Catarina de Siena (1347-1380), nascida em 25 de março de 1347 em Siena, Toscana, e falecida em 29 de abril de 1380 em Roma, aos 33 anos, foi uma mística e terciária dominicana cuja influência marcou profundamente a Igreja Católica no século XIV. Reconhecida como santa, doutora da Igreja e patrona da Itália e da Europa, ela uniu uma espiritualidade intensa, centrada na união com Cristo, a uma ação prática que contribuiu para o retorno da sede papal de Avignon a Roma. Seus escritos, especialmente o "Diálogo", revelam uma teologia sofisticada, ditada em êxtases místicas, que combina reflexão sobre a providência divina com um chamado à reforma eclesiástica. Como cristã, Catarina via a Igreja como o corpo místico de Cristo, e sua vida foi um testemunho de dedicação à sua unidade e santidade, expressa tanto em penitências rigorosas quanto em intervenções políticas notáveis para uma mulher de sua época.
Filha de Giacomo Benincasa, um tintureiro, e Lapa, Catarina era a vigésima terceira de vinte e cinco filhos, nascida junto a uma irmã gêmea, Joana, que morreu logo após o nascimento. Cresceu em uma família piedosa, próxima dos dominicanos, em um contexto de instabilidade política e social na Itália medieval, agravado pela Peste Negra de 1347 e pelo exílio papal em Avignon. Desde os seis anos, Catarina manifestou uma profunda inclinação espiritual, relatando uma visão de Cristo como pontífice, que a abençoou acima da igreja de São Domingos. Educada em histórias de santos e eremitas, ela buscava imitar sua ascese, praticando mortificações e solitude. Aos sete anos, fez um voto secreto de castidade, decidida a consagrar-se a Deus, apesar da oposição inicial de seus pais, que planejavam seu casamento.
Aos 13 anos, Catarina resistiu às tentativas de sua mãe de torná-la vaidosa, mas cedeu temporariamente, influenciada por sua irmã Bonaventura. A morte de Bonaventura em 1362, durante o parto, foi interpretada por Catarina como um castigo pela vaidade, reforçando sua rejeição à vida mundana. Diante da pressão familiar para casar-se, ela cortou os cabelos, um gesto de desafio, e enfrentou punições, sendo relegada a tarefas domésticas. Nesse período, desenvolveu o conceito de "célula interior", transformando sua alma em um espaço de oração contínua. Um sonho, no qual São Domingos lhe ofereceu o hábito das terciárias dominicanas, confirmou sua vocação. Sua determinação levou seu pai a permitir sua entrada na Ordem da Penitência de São Domingos, onde ingressou entre 1364 e 1365, após superar a resistência das irmãs, que a consideravam jovem e exaltada.
Como terciária, Catarina intensificou sua ascese, vivendo em reclusão, com jejuns extremos que limitavam sua alimentação a pão e ervas, prática que alguns historiadores associam à "anorexia santa". Suas visões místicas, relatadas a seu confessor, incluíam diálogos com Cristo, que a instruía diretamente. Em 1368, durante o carnaval, experimentou o "casamento místico", no qual Cristo lhe ofereceu um anel invisível, simbolizando sua união espiritual. Em 1371, recebeu estigmas invisíveis, conforme descreveu a Raimundo de Capua, seu diretor espiritual, após pedir que não fossem visíveis. Essas experiências, aliadas a sua crescente reputação, atraíram discípulos, conhecidos como "caterinati", e levaram-na a uma vida pública, cuidando de enfermos e pobres, além de realizar supostos milagres, como curas e conversões.
A partir de 1375, Catarina assumiu um papel político incomum para uma mulher de sua condição, defendendo a autoridade papal e a unidade da Igreja. Em 1376, como emissária extraoficial de Florença, viajou a Avignon para negociar a paz com o papa Gregório XI, em meio à Guerra dos Oito Santos. Sua influência foi decisiva para convencer Gregório a retornar a Roma em 1377, encerrando o exílio papal. Após a morte de Gregório e a eleição de Urbano VI, Catarina permaneceu em Roma, escrevendo cartas a príncipes, cardeais e cidades italianas, exortando à obediência ao papa durante o Grande Cisma do Ocidente, iniciado em 1378 com a eleição do antipapa Clemente VII. Ela comparava a Igreja a um "navio" ameaçado por divisões, chamando os dissidentes de "membros podres" que se separavam do "sangue de Cristo".
Seus escritos, ditados a secretários devido à sua incapacidade de escrever, incluem cerca de 380 cartas, as "Olações" e o "Diálogo", este último composto durante êxtases em Siena, entre 1377 e 1378. O "Diálogo" apresenta uma teologia estruturada, dividida em tratados sobre a discrição, a oração, a providência e a obediência, enfatizando a liberdade humana e a misericórdia divina. Catarina desenvolveu a "doutrina do ponte", na qual Cristo é o mediador entre o homem e Deus, representado por um ponte com três degraus — os pés, o coração e a boca de Cristo —, que simbolizam estágios de crescimento espiritual. Sua espiritualidade, centrada na Paixão de Cristo e no "sangue do Cordeiro", via o sacrifício da Cruz como a redenção do pecado, acessível pela Eucaristia e pela caridade.
Catarina morreu em Roma, exausta por jejuns prolongados e penitências, após uma paralisia parcial em fevereiro de 1380. Suas últimas palavras, "Pai, em tuas mãos entrego minha alma e meu espírito", ecoaram sua entrega total. Foi sepultada na basílica de Santa Maria sopra Minerva, onde Urbano VI celebrou suas exéquias. Canonizada em 1461 por Pio II, tornou-se patrona de Roma em 1866, da Itália em 1939, ao lado de São Francisco, e da Europa em 1999. Em 1970, Paulo VI a declarou doutora da Igreja, a primeira mulher a receber esse título, junto a Teresa de Ávila. Como patrona dos jornalistas e comunicadores, sua vasta correspondência reflete sua habilidade em articular a fé. Suas relíquias, incluindo a cabeça em Siena e o pé em Veneza, são veneradas, e sua influência perdura em figuras como Rosa de Lima. Catarina permanece um símbolo de coragem espiritual e renovação eclesial, unindo contemplação mística e ação apostólica em prol da glória de Deus.