George Whitefield (1714-1770), nascido em 27 de dezembro de 1714 em Gloucester, Inglaterra, e falecido em 30 de setembro de 1770 em Newburyport, Massachusetts, foi um pregador anglicano cuja oratória fervorosa e visão evangelística moldaram o Metodismo e o Primeiro Grande Despertar. Fundador do evangelicalismo moderno, ele abraçou o calvinismo, distinguindo-se teologicamente dos irmãos Wesley, com quem colaborou estreitamente. Sua habilidade de cativar multidões, pregando mais de 18.000 sermões para cerca de dez milhões de ouvintes no Império Britânico, fez dele uma figura central do século XVIII. Apesar de sua defesa da fé cristã, sua apoio à escravização em Geórgia, motivado por interesses econômicos e missionários, permanece uma contradição em seu legado. Whitefield integrou emoção e doutrina, oferecendo o Evangelho como um chamado universal à conversão pela graça divina.
Filho caçula de Thomas Whitefield e Elizabeth Edwards, donos de uma estalagem em Gloucester, George ficou órfão de pai aos dois anos, ajudando sua mãe no negócio. Desde jovem, revelou talento para o teatro, que mais tarde canalizou em pregações dramáticas, recriando histórias bíblicas com vivacidade. Educado na Crypt School, ingressou no Pembroke College, Oxford, em 1732, como servitor, desempenhando tarefas humildes para custear seus estudos. Em Oxford, uniu-se ao "Clube Santo", onde conheceu John e Charles Wesley, que o introduziram ao metodismo. Sua conversão, influenciada pela leitura de "A Vida de Deus na Alma do Homem" de Henry Scougal, revelou-lhe a necessidade de um novo nascimento pelo Espírito Santo, rejeitando a salvação por obras. Ordenado diácono em 1736 pelo bispo de Gloucester, pregou seu primeiro sermão na igreja de St Mary de Crypt, iniciando uma carreira itinerante que o levaria a parques, campos e colônias americanas.
A pregação de Whitefield, marcada por uma voz potente e um leve estrabismo que parecia fixar cada ouvinte, transformou a paisagem religiosa. Em 1738, visitou Savannah, Geórgia, onde fundou o Orfanato Bethesda, sua obra missionária central. Para financiá-lo, pregou incansavelmente, viajando sete vezes à América e cruzando o Atlântico 13 vezes. Em 1740, suas pregações no Primeiro Grande Despertar, especialmente em Nova Inglaterra, atraíram multidões de até 80.000 pessoas. Diferentemente dos wesleyanos arminianos, Whitefield defendia a predestinação e a soberania divina na salvação, conforme os Trinta e Nove Artigos anglicanos, mas enfatizava um convite universal: "Vem, pecador perdido, como estás, a Cristo." Sua estratégia incluía o uso de mídia impressa, com panfletos e jornais divulgados por William Seward, tornando-o uma das primeiras celebridades transatlânticas. Apesar de fundar a primeira conferência metodista, cedeu a liderança a John Wesley para focar na evangelização.
O Orfanato Bethesda, iniciado em 1740, reflete tanto a visão cristã de Whitefield quanto sua controversa relação com a escravização. Inicialmente crítico da crueldade contra escravizados, ele escreveu uma carta em 1740 condenando os maus-tratos. Contudo, entre 1748 e 1750, defendeu a legalização da escravização em Geórgia, proibida desde 1735, argumentando que era essencial para a prosperidade da colônia e a sustentabilidade do orfanato. Em 1751, com a legalização, adquiriu 49 escravizados e 4.000 acres de terra, que legou à condessa de Huntingdon após sua morte. Ele via a escravização como um meio de evangelizar, mas sua posição, comum entre missionários da época, contrastava com a denúncia de John Wesley contra a prática. Whitefield pregou a escravizados, e alguns, como Phillis Wheatley, o celebraram, mas sua teologia da providência divina justificava a instituição, um ponto de tensão em sua herança.
Whitefield enfrentou oposição significativa. Na Inglaterra, clérigos anglicanos o acusaram de fanatismo, criticando suas "Jornais" como blasfemos. Em 1739, o bispo de Londres, Edmund Gibson, publicou uma carta pastoral contra ele, enquanto na América, líderes congregacionais e acadêmicos de Harvard e Yale questionavam seu emocionalismo e julgamentos de inconversão. Ele também rompeu com os morávios e criticou os wesleyanos por divergências doutrinárias, embora mais tarde se reconciliasse com John Wesley. Sua relação com a condessa de Huntingdon, que o nomeou capelão e fundou capelas calvinistas, fortaleceu sua influência entre a nobreza. Apesar das controvérsias, Whitefield via a oposição como um sinal de alegria espiritual, afirmando que sua missão era global: "O mundo inteiro é minha paróquia."
A vida pessoal de Whitefield foi marcada por desafios. Em 1741, casou-se com Elizabeth Gwynne, uma viúva, mas o casamento foi infeliz, com Elizabeth raramente acompanhando suas viagens. Após quatro abortos, seu único filho morreu aos quatro meses, e Elizabeth faleceu em 1768. Whitefield expressou alívio, mas também saudade, após sua morte. Em 1770, apesar da saúde frágil, pregou seu último sermão em um campo, morrendo no dia seguinte em Newburyport. Enterrado sob o púlpito da Old South Presbyterian Church, teve seu funeral pregado por John Wesley, a seu pedido. Whitefield deixou um legado financeiro modesto, mas um impacto espiritual imenso, com igrejas, instituições e condados nomeados em sua honra. Sua oratória apaixonada, que evocava lágrimas com alusões a "Mesopotâmia", e sua inovação retórica, comparada ao teatro, transformaram a pregação, influenciando a ideologia republicana americana e consolidando-o como o maior pregador evangélico de sua era.