Girolamo Zanchi (1516-1590), nascido em 2 de fevereiro de 1516 em Alzano Lombardo, Itália, e falecido em 19 de novembro de 1590 em Heidelberg, Alemanha, foi um teólogo reformado italiano cuja erudição moldou a teologia protestante após a morte de João Calvino. Convertido do catolicismo ao protestantismo, Zanchi combinou o rigor calvinista com a metodologia tomista, articulando doutrinas como a predestinação absoluta e a lei natural em obras como "Confissão da Religião Cristã" e "Operum Theologicorum". Sua vida, marcada por exílios e controvérsias, reflete um compromisso com a verdade bíblica, fundamentado em uma fé cristã que via Cristo como o cumprimento da lei divina. Como educador, sua precisão exegética e estilo escolástico influenciaram gerações, consolidando-o como uma figura central da Reforma tardia.
Filho de um advogado nobre e historiador, Zanchi perdeu o pai na peste de 1528 e a mãe três anos depois. Aos 15 anos, ingressou no mosteiro dos Cônegos Regulares Agostinianos, onde estudou Aristóteles, línguas e teologia. Em Lucca, sob a influência de Peter Martyr Vermigli, cuja exposição de Romanos o marcou profundamente, Zanchi abandonou o catolicismo. Ele leu os Pais da Igreja, Lutero, Bucer, Melanchthon e os reformadores suíços, mas foi Calvino quem mais o impactou, com sua ênfase na soberania divina. Após a fuga de Vermigli em 1542, Zanchi permaneceu no mosteiro como professor de grego, mas em 1551, pressionado pela Inquisição, exilou-se. Após uma breve passagem por Genebra, planejou ir à Inglaterra, mas foi chamado a Estrasburgo, onde lecionou Antigo Testamento no Colégio de São Tomás. Seu estilo legalista e exegese meticulosa o destacaram, embora sua recusa em adotar integralmente a Confissão de Augsburgo gerasse tensões com o superintendente luterano Johann Marbach.
Em Estrasburgo, Zanchi enfrentou controvérsias sobre a eucaristia e a predestinação. Ele minimizava as diferenças entre luteranos e reformados na Ceia do Senhor, mas defendia a predestinação calvinista, o que levou a disputas. Após consultas teológicas externas, ele assinou o Consenso de Estrasburgo, uma fórmula de unidade. Contudo, ao reafirmar publicamente suas posições após críticas de Calvino, a controvérsia reacendeu, forçando-o a deixar a cidade. Em 1563, tornou-se pastor da congregação protestante italiana em Chiavenna, nos Grisões, onde aprofundou sua teologia. Em 1568, aceitou um chamado para a Universidade de Heidelberg, assumindo a cátedra de dogmática anteriormente ocupada por Zacharias Ursinus. Em Heidelberg, produziu obras apologéticas e polêmicas, como "Observação sobre os Atributos Divinos", caracterizadas por um método escolástico que integrava filosofia tomista e doutrina reformada. Quando o Eleitorado do Palatinado retornou ao luteranismo sob Ludwig VI, Zanchi transferiu-se para o Casimirianum, uma academia reformada em Neustadt, continuando a ensinar até sua morte durante uma visita a Heidelberg, onde foi sepultado na Igreja da Universidade.
A teologia de Zanchi reflete uma síntese de calvinismo e tomismo. Em "A Doutrina da Predestinação Absoluta", ele defendeu a soberania divina na salvação, enfatizando a eleição incondicional. Sua obra "Sobre a Lei em Geral", extraída do "Operum Theologicorum", equipara a lei natural ao Decálogo, argumentando que ambas revelam o pecado e apontam para Cristo como seu cumprimento. Diferentemente de Tomás de Aquino, que via a lei natural como um resquício da imagem divina, Zanchi a considerava uma reinscrição divina na mente humana após a Queda, com base em Romanos 2:14-15. Essa visão sublinhava a universalidade da lei moral, acessível a todos, mas insuficiente sem a graça de Cristo. Sua abordagem cristocêntrica enfatizava que a lei, seja natural ou mosaica, conduz o pecador a buscar perdão em Jesus, reforçando a centralidade do Evangelho na vida cristã.
Zanchi não era um pensador original, mas sua erudição e clareza didática o tornaram um dos maiores teólogos do século XVI. Ele dominava os Pais da Igreja, a filosofia aristotélica e a teologia reformada, integrando-as em um sistema coeso. Como professor, sua habilidade de ensinar com precisão e profundidade era amplamente reconhecida, atraindo estudantes em Estrasburgo, Chiavenna e Heidelberg. Sua vida pessoal também refletia sua fé: casado com a filha de Caelius Secundus Curio, ele encontrou estabilidade em meio aos exílios, sustentado por uma convicção de que a verdade bíblica exigia sacrifícios. Sua epígrafe fúnebre, que exalta seu amor pela verdade e sua contribuição à ciência divina, captura o impacto de sua obra, que continuou a influenciar a teologia reformada após sua morte.
O legado de Zanchi reside em suas contribuições doutrinárias e educacionais. Suas obras, especialmente o "Operum Theologicorum", foram amplamente lidas, moldando o pensamento reformado na Europa. Sua ênfase na predestinação e na lei natural forneceu uma base teológica robusta para igrejas reformadas enfrentando desafios luteranos e católicos. Embora tenha enfrentado resistência, sua habilidade de dialogar com adversários, como no Consenso de Estrasburgo, demonstrou um compromisso com a unidade cristã, sem comprometer suas convicções. Zanchi permanece uma figura exemplar de fidelidade à Escritura e à razão, cuja vida e obra testemunham a busca por uma teologia que honre a soberania de Deus e a redenção em Cristo.