Tomás Cranmer (1489-1556), nascido por volta de 1096 em Lumellogno, perto de Novara, no noroeste da Itália, e falecido em 21 ou 22 de agosto de 1160, em Paris, foi um teólogo escolástico, bispo e autor cuja obra seminal, "Quatro Livros das Sentenças", transformou o estudo da teologia cristã na Europa medieval. Conhecido como Magister Sententiarum, Lombardo sintetizou a tradição patrística e bíblica em um sistema teológico coerente, que se tornou o principal texto de referência nas universidades medievais por quatro séculos. Sua abordagem, enraizada na fé cristã e no rigor intelectual, conciliou autoridades divergentes, oferecendo uma estrutura que moldou pensadores como Tomás de Aquino, Guilherme de Ockham e até mesmo reformadores como Martinho Lutero e João Calvino. Sua vida, marcada pela ascensão de origens humildes à proeminência eclesiástica, reflete um compromisso inabalável com a verdade divina e a edificação da Igreja.
Oriundo de uma família pobre, Lombardo iniciou sua educação nas escolas catedrais de Novara e Lucca, provavelmente prosseguindo estudos na Universidade de Bolonha. O apoio do bispo Odo de Lucca foi crucial, permitindo-lhe viajar para a França com uma recomendação de Bernardo de Claraval. Chegando a Reims por volta de 1134, estudou sob mestres como Alberico e Lutolfo de Novara, antes de se estabelecer em Paris, onde foi acolhido pelos cônegos de São Vítor. Na capital francesa, Lombardo entrou em contato com teólogos eminentes como Pedro Abelardo e Hugo de São Vítor, cuja influência o preparou para sua carreira acadêmica. Por volta de 1142, ele já era reconhecido como professor na escola catedral de Notre-Dame, onde, cerca de 1145, assumiu o título de magister. Sua reputação como teólogo, conquistada sem laços familiares ou patronos políticos, deveu-se exclusivamente ao seu mérito intelectual, uma raridade em um ambiente dominado por nobres e aliados da dinastia capetiana.
A ascensão de Lombardo na Igreja foi igualmente notável. Nomeado subdiácono em 1147, esteve presente no Concílio de Reims em 1148, onde assinou a condenação das ideias de Gilberto de la Porrée. Após 1150, tornou-se diácono e, possivelmente em 1152, arcediago, sendo ordenado sacerdote antes de 1156. Em 28 de julho de 1159, na festa de São Pedro e São Paulo, foi consagrado bispo de Paris, um cargo que ocupou brevemente até sua morte em 1160. Embora acusado por Walter de São Vítor de obter o episcopado por simonia, a narrativa mais aceita sugere que Filip, irmão do rei Luís VII e arcediago de Notre-Dame, cedeu a eleição em favor de seu mestre. Como bispo, Lombardo deixou poucos registros administrativos, mas seu impacto teológico perdurou, sucedido por Maurice de Sully, responsável pela construção da Catedral de Notre-Dame.
A obra-prima de Lombardo, os "Quatro Livros das Sentenças", publicada por volta de 1150, é uma compilação sistemática de textos bíblicos, patrísticos e medievais, organizada em quatro partes: a Trindade (Livro I), a criação (Livro II), a encarnação e redenção (Livro III) e os sacramentos (Livro IV). Diferentemente de tratados dialéticos, a obra reúne autoridades como Agostinho e Anselmo de Laon, reconciliando contradições aparentes e oferecendo uma visão abrangente da teologia cristã. Sua influência foi incomparável, superada apenas pela Bíblia em comentários até o século XVI, quando a "Suma Teológica" de Aquino começou a rivalizá-la. Até reformadores como Lutero, que glossou as "Sentenças", e Calvino, que as citou extensivamente, foram moldados por sua estrutura. Além disso, Lombardo escreveu comentários sobre os Salmos e as epístolas paulinas, demonstrando sua habilidade exegética, mas nenhum rivalizou com a relevância de sua obra principal.
Entre suas doutrinas, destaca-se a controversa identificação da caridade com o Espírito Santo no Livro I, distinção 17, sugerindo que o amor do cristão por Deus e pelo próximo é, em essência, a própria divindade. Embora inspirada em reflexões de Agostinho, essa ideia foi pouco adotada por teólogos posteriores e possivelmente rejeitada implicitamente pelo Concílio de Trento, que definiu a graça santificante como uma qualidade criada, não como a pessoa do Espírito Santo. Outra contribuição significativa foi sua visão do matrimônio, enfatizando o consentimento mútuo como suficiente para sua indissolubilidade, independentemente da consumação, uma perspectiva que divergia de Graciano e foi endossada pelo Papa Alexandre III, influenciando a doutrina eclesiástica. Essas posições refletem o esforço de Lombardo em harmonizar razão e fé, mantendo a ortodoxia enquanto avançava o discurso teológico.
O legado de Lombardo transcende sua breve vida. Sua tumba na igreja de São Marcel, destruída durante a Revolução Francesa, preservou-se apenas em transcrições de seu epitáfio. A "Sentenças" permaneceu um pilar da formação teológica, estruturando o pensamento escolástico e fornecendo um modelo para debates doutrinários. Sua abordagem, que combinava reverência pelas Escrituras e pelos Pais da Igreja com um método sistemático, exemplifica a busca medieval pela síntese entre revelação divina e investigação intelectual, deixando uma marca indelével na tradição cristã ocidental.