Charles Wesley (1707-1788), nascido em 18 de dezembro de 1707 em Epworth, Lincolnshire, Inglaterra, e falecido em 29 de março de 1788 em Londres, foi um clérigo anglicano e um dos principais líderes do movimento metodista, cuja contribuição mais duradoura foi a composição de mais de 6.500 hinos, incluindo "Hark! The Herald Angels Sing", "Love Divine, All Loves Excelling" e "O for a Thousand Tongues to Sing". Como irmão mais novo de John Wesley, fundador do metodismo, Charles desempenhou um papel central na Reforma Metodista, combinando pregação fervorosa com uma produção poética que expressava doutrinas cristãs como a justificação pela fé e a obra santificadora do Espírito Santo. Sua teologia arminiana, centrada no amor universal de Deus, e sua fidelidade à Igreja da Inglaterra moldaram sua vida e obra, deixando um legado que transcende denominações cristãs.
Filho do clérigo anglicano Samuel Wesley e de Susanna, Charles foi o décimo oitavo filho de uma família marcada pela piedade e erudição. Educado na Westminster School a partir de 1716, onde se destacou como King's Scholar e líder estudantil, ingressou no Christ Church, Oxford, em 1726. Lá, em 1727, fundou o "Clube Santo", um grupo de oração e estudo bíblico que enfatizava a santidade e a disciplina, ao qual John e George Whitefield mais tarde se uniram. Ridicularizados como "metodistas" por sua abordagem metódica, os membros do grupo moldaram o ethos do movimento. Charles concluiu seu mestrado em línguas clássicas e literatura em 1732 e foi ordenado sacerdote anglicano em 1735, ano em que seu pai faleceu. Sua formação humanista e compromisso com a Escritura fundamentaram sua futura produção hinológica, que combinava riqueza teológica com alusões literárias.
Em 1735, Charles acompanhou John à colônia da Geórgia, América, a convite do governador James Oglethorpe. Nomeado Secretário de Assuntos Indígenas e capelão em Fort Frederica, enfrentou resistência dos colonos e, desiludido, retornou à Inglaterra em 1736, nunca mais voltando à Geórgia. Sua experiência missionária, embora frustrante, preparou-o para a renovação espiritual que marcou sua vida. Em 21 de maio de 1738, Charles experimentou uma conversão evangélica, seguida por John dias depois, em Aldersgate. Esse evento, descrito em seu hino "O for a Thousand Tongues to Sing", intensificou sua convicção de pregar o Evangelho às massas. Rejeitado em paróquias, como em St. Mary's, Islington, por sua pregação evangélica, Charles adotou a pregação ao ar livre, influenciado por Whitefield, enfrentando oposição de clérigos anglicanos e violência de multidões em cidades como Wednesbury e Devizes.
A partir de 1740, Charles e John lideraram a Revival Metodista, evangelizando a Grã-Bretanha e a Irlanda. Charles fundou a primeira sociedade metodista em Newcastle upon Tyne, mas, após 1756, limitou suas viagens, concentrando-se em Bristol e Londres. Sua oposição a uma separação da Igreja da Inglaterra, expressa em um poema crítico às ordenações americanas de John na década de 1780, refletia sua visão de que o metodismo deveria renovar, não dividir, a igreja estabelecida. Em 1749, casou-se com Sarah Gwynne, filha de um magistrado galês convertido por Howell Harris, que o acompanhou em viagens até 1753. O casal teve oito filhos, dos quais apenas três — Charles Jr., Sarah e Samuel — sobreviveram à infância. Instalados em Bristol e, a partir de 1771, em Londres, na Great Chesterfield Street, Marylebone, criaram uma família musical: Charles Jr. serviu como organista da família real, e Samuel, conhecido como o "Mozart inglês", tornou-se um compositor renomado.
A produção hinológica de Charles, publicada em coleções como "Hinos sobre o Amor Eterno de Deus" (1741) e "Hinos sobre a Ceia do Senhor" (1745), é marcada por uma teologia robusta que celebra a graça divina e a santificação. Seus hinos, como "And Can It Be" e "Christ the Lord Is Risen Today", integram alusões bíblicas e formas métricas variadas, influenciando o culto cristão global. Ele também parafraseou os Salmos, introduzindo leituras cristológicas que geraram controvérsias, até mesmo com seu irmão Samuel. Além dos hinos, Charles escreveu epístolas, elegias e versos satíricos, compilados postumamente em "Obras Poéticas de John e Charles Wesley". Sua conversão de 1738 intensificou sua ênfase no Espírito Santo, expressa em hinos que destacam a depravação humana, a habitação divina e a responsabilidade pessoal perante Deus.
Charles faleceu aos 80 anos, reafirmando sua lealdade à Igreja da Inglaterra e pedindo ser sepultado em seu cemitério em Marylebone. Seu funeral, conduzido por seis clérigos anglicanos, refletiu sua identidade eclesiástica. Um memorial em Marylebone High Street marca seu túmulo, e seu filho Samuel serviu como organista na igreja. O impacto de Charles é celebrado em calendários litúrgicos, como o da Igreja Episcopal (3 de março) e da Ordem Metodista de São Lucas (29 de março). Sua hinodia, adotada por denominações protestantes e católicas, foi reconhecida pelo Gospel Music Association em 1995. Na Geórgia, o centro Epworth by the Sea honra sua passagem por St. Simon’s Island. Apesar de historiadores metodistas do século XIX terem minimizado sua oposição à separação anglicana, Charles permanece uma figura seminal, cuja poesia e pregação exaltam a redenção em Cristo, unindo fervor espiritual e precisão doutrinária.