Dietrich Bonhoeffer (1759-1833), nascido em 1906 na cidade de Breslau, cresceu em uma família intelectual da elite alemã, cuja formação unia rigor acadêmico e forte senso moral. Seu pai, Karl Bonhoeffer, era psiquiatra de renome, e sua mãe, Paula, descendia de uma linhagem de teólogos protestantes. Embora a religiosidade familiar fosse discreta e pouco litúrgica, a influência cristã se consolidou nos anos de formação do jovem Dietrich, sobretudo pela ação direta de sua mãe e pela convivência com o sofrimento gerado pela morte de seu irmão mais velho na Primeira Guerra Mundial. Esse contato precoce com o luto e com a fragilidade da vida humana deu início a um percurso de aprofundamento teológico que o conduziria a uma reflexão singular sobre a presença de Cristo no mundo.
Desde cedo revelou vocação acadêmica, formando-se em teologia com distinção em Berlim e iniciando sua carreira universitária com apenas 24 anos, após uma habilitação brilhante. Entre 1928 e 1930, Bonhoeffer desenvolveu suas primeiras experiências pastorais, atuando como assistente e posteriormente como vicar em Barcelona, antes de passar um ano decisivo no Union Theological Seminary, em Nova York. Lá, apesar de sua crítica à teologia liberal americana, entrou em contato com a realidade social das comunidades afro-americanas e com o pensamento do movimento do Evangelho Social, experiências que reforçaram sua convicção de que o Evangelho requer uma prática concreta de justiça e solidariedade.
Ao regressar à Alemanha, lecionou teologia sistemática na Universidade de Berlim e assumiu responsabilidades pastorais e ecumênicas. Foi ordenado em 1931 e logo se destacou como crítico da crescente influência do nacional-socialismo no seio da Igreja Protestante Alemã. Ainda antes da consolidação do regime nazista, Bonhoeffer denunciava publicamente os perigos de um messianismo político que colocava o Führer no lugar de Cristo. Suas posições, frequentemente minoritárias entre os líderes eclesiásticos da época, o colocaram na linha de frente da resistência religiosa. Com o avanço do projeto de alinhamento da igreja ao Estado, Bonhoeffer passou a colaborar ativamente com a Confissão de Fé, núcleo de oposição ao domínio dos "Cristãos Alemães" e ao racismo institucionalizado.
A partir de 1935, assumiu a liderança do seminário da Igreja Confessante em Finkenwalde, onde desenvolveu não apenas um programa de formação teológica, mas também de vida comunitária marcada pela oração, disciplina e pela compreensão da igreja como corpo vivo de Cristo. Dessa experiência nasceu a obra Nachfolge (Discipulado), em que Bonhoeffer contrapõe a graça barata à graça custosa, afirmando que seguir a Cristo implica renúncia, obediência e disposição para o sofrimento. A teologia de Bonhoeffer articula, com clareza incomum, o chamado à fé com a responsabilidade concreta diante do próximo, especialmente dos oprimidos.
À medida que o regime nazista intensificava sua repressão, Bonhoeffer enfrentou restrições crescentes à sua atividade pública. Em 1940, recebeu proibição de pregar e publicar, o que o levou a atuar discretamente na formação de pastores e, em paralelo, aproximar-se de círculos da resistência política. Ainda que não envolvido diretamente nos planos de assassinato de Hitler, colocou-se à disposição como agente de ligação internacional, aproveitando seus contatos ecumênicos para sensibilizar líderes cristãos no exterior sobre a gravidade da situação alemã. Nesse contexto, elaborou sua obra inacabada Ética, onde reflete sobre o agir cristão em tempos de crise, a relação entre verdade e responsabilidade, e o papel da igreja em meio à escuridão moral.
Preso em abril de 1943, permaneceu encarcerado até sua execução, dois anos depois, no campo de concentração de Flossenbürg. Durante esse período, manteve correspondência com familiares e amigos, especialmente com Eberhard Bethge, cartas que se tornaram documentos centrais de sua teologia carcerária. Ali emergem, em tom mais contemplativo, as ideias de um cristianismo não religioso, de uma presença de Deus no sofrimento e da vivência cristã no mundo como realidade terrena, sem fuga para uma espiritualidade desencarnada. Sua última confissão de fé, registrada em um bilhete pouco antes da morte, afirmava que aquilo que para o mundo era o fim, para ele era também o começo.
Bonhoeffer não foi apenas um mártir da resistência alemã, mas uma das vozes mais incisivas do século XX a afirmar que a verdadeira igreja não pode calar diante da injustiça. Sua teologia parte de Cristo como centro absoluto, encarnado na realidade e no sofrimento do mundo, e exige da comunidade cristã um engajamento que transcende a retórica religiosa. A fidelidade ao evangelho, para ele, significava a disposição de carregar a cruz, com discernimento e coragem, mesmo sob risco da própria vida. Sua obra continua a interpelar teólogos, pastores e cristãos em geral, desafiando a aliança entre fé e conformismo, e propondo um discipulado que se mede pela disposição de servir a Deus na história concreta dos homens.