François Turrettini (1499-1562), Francesco Turrettini, nascido em 17 de outubro de 1623 em Genebra, Suíça, e falecido em 28 de setembro de 1687 na mesma cidade, foi um teólogo reformado de origem ítalo-genebrina cuja obra consolidou o escolasticismo protestante no século XVII. Reconhecido por sua defesa ardorosa da ortodoxia calvinista, expressa no Sínodo de Dort, Turretin opôs-se vigorosamente à teologia moderada da Academia de Saumur, particularmente ao amiraldismo de Moise Amyraut. Coautor do Consenso Helvético de 1675, ele defendeu a predestinação estrita e a inspiração verbal da Bíblia, articulando uma teologia sistemática em sua monumental "Institutio Theologiae Elencticae". Como cristão, Turretin via a Escritura como a autoridade suprema, guiando a Igreja à verdade divina, e sua vida reflete um compromisso com a preservação da fé reformada em um contexto de desafios doutrinários.
Descendente de uma família italiana que deixou Lucca em 1574, Turretin era filho de Bénédict Turrettini, um teólogo genebrino. Sua formação foi excepcionalmente abrangente, iniciando-se em Genebra (1640-1644), onde estudou teologia, e prosseguindo em Leiden, Utrecht, Paris (1645-1646), Saumur (1646-1648), Montauban e Nîmes. Em Paris, aprofundou-se em filosofia sob a tutela do católico Pierre Gassendi, equilibrando sua formação reformada com uma abertura ao pensamento filosófico. Retornando a Genebra, assumiu em 1648 o pastorado da igreja italiana, servindo até 1687, e, a partir de 1653, pastoreou também a congregação francesa enquanto ocupava a cátedra de teologia na Universidade de Genebra. Sua vida pessoal foi marcada pela paternidade de Jean-Alphonse Turrettini, que, ironicamente, questionaria aspectos da teologia rigorosa de seu pai, promovendo uma abordagem mais liberal.
A principal contribuição de Turretin, a "Institutio Theologiae Elencticae" (1679-1685), é um marco do escolasticismo reformado, estruturada em três partes e empregando o método escolástico para refutar controvérsias teológicas. Nela, ele defendeu a inspiração verbal da Bíblia, argumentando que cada palavra é divinamente inspirada, e articulou o infralapsarianismo, a visão de que o decreto divino de predestinação segue a permissão da Queda. Sua teologia federal, que enfatiza as alianças divina e humana, estruturou a história da salvação em pactos claros. A obra foi amplamente utilizada como livro-texto, influenciando instituições como o Seminário Teológico de Princeton até o final do século XIX, quando foi suplantada pela "Teologia Sistemática" de Charles Hodge. Outras obras significativas incluem "De Satisfactione Christi Disputationes" (1666), que defende a expiação substitutiva de Cristo, e "De Necessaria Secessione Nostra ab Ecclesia Romana" (1687), que justifica a separação protestante do catolicismo romano.
Turretin também desempenhou um papel central na redação do Consenso Helvético, elaborado com J. H. Heidegger, que reafirmou a ortodoxia de Dort contra o amiraldismo, uma doutrina que propunha uma expiação universal hipotética. Sua crítica ao amiraldismo baseava-se na convicção de que a expiação de Cristo é eficaz apenas para os eleitos, preservando a soberania divina na salvação. Como teólogo, ele combinava precisão lógica com uma exegese bíblica rigorosa, rejeitando concessões doutrinárias que, em sua visão, comprometiam a verdade do Evangelho. Sua influência se estendeu aos puritanos ingleses e americanos, sendo descrito por John Gerstner como o teólogo mais preciso da tradição calvinista, embora sua obra tenha sido pouco lembrada até a tradução inglesa recente de seus "Institutos".
Na questão do livre-arbítrio, Turretin desenvolveu uma doutrina que equilibra a soberania divina com a responsabilidade humana. Ele argumentava que, após a Queda, o homem reteve a faculdade da vontade, mas perdeu a capacidade de escolher o bem sem a graça divina. Em sua "Institutio", distingue seis tipos de necessidade — física, coerção, dependência de Deus, racional, moral e de evento —, considerando as quatro últimas compatíveis com a liberdade. Para ele, a liberdade não reside na indiferença da vontade, mas na espontaneidade racional, guiada pelo intelecto e pela vontade em conjunto. Sua abordagem incorpora a lógica aristotélica, distinguindo entre a necessidade do consequente e da consequência, mas rejeita a contingência sincrônica de Duns Scotus, enfatizando o ato soberano de Deus na conversão. Essa visão contrasta com o escotismo ao evitar qualquer noção de indiferença absoluta, mantendo a dependência da vontade humana da graça regeneradora.
A teologia de Turretin era profundamente cristocêntrica, centrada na obra redentora de Cristo como o mediador do pacto da graça. Ele via a Bíblia como a revelação infalível de Deus, e sua metodologia escolástica, embora rigorosa, servia à edificação da Igreja, não à especulação abstrata. Sua vida em Genebra, dedicada ao ensino e ao pastoreio, refletia sua convicção de que a teologia deve formar crentes fiéis à verdade divina. Apesar de sua oposição ao amiraldismo, ele evitava polêmicas pessoais, focando na clareza doutrinária. Sua morte em 1687 marcou o fim de uma era de ortodoxia reformada, mas suas obras continuaram a moldar a teologia protestante, especialmente em contextos acadêmicos onde a precisão e a fidelidade bíblica eram valorizadas.
O legado de Turretin reside em sua capacidade de sistematizar a teologia reformada com uma clareza que resistiu ao tempo. Seus "Institutos" permaneceram um pilar para teólogos que buscavam defender a ortodoxia calvinista contra desvios doutrinários. Sua ênfase na inspiração verbal e na predestinação influenciou o puritanismo e a teologia presbiteriana, enquanto sua abordagem ao livre-arbítrio ofereceu uma síntese que harmonizava soberania divina e agência humana. Embora eclipsado por figuras como Calvino, Turretin permanece uma testemunha da profundidade intelectual e da piedade que caracterizaram a Reforma, um teólogo cuja vida e obra exaltam a glória de Deus revelada em Cristo.