Leonhard Euler (1707-1783), nascido em 1707 em Basileia, Suíça, foi um dos mais prolíficos e influentes matemáticos da história, cuja obra abrangeu campos tão diversos quanto a matemática pura, a física teórica, a astronomia, a engenharia e até mesmo a música. Filho de um pastor reformado, foi criado em um ambiente onde a fé cristã e a formação intelectual eram entrelaçadas. Ainda jovem, demonstrou notável aptidão para os estudos, especialmente para os números, o que levou seu pai a encaminhá-lo ao contato com a família Bernoulli, particularmente Johann Bernoulli, que viria a ser seu mentor e orientador. Inicialmente matriculado na Universidade de Basileia para estudar teologia, conforme o desejo paterno, Euler rapidamente voltou-se à matemática, convencido pelo próprio Bernoulli de que seus talentos deveriam servir à ciência, sem abandonar a fé que herdara da tradição reformada.
A formação cristã de Euler jamais foi mero adorno cultural. Em sua concepção, o universo, com suas leis racionais e estrutura matemática, refletia a ordem e a sabedoria do Criador. Para ele, a matemática não era apenas uma ciência exata, mas um instrumento de contemplação das obras divinas. Esta convicção o acompanharia ao longo de sua vida e se manifesta com clareza tanto em seus escritos científicos quanto nos textos dedicados à defesa da revelação bíblica e à apologética cristã. Euler considerava as leis da física e da matemática expressões da racionalidade divina, acessíveis ao intelecto humano não para exaltação própria, mas para a glória de Deus.
Seu trabalho na Academia de Ciências de São Petersburgo e, posteriormente, em Berlim, fez dele uma figura central no cenário científico europeu do século XVIII. Euler escreveu sobre quase todos os ramos da matemática então existentes: da geometria à teoria dos números, da análise infinitesimal à teoria das equações diferenciais, além de contribuições fundamentais à mecânica e à hidrodinâmica. Introduziu terminologias e notações que permanecem em uso até hoje, como o símbolo f(x) para funções, o uso da letra e para a base do logaritmo natural e o símbolo i para a unidade imaginária. Sua notação matemática tornou-se padrão justamente por sua clareza e eficiência.
Apesar de sua atividade científica intensa, Euler nunca separou ciência e fé. Rejeitou de modo explícito correntes filosóficas que considerava incompatíveis com a ortodoxia cristã, como o racionalismo absoluto e o deísmo. Escreveu obras de cunho teológico e apologético, entre elas um tratado em defesa da inspiração divina das Escrituras. Em suas célebres cartas dirigidas a uma princesa alemã, Euler expõe com simplicidade notável princípios fundamentais da física, da filosofia e da fé cristã, sempre buscando mostrar que razão e revelação não são adversárias, mas aliadas na busca pela verdade.
Mesmo com o agravamento de sua saúde — em especial a perda progressiva da visão —, Euler permaneceu intelectualmente ativo. Trabalhando com auxílio de filhos e secretários, ditou tratados inteiros de memória, um feito impressionante que atesta não apenas seu intelecto extraordinário, mas também uma disciplina pessoal moldada pela prática do estudo metódico e da vida devocional. Aproximadamente metade de sua imensa produção científica, estimada em cerca de 30 mil páginas, foi concluída após sua cegueira total.
Euler via na criação uma estrutura que exigia ser compreendida com reverência. O princípio da parcimônia, tão caro à sua concepção do mundo natural, remetia diretamente à sabedoria divina, que, segundo ele, teria disposto todas as coisas com máxima eficiência e beleza. Essa leitura teleológica da natureza aparece com frequência em seus escritos científicos, não como uma imposição dogmática, mas como uma inferência racional da ordem observada no cosmos. A ideia de que “nada acontece sem um propósito” unificava, para ele, o discurso científico e o testemunho da fé.
Faleceu em São Petersburgo, em 1783, deixando um legado que atravessou os séculos. Matemáticos como Lagrange, Laplace, Gauss e muitos outros reconheceram sua influência decisiva. Euler foi celebrado não apenas como um gênio matemático, mas como um homem de profunda piedade cristã, cuja vida e obra testemunham uma síntese rara entre devoção e razão. Em suas palavras e ações, ressoava a convicção de que o verdadeiro saber, longe de afastar o homem de Deus, conduz à contemplação de Sua majestade e à humilde submissão à Sua vontade.
Elogio de Euler (Condorcet)