Jacó Armínio (1560-1609), originalmente chamado Jakob Hermanszoon, nasceu por volta de 1560 em Oudewater, nos Países Baixos, e viveu em uma época marcada por intensas transformações religiosas. Órfão desde muito jovem, perdeu o pai ainda criança e, posteriormente, também a mãe, vítima da violência das guerras religiosas em sua cidade natal. Sem os pais, foi acolhido por Theodorus Aemilius, um sacerdote inclinado ao protestantismo, que o introduziu ao mundo dos estudos. Esse percurso o conduziu, mais tarde, ao convívio com o matemático Rudolph Snellius, que reconheceu seu potencial e o ajudou a ingressar na Universidade de Leiden.
Na universidade, Armínio iniciou sua formação em artes liberais, com especial interesse pela teologia. Ali, recebeu influências diversas dentro do campo reformado, convivendo com mestres como Lambertus Danaeus e Johann Kolmann, que introduziram ideias críticas à rigidez do calvinismo mais estrito. Essas experiências moldaram sua abordagem teológica e plantaram as sementes de uma reflexão independente e marcada pelo senso de responsabilidade pastoral. Sua capacidade intelectual não passou despercebida, e o sucesso acadêmico lhe rendeu apoio financeiro da guilda de mercadores de Amsterdã para prosseguir os estudos no exterior.
Em 1582, Armínio seguiu para Genebra, onde foi aluno de Theodore Beza, sucessor de Calvino. Apesar de pressões e dificuldades, especialmente por utilizar métodos filosóficos ramistas, seu desempenho acadêmico foi notável. Mesmo quando recusou, por humildade, o doutorado oferecido em Basileia, foi reconhecido por sua erudição e piedade. Professores tanto de Basileia quanto de Genebra atestaram seu compromisso com a verdade e sua disposição para o ensino e o serviço à Igreja.
Após concluir os estudos, Armínio foi chamado ao ministério pastoral em Amsterdã, sendo ordenado em 1588. Sua atuação foi marcada pela dedicação às pregações e pelo cuidado com os necessitados, especialmente durante a peste de 1602, quando arriscou a própria saúde em visitas a lares infectados. Nesse período, casou-se com Lijsbet Reael, filha de um influente comerciante, o que o aproximou ainda mais dos círculos sociais que compunham a elite reformada da cidade.
Contudo, sua missão pastoral logo o colocaria em meio a uma crescente controvérsia. Encaminhado para refutar as posições de Dirck Coornhert sobre a predestinação, Armínio mergulhou no estudo das Escrituras e dos tratados de seus predecessores. Com o tempo, começou a desenvolver uma visão mais nuançada sobre o tema, distanciando-se tanto do supralapsarianismo de Beza quanto das respostas intermediárias de outros teólogos reformados. Suas pregações sobre a Epístola aos Romanos, em especial os capítulos 7 e 9, tornaram-se objeto de questionamento por parte de colegas e autoridades eclesiásticas.
Mesmo acusado injustamente de simpatizar com o pelagianismo, Armínio sustentava que sua teologia permanecia firmemente enraizada na confissão reformada, ainda que buscasse esclarecê-la e reformulá-la à luz da Escritura e da razão iluminada pela fé. Foi nesse contexto que, em 1603, aceitou o chamado para ensinar teologia na Universidade de Leiden, onde passou a enfrentar o teólogo Franciscus Gomarus. A divergência entre ambos, especialmente no que diz respeito à doutrina da predestinação, tornaria-se o centro de uma divisão mais ampla dentro do calvinismo holandês.
O confronto entre Armínio e Gomarus assumiu proporções públicas e institucionais. Enquanto Gomarus defendia uma compreensão rígida da eleição divina, Armínio argumentava por uma graça oferecida a todos, capaz de conduzir o ser humano à fé, desde que este não a resistisse. Essa ênfase na cooperação entre graça e vontade humana despertou reações acaloradas, sendo interpretada por seus opositores como ameaça à ortodoxia. Ainda assim, Armínio reiterava que sua teologia buscava promover a edificação da Igreja e a unidade dos fiéis.
Mesmo enfraquecido pela enfermidade, Armínio defendeu suas convicções com clareza diante das autoridades civis e religiosas, pleiteando o direito de expor suas doutrinas em espírito de caridade cristã. Faleceu em outubro de 1609, em Leiden, deixando discípulos que levariam adiante sua obra. Pouco após sua morte, seus seguidores formalizaram seus ensinamentos nos Cinco Artigos da Remonstrância, que foram posteriormente condenados pelo Sínodo de Dort, marcando uma ruptura definitiva com o calvinismo dominante.
A teologia de Armínio propunha uma compreensão da graça como suficiente e universal, resistindo à ideia de uma predestinação arbitrária. Ensinava que a fé, embora precedida e sustentada pela graça divina, não era irresistível nem determinada sem a participação da vontade humana. Seu compromisso era com uma teologia que honrasse tanto a soberania de Deus quanto a responsabilidade do homem, sustentando que ambas eram realidades afirmadas pelas Escrituras.
O legado de Armínio ecoou além de sua pátria, influenciando significativamente o metodismo e outras tradições cristãs comprometidas com uma visão soteriológica que preservasse a integridade da fé e da liberdade humanas. Sua vida, marcada pela fidelidade pastoral, integridade acadêmica e convicção teológica, permanece como testemunho de um cristão que buscou, com seriedade e temor, servir à verdade do Evangelho.