Constantino (272–337) nasceu em Naísso, província romana da Mésia Superior, numa época de instabilidade política e militar. Filho de Flávio Constâncio, um oficial do exército romano, e de Helena, mulher de origem humilde, Constantino foi desde cedo introduzido nas complexas dinâmicas do poder imperial. Seu pai ascendeu entre os governantes da Tetrarquia e, em 306, após sua morte, o jovem Constantino foi aclamado imperador por suas tropas em Eboracum. Nos anos seguintes, ele se destacou em diversas campanhas militares e, ao final de sucessivas guerras civis, consolidou-se como único senhor do Império Romano.
O governo de Constantino foi marcado por amplas reformas administrativas, econômicas e militares. Instituiu a separação entre os poderes civis e militares, reformulou a estrutura monetária por meio da introdução do sólido — moeda de ouro que perduraria por séculos —, e reorganizou os exércitos em unidades móveis e fronteiriças. Essas reformas buscavam fortalecer a capacidade defensiva e garantir estabilidade interna após as convulsões do século anterior. A atenção à estrutura institucional não era, contudo, separada de seu interesse pela ordem espiritual da sociedade. Constantino via na religião um fator de unidade, e sua relação com o cristianismo desempenhou papel central em sua política.
Embora tenha sido formado num ambiente pagão e permanecesse catecúmeno durante grande parte de sua vida, Constantino gradualmente passou a favorecer a fé cristã. A partir de 312, após vencer a batalha da Ponte Mílvia, interpretou sua vitória como sinal da assistência divina do Deus cristão. Em 313, promulgou, juntamente com Licínio, o Édito de Milão, garantindo liberdade de culto e restaurando os bens confiscados aos cristãos. O gesto não apenas cessava as perseguições, mas iniciava um novo capítulo em que o cristianismo passaria de fé marginalizada a religião legitimada no seio do Estado.
A relação de Constantino com o cristianismo foi complexa e estratégica, mas não desprovida de convicções pessoais. Embora tenha mantido até o fim da vida alguns elementos do aparato religioso tradicional, como a imagem do Sol Invicto em moedas e monumentos, sua atuação foi decisiva na consolidação do cristianismo como força cultural no império. Ordenou a construção de basílicas importantes, como a do Santo Sepulcro em Jerusalém e a de São Pedro em Roma, e conferiu privilégios legais ao clero cristão. Sua mãe, Helena, venerada como santa, foi incentivada a peregrinar aos locais santos da Palestina, onde se dizia ter descoberto relíquias da cruz de Cristo.
Um dos momentos mais significativos de seu envolvimento religioso ocorreu em 325, quando convocou o Concílio de Niceia. Preocupado com a unidade doutrinária da Igreja e com os efeitos sociais das controvérsias teológicas, especialmente a disputa sobre a divindade de Cristo fomentada por Ário, Constantino buscou um consenso que resguardasse a paz interna do império. O resultado foi a formulação do Credo Niceno, que afirmava a consubstancialidade do Filho com o Pai, estabelecendo um marco para a ortodoxia cristã. Ainda que suas intervenções não se confundissem com uma teologia própria, o imperador assumiu papel de árbitro e protetor da fé, inaugurando uma nova fase na relação entre Igreja e Estado.
Além de sua ação eclesiástica, Constantino projetou sua visão de um império cristianizado ao fundar uma nova capital: Constantinopla. A antiga cidade de Bizâncio foi ampliada e reconfigurada como centro político, econômico e espiritual do império oriental. Dedicada em 330, tornou-se símbolo da nova ordem imperial, com igrejas, palácios e monumentos que refletiam uma cultura profundamente marcada pela fé cristã. Constantinopla perduraria como centro vital do império por mais de um milênio.
Nos últimos anos de sua vida, Constantino preparava-se para uma campanha contra os persas, diante de ameaças à população cristã do oriente. A morte, no entanto, interrompeu esses planos. Próximo do fim, foi finalmente batizado, segundo relatos, por Eusébio de Nicomédia, bispo de orientação ariana. Essa demora no batismo, prática comum no período, era vista como forma de purificação final. Constantino faleceu em 337 e foi sepultado na Igreja dos Santos Apóstolos, construída por ele próprio em Constantinopla.
O legado de Constantino permanece objeto de debate. Alguns o veem como político pragmático que instrumentalizou a religião; outros, como governante genuinamente tocado pela fé cristã. Seja como for, sua influência foi decisiva. Com ele, o cristianismo saiu da clandestinidade e começou a moldar profundamente a cultura, a legislação e a arte do mundo romano. Sua memória foi venerada na tradição oriental como “igual aos apóstolos”, expressão que reflete o reconhecimento de seu papel na história da Igreja. Mais do que um imperador convertido, Constantino representa a transição entre o mundo antigo e a cristandade medieval, tornando-se figura essencial na compreensão da articulação entre poder político e fé no Ocidente.