Keith Green (1953-1982) nasceu em 1953, no bairro de Sheepshead Bay, em Brooklyn, Nova York. Oriundo de uma família judaica que posteriormente adotou o Cristadelfianismo, ele cresceu em um ambiente permeado por valores morais rigorosos e livre das influências de álcool ou drogas, algo que sua esposa Melody mais tarde creditaria como tendo exercido um papel preservador em sua juventude. Desde a infância, demonstrou um talento precoce para a música, iniciando-se no ukulele aos três anos, na guitarra aos cinco e no piano aos sete. Seu potencial artístico chamou a atenção do público ainda criança, quando, aos oito anos, encantou plateias com sua atuação teatral em uma produção local de The Time of the Cuckoo . Sua carreira musical começou a ganhar forma aos onze, quando assinou um contrato de cinco anos com a Decca Records, tornando-se o membro mais jovem da ASCAP (American Society of Composers, Authors, and Publishers). Apesar do sucesso inicial e das expectativas de se tornar um ídolo adolescente, a trajetória de Green no mundo secular foi eclipsada pela ascensão de outros artistas, levando-o a questionar seus propósitos e buscar respostas em outras direções.
A adolescência de Keith foi marcada por uma busca espiritual intensa, alimentada pela leitura do Novo Testamento e influenciada por suas raízes judaicas. Esse período de exploração incluiu incursões pelo misticismo oriental e pela cultura da "liberdade amorosa", mas também um envolvimento com substâncias psicotrópicas, na esperança de encontrar verdades transcendentais. Após anos de exploração infrutífera, ele retornou ao cristianismo em 1972, registrando em seu diário: "Jesus, você é oficialmente bem-vindo em mim." Essa conversão marcou o início de uma transformação radical em sua vida, tanto pessoal quanto artística. Em 1973, casou-se com Melody Steiner, uma compositora igualmente comprometida com a fé cristã. Juntos, eles mergulharam profundamente no estudo bíblico e começaram a compartilhar sua fé com outros, participando de grupos de estudo bíblico e cultos voltados à adoração centrada em Jesus.
Ao longo dos anos seguintes, os Greens abriram sua casa em Los Angeles para acolher pessoas em necessidade, desde dependentes químicos em recuperação até prostitutas, jovens grávidas e sem-teto. O que começou como um ministério informal em sua pequena residência suburbana expandiu-se para várias casas no mesmo bairro, criando um ambiente de discipulado prático e estudos bíblicos. Em 1977, formalizaram esse trabalho como Last Days Ministries, uma organização sem fins lucrativos dedicada a alcançar pessoas com o evangelho de Cristo. Keith via sua música como uma extensão desse ministério, utilizando-a como uma ferramenta para chamar os ouvintes ao arrependimento e a uma vida de compromisso integral com Deus. Suas apresentações eram conhecidas por combinar adoração, ensino bíblico e exortações diretas, frequentemente inspiradas pelos escritos de Charles Finney e pelas reflexões de amigos como Winkie Pratney e Leonard Ravenhill.
Green assinou com a Sparrow Records em 1976, lançando seu primeiro álbum solo, For Him Who Has Ears to Hear, em 1977. O trabalho foi aclamado e liderou as paradas de música cristã contemporânea. Seu segundo álbum, No Compromise (1978), refletia seu desejo de ver os cristãos abandonarem a complacência e viverem de maneira fiel aos ensinamentos de Jesus. A partir de 1979, ele adotou uma abordagem inovadora ao rejeitar a comercialização de sua música, oferecendo álbuns como So You Wanna Go Back to Egypt (1980) por um preço determinado pelos próprios compradores, incluindo a opção de recebê-los gratuitamente. Para financiar essas iniciativas, ele e Melody chegaram a hipotecar sua casa, acreditando que o evangelho não deveria ser comercializado. Essa postura gerou controvérsias dentro da indústria gospel, mas também solidificou sua reputação como alguém que vivia consistentemente com suas convicções.
O ministério dos Greens continuou a crescer, levando-os a se mudar para uma propriedade rural em Garden Valley, Texas, em 1979. Ali, expandiram suas operações para incluir um alcance ainda maior de atividades missionárias e discipulado. Keith tornou-se um defensor fervoroso do envolvimento de todos os cristãos no trabalho missionário, enfatizando a importância de experimentar ao menos parte dessa vocação durante a vida. Sua visão teológica amadureceu ao longo dos anos, refletindo um equilíbrio entre a santidade de Deus e a graça incondicional oferecida por meio de Cristo. Essa transição ficou evidente em suas composições posteriores, que combinavam convicção doutrinária com um tom pastoral de encorajamento.
Tragicamente, a vida de Keith foi interrompida em 1982, quando um acidente aéreo ocorrido em sua propriedade ceifou sua vida, juntamente com a de dois de seus filhos e outras nove pessoas. Embora sua morte tenha sido um golpe devastador para sua família e seguidores, Melody Green assumiu a liderança do ministério, garantindo que o legado de Keith continuasse vivo. Além de seus álbuns póstumos, suas reflexões foram publicadas em livros como A Cry in the Wilderness e Make My Life a Prayer, enquanto tributos musicais de artistas contemporâneos celebraram sua influência duradoura.
O impacto de Keith Green transcendeu sua breve existência, deixando um legado indelével na música cristã e no movimento missionário. Sua abordagem inovadora de distribuição gratuita de materiais e sua ênfase na integridade espiritual continuam a inspirar novas gerações de cristãos. Reconhecido postumamente no Gospel Music Hall of Fame e homenageado com o ASCAP Crescendo Award, ele é lembrado não apenas como um músico talentoso, mas como um homem cuja vida foi dedicada a apontar outros para Cristo. Seus escritos e composições permanecem como testemunhos poderosos de sua paixão por ver o evangelho transformar vidas, uma herança que continua a ecoar décadas após sua partida