J. C. Ryle (1816-1900), John Charles Ryle, nascido em 10 de maio de 1816, em Macclesfield, Inglaterra, e falecido em 10 de junho de 1900, em Lowestoft, foi um pastor anglicano cuja dedicação à fé evangélica e à literatura cristã o tornou uma figura central na Igreja de Inglaterra do século XIX. Como escritor prolífico e líder eclesiástico, Ryle defendeu os princípios reformados com clareza e convicção, enfrentando os desafios teológicos de sua era, como o Movimento Tractariano e a teologia liberal. Sua vida, marcada por perdas pessoais e uma saúde frágil, foi sustentada por uma espiritualidade profunda, que ele expressou em sermões, tratados e livros que continuam a influenciar leitores além de seu tempo. Embora pouco reconhecido fora dos círculos anglicanos durante sua vida, seu legado cresceu, consolidando-o como um dos grandes expoentes do evangelicalismo britânico.
Filho de John Ryle, um banqueiro e parlamentar, e de Susanna Hurt, Ryle cresceu em um ambiente de riqueza e prestígio social. Educado em Eton College, ingressou na Universidade de Oxford em 1834, onde se destacou academicamente, conquistando a bolsa Craven em 1836 e graduando-se com distinção em literae humaniores em 1838. Recebeu o título de Mestre em Artes em 1871 e Doutor em Divindade em 1880. Durante seus anos em Oxford, envolveu-se em esportes como remo e críquete, mas uma infecção pulmonar grave aos 21 anos o levou a um período de introspecção. Nesse confinamento, redescobriu a Bíblia, que havia negligenciado, e a leitura de Efésios 2:8 — “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé” — desencadeou uma conversão espiritual que redirecionou sua vida. A falência de seu pai em 1841, que frustrou suas aspirações políticas, o conduziu ao ministério eclesiástico, ordenando-se sacerdote aos 25 anos.
Ryle iniciou sua carreira pastoral em paróquias como Exbury, Winchester e Helmingham, onde se destacou como pregador apaixonado, inspirado pelos reformadores do século XVI, puritanos do século XVII e líderes como John Wesley. Sua abordagem, fundamentada no estudo das Escrituras e da história eclesiástica, enfatizava a salvação pela graça e a necessidade de uma fé viva. Em Helmingham, começou a escrever panfletos que, com o tempo, evoluíram para livros e comentários teológicos. Sua produção literária, que inclui obras como “The Christian Leaders of the Last Century” (1869) e “Principles for Churchmen” (1884), reflete um compromisso com a clareza doutrinária e a edificação espiritual, abordando desde biografias de figuras como Richard Baxter e George Whitefield até questões práticas de fé e governo eclesiástico. Como bispo de Liverpool, cargo que assumiu em 1880, Ryle promoveu o evangelicalismo, enfrentando com firmeza, mas com caridade, as tendências liberais e anglo-católicas de sua época.
A vida pessoal de Ryle foi marcada por desafios e perdas. Casou-se três vezes: primeiro com Matilda Plumptre em 1845, com quem teve uma filha, mas ela faleceu prematuramente; em 1850, com Jessy Walker, que morreu após seis meses devido a problemas de saúde; e, em 1861, com Henrietta Clowes, com quem formou uma família estável e compartilhou uma fé profunda. Além das perdas de suas esposas, Ryle enfrentou a morte de sua mãe, irmão e irmã, bem como a dor de ver seus filhos se afastarem da fé evangélica. Sua saúde, debilitada desde jovem por problemas pulmonares, exigiu resiliência, mas não diminuiu seu zelo ministerial. Como pastor, ele equilibrava a administração paroquial com o cuidado pastoral, mantendo uma relação próxima com seus fiéis e uma rotina disciplinada de estudo e escrita.
Nomeado bispo de Liverpool aos 64 anos, uma escolha surpreendente devido à sua idade, Ryle serviu por duas décadas, deixando uma marca indelével. Seu lema, “em essência unidade, em não essência liberdade, em todas as coisas caridade”, guiava sua abordagem pastoral, que combinava firmeza doutrinária com empatia. Ele se opôs vigorosamente ao Movimento Tractariano, liderado por John Henry Newman, e à influência da teologia liberal alemã, defendendo a autoridade das Escrituras e a centralidade da cruz. Contemporâneo de figuras como Charles Spurgeon e George Müller, Ryle contribuiu para o avivamento evangélico, promovendo uma fé prática e acessível. Suas obras, que abordam desde a história da Reforma até questões espirituais contemporâneas, ganharam popularidade póstuma, sendo valorizadas por sua clareza e fidelidade bíblica.
O legado de Ryle transcende sua era, refletido na duradoura relevância de seus escritos e na inspiração que oferece a cristãos evangélicos. Sua vida exemplifica a integração de erudição, espiritualidade e serviço, demonstrando como a fé pode sustentar um indivíduo em meio a adversidades. Sepultado em Liverpool, Ryle deixou um testemunho de dedicação à verdade evangélica, moldando a Igreja de Inglaterra com uma visão que continua a ressoar em leitores e igrejas ao redor do mundo.