John William Fletcher (1729-1785). Jean Guillaume de la Fléchère, mais conhecido como John William Fletcher, nasceu em 1729 na cidade de Nyon, Suíça, em uma família de origem huguenote. Seu pai, Jacques de la Fléchère, era oficial do exército, e sua mãe, Suzanne Elisabeth, pertencia à linhagem Crinsoz de Colombier. Educado em Genebra, Fletcher inicialmente nutriu aspirações militares, chegando a se alistar para servir em Portugal. Contudo, um acidente o impediu de embarcar com seu regimento rumo ao Brasil, levando-o eventualmente a mudar-se para a Inglaterra em 1750. A escolha de migrar para terras britânicas não foi casual; Fletcher alimentava um desejo secreto de conhecer aquele país e havia dedicado tempo ao estudo da língua inglesa antes de sua chegada. Durante os primeiros anos em solo inglês, ele trabalhou como tutor para a família Hill, uma proeminente família de Shropshire, alternando entre suas residências urbanas e rurais. Foi nesse período que ele travou contato com o movimento metodista liderado por John Wesley, um encontro que moldaria profundamente sua trajetória espiritual e ministerial.
A partir de 1757, Fletcher seguiu os passos de sua vocação religiosa, sendo ordenado diácono e posteriormente sacerdote na Igreja da Inglaterra. Ele aceitou o cargo de vigário em Madeley, uma paróquia industrializada de Shropshire, onde permaneceria ativo por quase duas décadas e meia. Este papel pastoral permitiu-lhe combinar seu compromisso com a Igreja Anglicana e sua colaboração próxima com o movimento metodista. Embora mantivesse sua lealdade institucional à igreja estabelecida, Fletcher tornou-se uma figura central no desenvolvimento teológico do metodismo, sendo reconhecido como um dos primeiros grandes teólogos dessa tradição. Sua abordagem eclesiástica enfatizava a integração das práticas metodistas dentro do sistema paroquial, promovendo uma revitalização espiritual que beneficiava tanto os membros da igreja local quanto os grupos de renovação evangélica. Ao longo de sua vida, ele expressou um profundo senso de chamado divino para servir às comunidades menos favorecidas, recusando ofertas de postos mais prestigiados e lucrativos em favor de uma missão humilde e dedicada.
A teologia de Fletcher refletia uma síntese cuidadosa entre as tradições arminianas e anglicanas, posicionando-se contra os rigores doutrinários do calvinismo. Ele defendeu vigorosamente conceitos como a expiação ilimitada, a liberdade humana e a eleição condicional, argumentos que culminaram em sua obra mais famosa, Checks to Antinomianism . Esses escritos buscavam responder aos críticos do metodismo, particularmente aqueles que acusavam John Wesley de promover uma teologia moralista ou obras piedosas como meio de salvação. Fletcher demonstrou, com clareza e diplomacia, que tais acusações eram equivocadas, reafirmando a centralidade da graça redentora e da responsabilidade ética do cristão. Além disso, ele articulou uma visão histórica da soberania divina, dividida em três dispensações distintas, enfatizando o amor insondável de Deus como motor essencial da criação e da redenção. Sua perspectiva equilibrava o livre-arbítrio humano com a assistência da graça divina, oferecendo uma resposta teológica que influenciou profundamente tanto o metodismo quanto movimentos posteriores como o pentecostalismo.
Fletcher também foi marcado por uma vida de singular devoção pessoal e generosidade. Sua reputação de santidade e modéstia era amplamente reconhecida por seus contemporâneos, incluindo figuras como Voltaire, que o citou como exemplo de virtude comparável à de Cristo. Em 1781, após retornar de um período de convalescença no continente europeu, Fletcher contraiu matrimônio com Mary Bosanquet, uma mulher igualmente dedicada ao ministério evangélico e uma das primeiras pregadoras autorizadas por Wesley. O casamento foi breve, durando apenas cerca de quatro anos até a morte prematura de Fletcher em 1785. Após sua partida, Mary continuou a residir na paróquia de Madeley, dedicando-se à preservação do legado espiritual de seu marido. Ela viveu por mais três décadas, falecendo em 1815 e sendo enterrada ao lado dele.
Além de suas contribuições pastorais e teológicas, Fletcher deixou um vasto conjunto de escritos que abrangiam desde tratados doutrinários até poesias devocionais. Entre suas obras mais notáveis estão Scripture Scales e Portrait of St Paul , ambas refletindo seu estilo epistolar característico e sua habilidade em construir argumentos claros e persuasivos. Sua prosa revela um intelecto aguçado e uma sensibilidade espiritual que transcendem questões meramente acadêmicas, dirigindo-se ao coração e à prática cotidiana da fé cristã. Temas como a santificação total e a perfeição no amor ocuparam lugar central em sua reflexão teológica, influenciando gerações subsequentes de pensadores holiness e pentecostais. Apesar de sua morte precoce, Fletcher foi considerado por John Wesley como a pessoa mais santa que ele já conhecera, uma afirmação que ecoa o impacto duradouro de sua vida e obra.
O legado de Fletcher transcendeu as fronteiras da Inglaterra, alcançando admiradores em diferentes partes do mundo. Embora nunca tenha assumido formalmente a liderança do movimento metodista, como originalmente planejado por Wesley, sua influência foi decisiva para a sistematização da teologia wesleyana. Ele combinou uma erudição sólida com uma piedade genuína, exemplificando o equilíbrio ideal entre mente e coração no exercício do ministério cristão. Seu testemunho de vida, marcado pela simplicidade, caridade e compromisso com a verdade bíblica, continua a inspirar estudiosos e crentes interessados na história do cristianismo evangélico. Fletcher personifica a busca incansável por uma fé viva e transformadora, ancorada na graça divina e expressa em obras de amor e justiça.