Francisco de Assis (1181–1226) nasceu em uma família abastada na pequena cidade italiana de Assis, no final do século XII. Seu nome de batismo era Giovanni, dado por sua mãe, mas seu pai, Pietro di Bernardone, um comerciante próspero que admirava a cultura francesa, alterou-o para Francesco, que pode ser interpretado como "homem livre" ou "francês". Essa mudança reflete não apenas o entusiasmo paterno pelas tradições galas, mas também o destino singular que aguardava o jovem Francisco. Durante sua juventude, ele viveu cercado por confortos materiais e sonhava com glórias mundanas, chegando até a participar de campanhas militares em busca de reconhecimento. No entanto, foi durante um período de prisão após uma batalha que ele começou a questionar o sentido de sua existência, iniciando uma transformação espiritual que culminaria em sua dedicação total à fé cristã.
A conversão de Francisco foi um processo gradual, marcado por experiências profundas e revelações divinas. Um dos episódios mais significativos ocorreu quando ele rezava diante de um crucifixo na igreja de São Damião, onde ouviu uma voz celestial instruí-lo a “reconstruir a Igreja”. Inicialmente, ele interpretou essa ordem de maneira literal, restaurando fisicamente igrejas em ruínas. Contudo, com o tempo, compreendeu que sua missão era muito mais ampla: revitalizar a dimensão espiritual da Igreja Católica, então enfrentando desafios internos e externos. Renunciando aos bens materiais e adotando uma vida de pobreza voluntária, Francisco tornou-se um exemplo vivo do Evangelho, pregando a humildade, a simplicidade e o amor incondicional a todas as criaturas.
Ao longo de sua vida, Francisco dedicou-se a difundir os valores do cristianismo de maneira acessível e prática. Ele fundou a Ordem dos Frades Menores, conhecida como Franciscanos, cujo carisma está enraizado na pobreza evangélica, na pregação itinerante e no serviço aos marginalizados. Além disso, inspirou Clara de Assis a fundar a Ordem das Clarissas, uma comunidade feminina que compartilhava os mesmos ideais de simplicidade e devoção. Sua abordagem pastoral era inclusiva e respeitosa, estendendo-se além dos seres humanos para abraçar toda a criação. Esse amor universal pela natureza é evidenciado em suas obras mais conhecidas, como o Cântico das Criaturas , um hino poético que celebra Deus por meio dos elementos naturais, expressando uma teologia ecológica antes de seu tempo.
Entre seus escritos mais notáveis estão o Cântico do Sol , composto nos últimos anos de sua vida, e suas Admoestações , reflexões espirituais destinadas a orientar seus seguidores na vivência da fé cristã. A Regra Não Bulada e a Regra Bulada são documentos fundamentais que estruturaram as bases doutrinárias e práticas da Ordem Franciscana, sendo esta última aprovada pelo papa Honório III em 1223. Em seus textos, Francisco demonstra uma profunda reverência pelas Escrituras, que ele interpretava de maneira simples e direta, sempre buscando aplicá-las ao cotidiano. Sua linguagem é ao mesmo tempo poética e acessível, refletindo sua convicção de que a mensagem cristã deve ser proclamada de forma clara para todos, independentemente de sua posição social ou formação intelectual.
No final de sua vida, Francisco recebeu os estigmas, marcas visíveis nas mãos, nos pés e no lado, associadas às chagas de Cristo na cruz. Esse evento místico consolidou sua reputação como um homem profundamente unido a Deus, cuja vida era um reflexo constante do sacrifício e do amor redentor de Jesus. Mesmo debilitado por doenças e sofrimentos físicos, ele continuou a pregar e a inspirar aqueles ao seu redor até sua morte em 1226. Seu legado transcendeu seu tempo, influenciando movimentos religiosos, culturais e até ecológicos ao longo dos séculos. Hoje, Francisco é venerado como santo pela Igreja Católica e é considerado um símbolo universal de paz, reconciliação e respeito à criação.
Além de sua importância histórica e espiritual, Francisco de Assis continua a inspirar comunidades inter-religiosas e ecumênicas, como o caso de Skanda Vale, no País de Gales, que se modela como uma ordem franciscana interconfessional. Sua vida e ensinamentos permanecem relevantes em um mundo marcado por desigualdades e crises ambientais, oferecendo uma visão alternativa baseada na simplicidade, no cuidado mútuo e na gratidão pela obra divina. Embora tenha vivido há quase oito séculos, sua mensagem ecoa com vigor renovado, lembrando-nos da urgência de viver em harmonia com Deus, com os outros e com toda a criação. Francisco encarna a essência do cristianismo primitivo, adaptando-a ao contexto medieval e deixando um testemunho perene de santidade e compromisso com o Evangelho.