Michael Faraday (1791–1867) nasceu em 1791, em Newington Butts, uma área modesta de Londres, no seio de uma família de poucas posses e de fé cristã convicta, pertencente à pequena e austera seita dos sandemanianos, dissidente da Igreja da Escócia. Sua infância foi marcada por privações econômicas e por uma educação formal bastante limitada, o que não impediu que desenvolvesse, desde jovem, uma intensa curiosidade intelectual. Aos quatorze anos, iniciou um aprendizado como encadernador, e foi nesse ambiente de livros e silêncio que descobriu, por si mesmo, o mundo das ciências naturais. A leitura de obras introdutórias de química e física, especialmente aquelas voltadas ao público geral, alimentou nele não apenas o gosto pelo saber experimental, mas também a convicção de que a compreensão do mundo criado era uma forma de honrar o Criador.
Ainda como aprendiz, Faraday começou a frequentar palestras e círculos filosóficos populares, onde teve seu primeiro contato direto com experimentos científicos. A oportunidade decisiva veio em 1812, quando, por meio da generosidade de um conhecido, pôde assistir às conferências de Humphry Davy, então uma das maiores figuras da ciência britânica. Impressionado, Faraday registrou cuidadosamente os conteúdos das palestras e enviou a Davy um caderno com suas anotações, acompanhadas de um pedido modesto por uma oportunidade de trabalho. Pouco depois, foi aceito como assistente no laboratório da Royal Institution, iniciando assim sua trajetória como cientista.
Embora não possuísse formação matemática avançada, Faraday tornou-se um dos maiores experimentadores da história. Seu gênio residia na capacidade de observar com precisão e formular conceitos físicos a partir da manipulação de materiais e da cuidadosa análise de resultados. Em seus primeiros anos, contribuiu com descobertas relevantes na química, como a identificação do benzeno, a liquefação de gases, a melhoria de ligas metálicas e o desenvolvimento de novas formas de vidro óptico. Introduziu também uma terminologia que se tornaria padrão na eletroquímica, incluindo os termos anodo, cátodo, eletrodo e íon.
Contudo, sua contribuição mais profunda dar-se-ia no campo do eletromagnetismo. Em 1821, desenvolveu a primeira versão de um motor elétrico rudimentar, estabelecendo os princípios da conversão da energia elétrica em movimento. Uma década depois, em 1831, realizou os experimentos que lhe permitiram formular o princípio da indução eletromagnética, base de toda a geração moderna de eletricidade. Demonstrou que um campo magnético variável é capaz de gerar corrente elétrica, e que essa relação era expressa por linhas de força cuja concepção antecipava a teoria de campos posteriormente formalizada por James Clerk Maxwell. Com esses fundamentos, Faraday construiu os primeiros protótipos de geradores e transformadores elétricos.
A despeito de sua estatura científica, manteve-se humilde e fiel a seus princípios religiosos. Recusou condecorações e títulos nobiliárquicos, preferindo ser tratado simplesmente como “Sr. Faraday”. Serviu como diácono e ancião em sua comunidade sandemaniana e, ao longo da vida, evitou envolvimento com empreendimentos que julgava contrários aos princípios da fé cristã, como a pesquisa em armamentos. Sua religiosidade não era mística nem sentimental, mas marcada pela convicção de que a ordem natural era reflexo da sabedoria divina e de que a vocação científica deveria ser exercida com integridade, modéstia e espírito de serviço.
Faraday também se dedicou à educação e à divulgação científica. Conduziu por mais de trinta anos as Christmas Lectures na Royal Institution, dirigidas a jovens e ao público leigo, combinando rigor experimental com simplicidade didática. Nessas ocasiões, buscava não apenas ensinar, mas despertar encantamento pela criação e pela ordem inteligível do universo. Rejeitava a busca por notoriedade e nunca aceitou publicar suas conferências em forma escrita, pois acreditava que o verdadeiro conhecimento nascia da experiência pessoal, da observação direta e da experimentação prática.
Além de suas descobertas, Faraday prestou importantes serviços públicos. Investigou acidentes em minas, contribuiu para o desenvolvimento de sistemas de iluminação em faróis, e alertou as autoridades sobre os perigos da poluição industrial, notadamente no episódio conhecido como "The Great Stink" do rio Tâmisa. Sua atuação era motivada não por ambições políticas ou ideológicas, mas por um senso de responsabilidade cristã com o bem comum.
Faleceu em 1867, aos 75 anos, na casa que o governo britânico lhe concedera em reconhecimento por seus serviços. Recusou ser sepultado na Abadia de Westminster, preferindo um túmulo modesto no cemitério de Highgate. Seu nome, contudo, permaneceu entre os maiores da ciência moderna. Sua fé silenciosa e seu rigor experimental formam um testemunho raro de como a devoção a Deus e à verdade podem conviver com excelência intelectual e contribuição técnica duradoura. Faraday não apenas revelou leis naturais; indicou, com sua vida, que a investigação da natureza pode ser expressão legítima de louvor ao Criador.