se escritor conhecido.
Mesmo alvo de críticas por parte de teólogos ortodoxos, como Benjamin Warfield e Albert Baldwin Dod, que viam em sua teologia uma perigosa minimização da ação divina, Finney permanece como um marco na história do cristianismo norte-americano — uma figura que desafiou tradições, galvanizou massas e buscou, com ardor singular, reformar tanto as almas quanto a sociedade.