Irmão Lawrence (1614-1691), Nicolas Herman, conhecido como Frère Laurent de la Résurrection (Irmão Lourenço da Ressurreição), nasceu por volta de 1614 em Hériménil, no ducado de Lorena, e faleceu em 12 de fevereiro de 1691, em Paris. Irmão converso dos Carmelitas Descalços, sua vida foi marcada por uma espiritualidade profunda centrada na prática da presença de Deus, uma abordagem simples, mas transformadora, que ele transmitiu em cartas e conversas compiladas postumamente. Embora tenha exercido ofícios humildes, como cozinheiro e sapateiro, sua sabedoria espiritual atraiu figuras como Fénelon e ecoou além das fronteiras francesas, especialmente entre protestantes, influenciados por John Wesley. Suas obras, reeditadas até hoje, oferecem um modelo de santidade acessível, enraizado nas virtudes cristãs e na convivência contínua com o divino, que transcende barreiras confessionais.
Filho de uma família modesta em Hériménil, Nicolas viveu sua juventude em um Lorena devastado pela Guerra dos Trinta Anos. Aos 18 anos, uma experiência mística diante de uma árvore desnuda no inverno, que ele associou à renovação primaveril, despertou-lhe um profundo amor por Deus, descrito como um ser pessoal e amoroso. Esse momento moldou sua visão espiritual, marcada pelo desapego e pela confiança na providência. Optando inicialmente pela vida militar, alistou-se nas tropas do duque Carlos IV, mas foi gravemente ferido em 1635 durante o cerco de Rambervillers. Escapando da morte por duas vezes, abandonou a guerra em um Lorena assolado por fome e peste, buscando um novo caminho. Tentou a vida eremítica, mas, desiludido pela ausência de paz interior, mudou-se para Paris, onde trabalhou como lacaio para Gaspard III de Fieubet, conselheiro do rei.
Aos 26 anos, influenciado por um tio carmelita, Nicolas ingressou no convento dos Carmelitas Descalços na rua Vaugirard, adotando o nome Frère Laurent de la Résurrection. Em 1642, professou seus votos como irmão converso, dedicando-se a tarefas manuais, como cozinhar por 15 anos e, posteriormente, consertar sapatos. Apesar de sua posição humilde, reservava duas horas diárias para a oração, desenvolvendo uma espiritualidade que integrava o trabalho cotidiano à contemplação. Seus deveres o levaram a viagens longas, como à Borgonha e Auvergne, para suprir o convento, mas ele também recebia visitantes atraídos por sua sabedoria. O abbé Joseph de Beaufort, seu biógrafo, descreveu-o como um homem de aparência rústica, mas dotado de uma sabedoria singular, cuja afabilidade e clareza conquistavam a confiança de todos. Sua prática espiritual, centrada na presença constante de Deus, refletia a influência de Teresa de Ávila e João da Cruz, com ênfase nas virtudes teologais de fé, esperança e caridade.
A espiritualidade de Frère Laurent floresceu na simplicidade. Ele ensinou que a santidade não requer práticas complexas, mas um coração voltado para Deus em todos os momentos, tratando-o como um amigo íntimo. Durante o trabalho, ele mantinha Deus em seu coração, o que lhe trazia paz e alegria. Sua prática da presença divina consistia em renunciar a tudo que não conduzisse a Deus, conversar continuamente com Ele, pedir sua graça e oferecer cada ação em sua glória. Essa abordagem, descrita em suas "Máximas Espirituais" (1692) e "Costumes e Entrevistas" (1694), publicadas por Beaufort, enfatizava a oração como um diálogo natural, sem formalidades. Mesmo nos últimos anos, acometido por uma dolorosa ciática, Frère Laurent preservou sua serenidade. Em 1691, após uma breve recuperação de uma doença, faleceu tranquilamente após receber a unção dos enfermos, com a paz de quem vivia em união com Deus.
O impacto de Frère Laurent transcendeu sua vida modesta. Fénelon, que o citou em sua polêmica com Bossuet, foi profundamente influenciado por sua espiritualidade. Suas ideias, inicialmente eclipsadas na França por associações errôneas com o quietismo, ganharam projeção internacional, especialmente na América, onde suas obras foram traduzidas e adotadas por cristãos de diversas tradições, incluindo metodistas como Wesley. Sua ênfase no dever de estado e na oração contínua ressoou entre leigos e religiosos, católicos e protestantes, por sua universalidade. A prática da presença de Deus, que ele descreveu como um reconhecimento constante da proximidade divina, permanece um convite à santificação no cotidiano, enraizado na confiança nos méritos de Cristo. Frère Laurent, o "sapateiro de Deus", legou ao mundo cristão um testemunho de que a verdadeira comunhão com Deus se encontra na simplicidade e na entrega total à sua vontade.