Sobre as diferenças nas expressões dos Evangelhos e seus significados

06.março.2023

"Diferença" é usado de várias maneiras. Uma maneira é significar uma contradição, como quando um falante diz algo e seu oposto que o contradiz. É como quando alguém conta algo e também conta o seu contrário, o que o desvirtua. Isso é impossível nos livros de Deus, devido à infalibilidade daqueles que os narram. "Diferença" também tem outro significado, como quando alguém relata algo que ninguém mais relata. Na realidade, isso não é chamado de diferença porque uma pessoa pode dizer uma coisa e outra outra, mas essas duas coisas não são chamadas de diferentes. "Diferença" é usada de outra maneira, que é uma diferença de nomes, mas não de significados, como quando dizemos "rocha" e "pedra". Quando o Espírito do Paráclito repousava sobre os discípulos e eles se tornavam infalíveis com a infalibilidade com que nos protegemos dos enganos e erros, os escritores dos evangelhos só os escreveram nos momentos em que a necessidade exigia escrever, cada um deles escrevendo o que é útil do que viu pela inspiração do Espírito Santo. Você não vê o evangelista Lucas mencionar que a razão pela qual ele escreveu seu evangelho foi que muitas pessoas escreveram histórias e relatos sobre Cristo, mas que suas histórias não eram satisfatórias para ele, como quando ele diz: "Quanto a mim, escrevo para você Ó Teófilo, o que tirei daqueles que viram com seus olhos e testemunharam"? [1]. Se cada um dos evangelistas trouxe algo que os outros não trouxeram, isso não é uma diferença, pois explicamos de acordo com os tipos de diferenças. Pelo contrário, nisso está aguçada sabedoria e uma das grandes graças de Deus, porque se as expressões, significados e linguagem dos evangelhos fossem os mesmos, então seria possível acusar os evangelistas de conluio ao escrevê-los e divulgá-los pelo mundo, como afirmam aqueles que se opõem a nós entre as seitas.

Yahya ibn Adi, editado por Paul Sbath (Século X).

Notas:

[1] Lucas 1. 3.